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Fora da Caixa

Vitorino arrasa EUA sobre as Lajes. "Um aliado fiável não trata outro aliado desta maneira"

30 jan, 2015 • José Pedro Frazão

A redução da presença militar americana nas Lajes merece críticas de dois possíveis candidatos à Presidência. Santana Lopes e António Vitorino salientam que Washington não mudou a sua posição inicial, apesar dos esforços negociais portugueses.

Vitorino arrasa EUA sobre as Lajes. "Um aliado fiável não trata outro aliado desta maneira"
António Vitorino critica "a maneira como o Governo norte-americano tratou do assunto". Santana Lopes acredita que "se algo mais não foi feito deve-se a uma crença de boa fé" por parte dos Estados Unidos. Declarações no "Fora da Caixa" desta sexta-feira.

Um dos socialistas com melhores sondagens na corrida a Belém, António Vitorino, critica duramente a forma como os Estados Unidos geriram o processo que culminou com o anúncio da redução da presença americana na base militar das Lajes, Ilha Terceira, Açores.

"O que acho censurável neste caso é a maneira como os americanos trataram deste assunto. Depois de terem tomado uma decisão contestada pelo governo português e manifestado disponibilidade para encontrar uma solução, a solução final acaba por ser exactamente igual aquela que tinham aprovado à cabeça. Isso obviamente tem um impacto negativo", afirma o antigo ministro da Defesa no programa "Fora da Caixa" desta sexta-feira (para ouvir depois das 23h00 na Renascença).

O que fazer agora? "Explicar o nosso profundo desagrado e rever todo o acordo de defesa à luz desta atitude. Um aliado fiável não trata outro aliado desta maneira. Houve negligência e incúria. Não levaram suficientemente a sério aquilo que é o impacto profundamente negativo de uma decisão destas nos Açores", critica Vitorino.

Também o antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes confessa que não esperava esta "reviravolta".

Santana Lopes, dado igualmente como possível candidato presidencial, diz que o Governo "e também a oposição que partilha as mesmas concepções estratégicas no geral" confiaram nas boas relações com os norte-americanos.

Se algo mais não foi feito, diz Santana, deve-se ao facto de os portugueses terem acreditado "na boa fé da relação com um aliado tão importante como os Estados Unidos da América, potência marítima, aliado tradicional das ultimas décadas". O social-democrata admite que alguma expectativa foi criada a partir das movimentações políticas de luso-descendentes em Washington.

Santana Lopes classifica ainda esta decisão americana como "muito conjuntural", realçando que, a meio do processo, o governo americano não contrariou uma "possível solução mais harmoniosa".

De repente, diz o antigo chefe de Governo, os Estados Unidos fizeram "um ziguezague, outra vez, num tempo em que houve várias decisões na política externa americana - nomeadamente Cuba -, em que a situação na Ucrânia se agrava, há a questão da Síria... É uma leitura muito conjuntural da situação internacional. Todos nós nos lembramos de alturas em que os Estados Unidos já quiseram desmerecer a base das Lajes e, de repente, há uma volta na relação de forças de determinada relação do globo e lá vêm eles outra vez precisar das Lajes - de modo mais ou menos polémico".

O programa "Fora da Caixa" é uma parceria Renascença/Euranet, para ouvir todas as sextas-feiras depois das 23h00