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Ribeiro Cristóvão

Apoios e assobios

13 fev, 2015

As ofensas dirigidas a jogadores e árbitros, o lançamento de petardos, a exibição de cartazes provocatórios, constituem exactamente isso, um problema cultural que, infelizmente, não é exclusivo português, mas tende a acentuar-se entre nós.

Um tema que está bem no centro da actualidade prende-se com as claques e com as diversas formas como reagem face ao comportamento das suas equipas favoritas, muitas vezes destituídas de sentido e susceptíveis até de contrariar a razoabilidade de cada momento.

De um modo geral, as claques apresentam contornos diferentes consoante o país de que são originárias. O que se passa em Portugal, por exemplo, não é visto na maior parte dos países europeus. Ou seja, não há grupos de uma imensa vastidão enquadrados por agentes policiais, que os conduzem durante determinados percursos até à entrada ou desde a saída dos estádios. E convenhamos que este processo e tudo quanto lhe dá origem não constitui carta abonatória para qualquer deles, além de custar milhões de euros ao erário público.

Dir-se-á que esta é uma forma de prevenir ou mesmo evitar confrontos, mas trata-se sobretudo, de um problema cultural. Que se agrava ainda mais quando, dentro dos estádios, decorrem os desafios de futebol. As ofensas dirigidas a jogadores e árbitros, o lançamento de petardos, a exibição de cartazes provocatórios, constituem exactamente isso, um problema cultural que, infelizmente, não é exclusivo português, mas tende a acentuar-se entre nós.

Na Inglaterra, por exemplo, estes comportamentos não são visíveis, mesmo nos momentos em que as situações poderiam proporcionar alterações comportamentais. Essa questão foi resolvida já há muito tempo no país que “inventou” os hooligans e que por via deles deixou memória de alguns dos mais lamentáveis incidentes de que todos temos memória. Mas que também foi capaz de os exterminar.

Um caso curioso aconteceu ali recentemente: em jogo disputado em Old Trafford, os adeptos do Manchester United descontentes com a sua exibição, assobiaram a equipa no intervalo do jogo com o Burnley, o que levou o técnico Van Gaal a manifestar a sua estranheza, por se tratar da primeira vez que tal acontecia. 

Por cá, infelizmente, vai-se muitas para além dos assobios, conduzindo o inconformismo por  exibições e resultados a patamares inaceitáveis.

Faltarão ainda muitos anos até ser possível assistir a um jogo em Portugal em moldes iguais aos que se praticam na Inglaterra. Infelizmente.