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Pedro Leal

Entre Costa e Seguro, o PS só tem uma solução

30 mai, 2014 • Pedro Leal

Agora, para o PS, só há uma solução: escolher António Costa, se o objectivo for tentar voltar a ser um partido de maioria.

A política é cruel. Muito cruel. António José Seguro que o diga. No tempo de Sócrates, Seguro geriu o silêncio e a vontade de ser líder. Esperou, esperou e voltou a esperar. Depois, Sócrates caiu e Seguro finalmente avançou, derrotou Assis e ganhou o partido. Anda há três anos fazer campanha: aguentou a “troika”, ganhou as autárquicas e as europeias, com umas ameaças de António Costa pelo meio.

Mas percebeu-se que a vitória nas europeias foi curta e antecipa um “pântano político” para as legislativas, tal como defendeu Vera Jardim, aqui na Renascença.

E, como a política é cruel, Seguro viu-se desafiado por António Costa. Os “timings” estavam já quase todos esgotados, mas, no último momento, Costa definiu-se.
 
E agora, para o PS, só há uma solução: escolher António Costa, se o objectivo for tentar voltar a ser um partido de maioria.

Pode não ser justo… mas a política, por vezes, é cruel.
 
Se o PS optar de novo por António José Seguro, este vai ser, perdoem-me a expressão, “o bombo da festa” até às legislativas. Os partidos que suportam o Governo, os partidos da oposição com assento no parlamento e os emergentes vão concentrar todos os ataques no PS.

Primeiro, porque é ali que podem fazer crescer a sua votação, à custa do eleitorado descontente que não se revê no líder socialista. Depois, porque Seguro será sempre um líder enfraquecido: foi desafiado publicamente, não reúne o apoio de todo o partido, vai andar um pouco sozinho pelo país, com parte das figuras de proa do PS ausentes.
 
Mesmo se ganhar a Costa, Seguro está condenado a obter um resultado curto em 2015.

Se o PS quer tentar de novo uma maioria está condenado a eleger António Costa. A garantia de sucesso não é certa, mas com a solução Costa as hipóteses aumentam.

Se vencer, o capital de apoio que reúne terá argumentos fortes: desafiou o líder e venceu, não se conformou com uma “vitória de Pirro” e acredita numa “vitória histórica”, uniu o partido e, o mais importante, não tem a imagem desgastada de três anos de uma campanha quase impossível: ser líder de um partido que assinou o memorando com a “troika” e ao mesmo tempo fazer oposição ao governo que aplica esse mesmo memorando. 

Este sábado, os membros da Comissão Nacional do PS têm esta espada de Dâmocles sobre si: a via que seguirem para a disputa interna pode potenciar ou enfraquecer as condições de um eventual regresso ao poder em 2015.