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Opinião

Não pagamos?

12 abr, 2011 • Francisco Sarsfield Cabral

Na Islândia, país que não está no euro e tem apenas 320 mil habitantes, os cidadãos recusaram em referendo que os contribuintes pagassem a enorme dívida de um banco islandês a clientes estrangeiros, britânicos e holandeses, sobretudo.

Entre nós, o resultado do referendo islandês animou as vozes, em geral de esquerda, a favor de Portugal não pagar aos credores, afrontando os mercados e os banqueiros. É uma ideia curiosa. Aliás, em 1892 deixámos de pagar parte da dívida externa, porque esgotámos os recursos.

O que os defensores dessa ideia não explicam é como iríamos, então, pagar aos funcionários públicos, importar petróleo e cereais, etc., etc. Portugal tem há muitos anos um défice nas contas com o estrangeiro à volta dos 10% do PIB. Agora baixou ligeiramente, mas ainda excede os 8%. Quer dizer, gastamos acima do que produzimos, cobrindo o que falta com crédito externo.

Se esse crédito externo secasse de repente, como aconteceria se deixássemos de o pagar afrontando os credores, a economia em Portugal praticamente paralisava. Seria uma tragédia sem paralelo na nossa história.