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Projectos com rodas para andar

14 abr, 2014 • Nélia Fernandes e João Pedro Vitória

Uma receita com sete mil anos, gelados com “topping” de cultura e arte e uma biblioteca ambulante são alguns dos negócios que andam pelas ruas de Lisboa.

Em plena crise económica, há projectos que andam sobre rodas. Na cidade de Lisboa são cada vez mais os casos em que são usadas carrinhas ou outros veículos em alternativa às lojas tradicionais.

As propostas são várias e vão desde iogurtes gregos, livros com obras portuguesas traduzidas a gelados com um “topping” de cultura e arte. A Yonest, a Tell a Story e o Pátio Ambulante são três projectos com rodas para andar.

"Pôr rodas nos livros" de autores portugueses
O azul claro da carrinha a Renault Estaffete de 1977 é o chamariz para a verdadeira alma da Tell a Story: uma livraria ambulante que quer dar a conhecer obras da literatura portuguesa traduzida aos turistas que passeiam pela cidade.

Os amigos Domingos Cruz e de Francisco Antolin tiveram a ideia há cerca de dois anos.

“Vivemos no estrangeiro e sempre gostámos de livros. Quando os nossos amigos vinham visitar-nos a Portugal, falávamos sempre da nossa literatura. Tentávamos oferecer um livro de cá, mas era difícil de encontrar porque havia muito poucos livros traduzidos de autores portugueses”, conta Francisco Antolin, de 34 anos.

Com a ajuda de um terceiro amigo, João Correia Pereira, a carrinha foi para a rua em Junho de 2013.

“Achámos bem pôr rodas nos nossos livros”, diz Francisco Antolin, que assume que o Príncipe Real é a zona preferida para estacionar a carrinha, porque “é um lugar simpático e tem um jardim onde as pessoas se quiserem podem ir ler um livro”. Contudo, a Tell a Story também já andou pela zona de Belém e pelas colinas do Castelo de São Jorge.

Nas prateleiras, há livros com obras traduzidas de Eça de Queirós a José Luís Peixoto, passando por José Saramago, Fernando Pessoa ou António Lobo Antunes.

“A nossa livraria é como se fosse um carro de divulgação da literatura portuguesa, sem querer ser pretensioso”, conclui Francisco Antolin.

Receita com sete mil anos
Junto a um triciclo estacionado na Praça Duque de Saldanha, há um Yogurtman que vende iogurtes gregos artesanais da marca Yonest.

Dois jovens empresários, Filipe Botto e Francisco Vilhena, pegaram na receita de iogurte da Grécia Antiga, com 7 mil anos, e transformaram-na num negócio. A marca nasceu a 1 de Dezembro de 2013.

Os iogurtes gregos da Yonest são caseiros, não levam natas e têm menos 40% de gordura. À base de iogurte podem-se juntar frutas, cereais ou até mesmo pedaços do “melhor bolo de chocolate do mundo”.

“As pessoas podem consumir o nosso iogurte ao longo de todo o dia: ao pequeno-almoço ou a meio da manhã com um sabor mais frutado, um snack de atum com umas tostas ou com um pedaço de pão ao almoço, ou então no final de uma refeição o Yonest de chocolate como sobremesa”, explica Filipe Botto.

E como a Yonest é móvel, pode existir em qualquer lugar. Além do quiosque na Praça Duque de Saldanha, também fazem vendas ao domicílio e pretendem estacionar a Yonest noutras zonas.

Gelados com “topping” de cultura e arte
A associação cultural FRAME 408 foi à Alemanha buscar um carro de bombeiros dos anos 70 e tornou-a na imagem de marca do Pátio Ambulante. A ideia do projecto surgiu no final do ano de 2012.

“Desenvolvemos uma ideia que propunha explorar pátios, praças e largos como plataformas abertas a novos programas culturais através da instrumentalização de uma carrinha de bombeiros antiga”, conta a co-fundadora Gabriela Salazar, de 31 anos.

O Pátio Ambulante percorre vários pontos da cidade de Lisboa e promove actividades culturais e recreativas.

“Temos tudo dentro do carro de bombeiros. Chegamos ao local, abrimos as portas e sai tudo cá para fora. Tentamos que o espaço se transforme numa sala de estar para as pessoas se sentarem e assistirem a concertos e a outros tipos de actividades”, descreve a co-fundadora Ana Salazar, de 23 anos.

Além disso, também vendem gelados artesanais. “Os nossos gelados são de iogurte natural e leva coberturas: doces, chocolates, frutas, etc.”, diz Gabriela Salazar.

O carro de bombeiros permite copiar as intervenções - que serão retomadas em Junho - de um sítio para o outro.