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Presidente da Segurança Rodoviária anuncia saída do cargo

06 dez, 2012 • Celso Paiva Sol

Em entrevista à Renascença, Paulo Marques reconhece que só conseguiu executar pouco mais de metade das acções previstas na Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária.

O presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), Paulo Marques, revela, em entrevista à Renascença, que vai deixar o cargo muito em breve.

Paulo Marques decidiu não se candidatar ao cargo, no âmbito do novo processo administrativo de escolha de dirigentes da Administração Pública.

“É uma decisão pessoal, foram quase seis anos de intenso esforço, desde o início da ANSR, mas foram seis anos muito desgastantes e entendi que chegou o momento de pôr o cargo à disposição e não me candidatar. Em breve, nos próximos dias, irei abraçar outros projectos.”

Paulo Marques é primeiro e único presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária,  uma das entidades que sucedeu à extinta Direcção-Geral de Viação.

Alega cansaço, sobretudo nos últimos quatro anos em que não teve a estabilidade governativa para executar a Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária, tal como foi pensada.

“Faltou alguma coordenação no diálogo com os outros ministérios e com os outros organismos. De qualquer forma, neste momento já conseguimos ter uma estrutura de pilotagem a trabalhar e portanto já estamos a rever a estratégia”, sublinha.

Sem coordenação superior e sem uma auditoria externa que avaliasse o andamento da Estratégia, Paulo Marques reconhece que só conseguiu executar cerca de 60% das acções previstas.

Balanço positivo da redução da sinistralidade
No que aos números da sinistralidade diz respeito, o balanço é claramente positivo, com a consolidação nos últimos 3 anos de uma tendência de redução no número de acidentes, mortos e feridos, se bem que, nalguns casos, os resultados ficaram aquém das expectativas.

Em vez de diminuírem, aumentaram os mortos dentro das localidades, sobretudo na sequência de atropelamentos, não há sinais de redução na condução sob o efeito do álcool e os feridos que acabam por morrer num prazo de 30 dias a seguir aos acidentes são, afinal, o dobro do que se julgou estatisticamente durante muitos anos. Neste último caso, Paulo Marques não esconde a surpresa.

Paulo Marques vai deixar o cargo, numa altura em que se procede precisamente à revisão intercalar da Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária, em vigor há 4 anos.

Ainda se estudam pormenores, mas parece certo que no plano até 2015 surjam algumas novidades, desde logo um novo objectivo estratégico: “Há um conjunto muito elevado de pessoas que têm acidentes e o motivo da sua deslocação é o trabalho. Queremos envolver as empresas para, junto dos seus trabalhadores, adoptarem um conjunto de medidas para que possa ser  melhorada a segurança rodoviária”.

Para além disso, está na calha a inclusão dos ciclistas nos grupos de risco e passar a direccionar as campanhas de sensibilização para novos problemas, como o uso de telemóveis durante a condução, a fadiga e o sono, a condução sob o efeito de medicamentos, entre outros.

O futuro próximo trará igualmente uma revisão do próprio Código  da Estrada. O processo arrasta-se no tempo e já nem Paulo Marques sabe quando é que o Ministério da Administração Interna o irá concluir. O que sabe é que há intervenções que não podem deixar de ser feitas, nomeadamente a questão do álcool.

Quase tão antiga como a Autoridade de Segurança Rodoviária, é a ideia de criar uma rede nacional de radares. Muitos estudos, reuniões e orçamentos depois, Paulo Marques faz o ponto de situação de um sistema que avançará gradualmente até que um dia haja 100 radares em pontos negros das estradas portuguesas e arrisca dizer que os primeiros irão aparecer em 2013.

Estimativas deixadas naquela que foi provavelmente a última entrevista que Paulo Marques deu antes de deixar de ser presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária.