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Fernando J. Regateiro

O garrote da dívida e o manifesto

13 mar, 2014

O que custa, talvez ainda mais do que a austeridade, é não se ver como iremos gerar saldos primários positivos que permitam amortizar dívida.

Compreende-se que queiramos acabar com a austeridade e que, mal informados, vejamos, na saída da “troika”, a saída dos “tiranos”! Só que, tudo será pior, se assim pensarmos e dermos crédito aos vendilhões de “ilusões” com fitos eleitorais, que já acenam com reduções de impostos ou com a reposição de alguns dos cortes salariais.

Se nada fizermos, não nos libertaremos do excesso de austeridade, nem até 2035, nem “nunca”! No horizonte, já há mais 2.000 milhões de euros de sacrifícios ditados pela “troika” antes de sair, e as condicionalidades externas ditadas pelos credores vão manter-se, para acautelar os seus interesses.

O que custa, talvez ainda mais do que a austeridade, é não se ver como iremos gerar saldos primários positivos que permitam amortizar dívida!
 
É certo que houve ténues sinais de retoma e que, sem os juros, estaríamos equilibrados, mas é preciso ter presentes as dolorosas razões para tal. É certo que, até agora, temos tido crédito a juros bem menores do que em 2011, embora ainda altos! E é ainda certo que a balança de transacções está, momentaneamente, equilibrada! Contudo, é preciso muito mais!

Porque, no outro prato da balança, temos um garrote “monumental” ao crescimento económico e de emprego: os juros, uma dívida insustentável, a falta de reforma do Estado, mais pobreza, mais degradação da coesão social, 120 mil portugueses que emigram por ano, a redução para um terço do saldo do investimento directo estrangeiro, em 2013.

Preocupa-me o garrote e o seu continuado apertar, até um eventual estertor! É urgente outro pensar, outra atitude. Preocupação e urgência que esteve, seguramente, na mente e na pena dos 70 notáveis subescritores do “Manifesto”. Daqui os saúdo e daqui assino também, com gosto, o manifesto "Preparar a reestruturação da dívida para crescer sustentadamente".