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Fernando J. Regateiro

O “problema” da Senhora Presidente

21 abr, 2014

Se os “capitães de Abril” tivessem pensado como um dos deputados da maioria PSD, ainda hoje estaríamos no 24 de Abril. E, por certo, D. Afonso Henriques não teria fundado Portugal!

Os problemas perseguem Assunção Esteves, como presidente da Assembleia da República. Desta vez, o “problema” surgiu com a recusa dos “capitães de Abril” comparecerem na sessão solene comemorativa dos 40 anos do 25 de Abril, se não lhes fosse permitido usar da palavra.
Para a Senhora Presidente, tal ausência era “um problema deles", num trato sem respeito por “eles” e pela função que desempenha!

Contudo, não será um caso perdido – as suas movimentações, após o deslize, indiciam que terá percebido que o problema reside em si mesma. E foi vê-la a correr para a sede da Associação 25 de Abril, não fossem os militares dizer, para a porta do Parlamento, o que gostariam de dizer lá dentro. Foi, ainda, ouvi-la em acto de fé – “para que não haja confusões: as diferentes interpretações sobre o que quer que seja não podem perturbar a opinião pública e a relação inquebrantável entre o criador, que são capitães, e a criação, que é o Parlamento”. E foi percebê-la a sacudir a água do capote, fazendo saber, pelo seu gabinete, que, da reunião com representantes das bancadas parlamentares não tinha resultado o “consenso necessário” para que os “capitães” falassem.

Tanto esforço a posteriori, quando teria bastado bom-senso. Ou a “criação” de uma excepção, que nem seria a primeira! Afinal, as excepções existem para assinalar momentos ou actos excepcionais!... E o 25 de Abril é excepcional!

Se os “capitães de Abril” tivessem pensado como um dos deputados da maioria PSD – para quem o modelo actual das intervenções na Assembleia da República "está bem como está" –, ainda hoje estaríamos no 24 de Abril. E, por certo, D. Afonso Henriques não teria fundado Portugal!

O real problema, Senhora Presidente e Senhor Deputado, é bem mais grave – reside na captura da democracia pelos formalismos imobilistas.

E, logo, na transformação de meros meios postos ao serviço da vivência democrática, em fins de intocável nobreza!...