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Francisco Sarsfield Cabral

Os mercados e o pequeno-almoço

13 jan, 2014 • Francisco Sarsfield Cabral

Somos dados a sentimentos extremos: ora somos os melhores do mundo, ora um povo incapaz. O fim do programa de ajustamento será positivo, mas não nos irá livrar de décadas de austeridade e de soberania limitada. E se os mercados não confiarem em nós, poderemos ficar sem pequeno-almoço.

Há um ano, toda a esquerda, incluindo gente da área do PS, garantia que não escaparíamos, como a Grécia não escapou, a um segundo resgate. Agora discute-se se devemos ou não pedir um programa cautelar, algo diferente (é uma rede de segurança a que Portugal poderá recorrer em caso de necessidade).

Como somos dados a sentimentos extremos – ora somos os melhores do mundo, ora um povo incapaz – convirá não alimentar expectativas excessivas sobre o fim do programa de ajustamento negociado com a União Europeia e o FMI.

Será positivo, mas não nos irá livrar de décadas de austeridade e de soberania limitada. É o destino de quem se endivida ao ponto em que Portugal se endividou, no Estado, nas empresas e nas famílias.

Durante longos anos precisaremos de financiamento externo. Se os investidores se convencerem de que iremos pagar, dar-nos-ão crédito a juro razoável. Caso contrário, passaremos por enormes dificuldades.

Os portugueses não comem mercados ao pequeno-almoço, disse a líder do Bloco Catarina Martins. Mas se os mercados não confiarem em nós, poderemos ficar sem pequeno-almoço.