Fora de tempo

O Governo pretende cortar 15% nas subvenções vitalícias dos políticos. Por outro lado, na função pública a austeridade recai principalmente sobre os elementos mais qualificados. Estas medidas, sobretudo a primeira, visam repartir com justiça os sacrifícios necessários ao ajustamento da economia e das finanças portuguesas.

Entende-se a necessidade de carregar nos que têm mais rendimentos na actual fase de emergência nacional. Mas importa não perder de vista o interesse nacional a longo prazo.

É do nosso interesse que quem trata dos assuntos de todos nós seja bem remunerado. De contrário, fica mais susceptível a tentativas de corrupção; e os melhores tendem a não aceitar cargos públicos.

Resultado: seremos pior governados e administrados. É hoje difícil encontrar pessoas de qualidade que aceitem ir para o Governo. E precisamos de uma administração pública com menos gente mas mais qualificada.

Dizer isto agora, quando a hostilidade aos políticos está em alta na nossa sociedade, não será popular. Mas esta crónica fora de tempo é um alerta para o futuro.