Um Deus de Surpresas

Toda a história de Israel, narrada nas Sagradas Escrituras e que culmina na vida de Jesus, é a história da relação de um povo com um Deus que não pára de surpreender.

Ele não se manifesta em primeiro lugar a um rei ou a um sacerdote, mas a um pastor nómada, Abraão. Faz-lhe uma promessa tão absurda que Sara, a sua mulher, se ri na cara do Senhor. Mas o riso da idosa transforma-se numa criança: Isaac.

Este é o Deus que, quando chegou a altura de enviar alguém falar ao todo poderoso o Faraó mandou um gago; que quando chega a altura de mostrar a sua força escolhe uma criança para derrotar um gigante. Este é o Deus que se fez nascer no meio da pobreza para nos dar a maior das riquezas e que no seu primeiro milagre público entre os homens não dá de comer a multidões nem põe fim à guerra, mas faz fluir o vinho para animar um casamento.

O Deus que se deixa matar e reaparece passados três dias para mostrar que a morte nada tem sobre Ele. É o Deus das surpresas, como bem recordou o Papa Francisco no Santuário de Nossa Senhora Aparecida.

O problema é que passados dois mil anos as surpresas bíblicas já não mexem connosco. Esquecemos o quão chocante era aquele homem naquele meio, porque aquele homem mudou o meio, para sempre. Fechamos os ouvidos e os corações às surpresas e não as conseguimos distinguir no meio da monotonia do nosso dia-a-dia. O Papa não nos tinha alertado, na chegada ao Rio, para cuidarmos dos nossos olhos? Será que vemos as surpresas que Ele nos reserva?

Neste ano que tem sido tão negro para Portugal, sem grande luz ao fundo do túnel, quando cada surpresa económica ou política parece ser uma má surpresa, aceitemos o desafio de Francisco e confiemos. Não se trata só de acreditar, é preciso mesmo confiar. Dizer que Ele não só existe, mas que é existe e é capaz.

Façamos a experiência e vejamos que nada nos faltará. Ele não nos desilude. Pode ser da forma mais inesperada, mas que querem? O Deus das surpresas é assim.