O grande inimigo de Erdogan é hoje um antigo aliado: um clérigo que chefia um movimento que já tem cerca de cinco milhões de seguidores. E a democracia recua.
Fortalecido pela vitória do seu partido nas recentes eleições locais, o primeiro-ministro turco Erdogan está a endurecer as medidas repressivas e anti-liberais contra os seus opositores. Nem a internet escapa.
A oposição que mais incomoda Erdogan não são os curdos, que não têm uma pátria própria e mantêm uma guerrilha contra o Estado turco. Nem são os militares, herdeiros do laicismo de Ataturk e que discordam do islamismo (ainda que moderado) do primeiro-ministro. Os militares protagonizaram vários golpes de Estado na Turquia, desde há meio século.
O grande inimigo de Erdogan é, hoje, F. Gullen, um antigo aliado. Este clérigo sunita, de 73 anos, a viver nos Estados Unidos, chefia um movimento semi-clandestino, que contará com cerca de cinco milhões de seguidores. Possui jornais, escolas, instituições de solidariedade, etc.
O movimento de Gullen terá infiltrado o Estado, incluindo as polícias e a justiça. Daí terão partido as acusações de corrupção a Erdogan e seus próximos, às quais este responde com saneamentos maciços. A democracia recua na Turquia.