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Pedro Leal

Na hora da derrocada, a justiça bate à porta

24 jul, 2014 • Pedro Leal

O que espanta em Portugal é o diminuto número de casos desta magnitude que na verdade chegam ao fim, com culpados identificados.

Benfica, BPN, BPP e caso Espírito Santo. Quatro situações em que a justiça foi mais contundente na hora da queda dos protagonistas. Se justo é bom que aconteça, mesmo já numa fase de descrédito dos sujeitos, pois é o garante da primazia da lei; diz o povo: “mais vale tarde do que nunca”.

Mas esta rotina de actuação deixa uma dúvida no ar: quantos poderosos sobre os quais recaem suspeitas não são incomodados pela justiça porque ainda são, precisamente, poderosos?

A suspeita pode ser injusta, mas a frequência dos casos alimenta a dúvida. Basta recordamos as inúmeras vezes que Maria José Morgado nos alertou para os níveis de corrupção e tráfico de influências em Portugal ou ainda para os estudos da associação Transparência e Integridade.

O que espanta em Portugal é o diminuto número de casos desta magnitude que na verdade chegam ao fim, com culpados identificados.

O caso mais emblemático talvez seja o da aquisição dos submarinos. No processo alemão, o negócio já provocou condenações. Em Portugal, só agora se terminou o processo das contrapartidas (sem condenações) e ainda está em fase de investigação o próprio processo de aquisição. 

Neste caso que envolve Ricardo Salgado está-se ainda num meio-termo que pode fazer história: a sua derrocada parece certa, mas o valor do que está em causa é tão elevado que o seu poder é ainda muito forte.
 
E aqui joga-se o que pode constituir um pequeno ponto de viragem. A justiça pode ter-se antecipado ao esfumar-se de eventuais provas para se perceber o que se passou, se há culpados ou inocentes. 

Se assim foi fica a ideia que a justiça, hoje, correu um pouco mais rápido.