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Francisco Sarsfield Cabral

A gaveta e o socialismo

04 jun, 2013 • Francisco Sarsfield Cabral

O que Mário Soares dizia há 30 anos, quando o FMI impunha aos portugueses uma dura austeridade, não andava longe do que, hoje, diz o Governo PSD-CDS. Agora, Soares procura consensos com aqueles que, em 1975, vigorosamente combateu.

No seu último comentário no Jornal da Noite da SIC, no sábado, Marques Mendes fez uma coisa que nós, jornalistas, já deveríamos ter feito: mostrou afirmações de Mário Soares quando era primeiro-ministro e o FMI impunha aos portugueses uma dura austeridade.

O que Soares então dizia não andava longe daquilo que, hoje, diz o Governo PSD-CDS. Há 30 anos, multiplicavam-se os salários em atraso, aplicavam-se impostos retroactivamente, havia manifestações de protesto com bandeiras negras, etc.

Mas Mário Soares defendia que o apertar do cinto era indispensável à sobrevivência do país.

Agora, Soares toma atitudes totalmente opostas. E procura consensos com aqueles que, em 1975, vigorosamente combateu, comunistas e extrema-esquerda. Aliás, a viragem à esquerda de Soares começou há anos, quando minou Guterres e se distanciou da “terceira via” de Blair.

Soares tinha metido o socialismo na gaveta. Uma vez estabilizada a democracia em Portugal, talvez tenha decidido apagar aquele seu “pecado”, tirando o socialismo da gaveta, agora sem grandes riscos de uma ditadura de esquerda.