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Político angolano acusa “alguns governantes” portugueses de subserviência a Luanda

11 abr, 2014

Críticas de Pinto de Andrade estendem-se às posições assumidas no seio da CPLP, defendo que a organização não pode continuar a legitimar o poder de ditadores.

O líder do Bloco Democrático, partido angolano, acusou "alguns governantes portugueses" de subserviência a Luanda, afirmando que os problemas nas relações bilaterais resultam de 500 anos de colonialismo que subsistem ao fim de 40 anos de separação.

"A relação Portugal-Angola é resultado de 500 anos de colonialismo que não conseguiram ser apagados em 40 anos pós-colonialismo", disse Justino Pinto de Andrade, em entrevista à agência Lusa, em Lisboa.

Para o presidente do Bloco Democrático (BD), têm sido os angolanos a apelar a esse passado colonial, mas apenas quando lhes interessa. "Quando há algum problema em que Portugal esteja envolvido, lá vamos buscar a história do colono, mas depois vimos para aqui, estamos bem, inclusivamente fazemos investimentos e parcerias, mas nessa altura já não há colonialismo", ironizou.

Questionado sobre o papel de Portugal, defendeu que "da parte de alguns governantes portugueses há relações de subserviência que podiam ser evitadas", embora afirme compreender em parte essas posições.

Erro pode reflectir-se na comunidade emigrada
Recordando haver 130 mil portugueses em Angola, contingente que Portugal "não estaria preparado para receber para engrossar a lista de pessoas com dificuldades", o economista angolano disse perceber que "qualquer erro que seja cometido" se pode reflectir na comunidade portuguesa emigrada. No entanto, lembrou que "também há o reverso da medalha e, se houvesse repressão dos portugueses lá, também há angolanos cá e interesses angolanos cá".

Seja como for, o líder do BD defendeu que os governantes portugueses devem ter uma "postura menos subserviente, mais respeitadora dos portugueses, sobretudo da sua dignidade, porque não podem ser tratados como pessoas que andam de um lado para outro à procura de poiso".

As críticas de Pinto de Andrade aos políticos portugueses estendem-se ainda às posições assumidas no seio da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Defende que a organização não pode continuar a legitimar o poder de ditadores, como se prepara para fazer ao aceitar a entrada da Guiné Equatorial só porque o seu presidente anunciou a suspensão da pena de morte.

O país já foi recusado duas vezes, mas se agora entrar – diz o político – é a descredibilização total da CPLP.

Criado em 2010, o BD é herdeiro da extinta Frente para a Democracia (FpD) e pugna pela democracia e pela justiça social, sendo seu objectivo maior "fazer de Angola uma potência económica de dimensão atlântica para enriquecer os angolanos", instaurando um regime de liberdade, num Estado Social de Direito, segundo o blogue oficial do partido.