28 fev, 2013 • Violeta Moura, correspondente em Jerusalém
O balanço do pontificado de Bento XVI é positivo e o Papa que agora resigna será lembrado em Jerusalém pela abertura ao diálogo inter-religioso.
A opinião é expressa à Renascença pelo sacerdote franciscano Bruno Varriano, há quase duas décadas na custódia católica da Cidade Três Vezes Santa, que salienta o forte eco que o anúncio da renúncia do Papa teve no Médio Oriente.
Bruno Varriano diz que Bento XVI "é um Papa amado em Israel, porque foi ele que abriu o discurso de diálogo com Israel de modo não somente diplomático". O sacerdote franciscano especifica: "Penso que isso é já claro nas declarações do Estado de Israel, não somente dos políticos, mas também do mundo religioso israelita, que ama este Papa pela sua capacidade de dialogar. É um Papa que lutou contra o anti-semitismo. Israel reconhece isso".
Para a comunidade cristã da Terra Santa, o pontificado de Bento XVI ficou marcado pela visita à região numa mensagem, segundo o padre Varriano, de coragem, dirigida a uma minoria de cristãos cada vez mais ameaçada de extinção no berço da cristandade. Segundo o sacerdote, a visita do Papa e "o grande interesse que ele sempre teve pela Igreja em Jerusalém" e "o amor pela Terra Santa" foram importantes para os cristãos locais, que, além do clero, são na sua grande maioria palestinianos.
Essa visita foi o sinal "máximo desse amor" e teve grande importância "para a Igreja local", uma vez que encorajou "os cristãos, dizendo que somos a minoria, mas não estamos sós". Bruno Varriano sublinha que foi dado um sinal "para os franciscanos continuarem a ser os custódios, para continuarem a cuidar das comunidades locais, dos pobres".
Sem ignorar os abalos que assolam a Cúria Romana, Varriano prefere sublinhar o legado positivo do pontificado de Bento XVI no Médio Oriente. Para o padre Varriano, que também exerce psicologia clínica num hospital cristão de Jerusalém que trata pacientes das três religiões, o apelo ao diálogo inter-religioso deve marcar o próximo pontificado.
O sacerdote acredita que o próximo pontífice "vai continuar na humildade do diálogo", sabendo que os habitantes da Terra Santa, são "todos filhos de Abrãao", são povos que têm "o mesmo Deus" e que procuram "pontos comuns". Estes são "tantos" que permitem o diálogo "com as outras duas religiões monoteístas", acredita o fransciscano.
À necessidade de união, Bruno Varriano junta um apelo no sentido de que não falte o apoio à pequena comunidade sobrevivente de cristãos da Terra Santa: "Estamos, aqui, em dificuldade. Temos necessidades materiais. Os cristãos precisam de ajuda. Mas não é somente disso que precisamos. Precisamos de não nos sentirmos sós, precisamos que o povo de Portugal, que os povos de todo o mundo não nos abandonem"
"Vinde aqui em peregrinações, rezando por nós, perguntem como nós estamos. Nós, daqui, mandamo-vos essa mensagem. Somos poucos, é verdade, mas vivemos na esperança de Jesus ressuscitado", rematou o padre Bruno Varriano.