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Graça Franco

Não deixem que vos roubem a esperança

21 jul, 2013

Esta semana, no Rio, vive-se uma ocasião única para milhões de jovens tornarem bem viva a Luz da fé mostrando como ela é capaz de enformar a leitura das realidades do mundo contemporâneo.

Não deixem que vos roubem a esperança! O grito, lançado aos jovens, por Francisco, antes e depois de se tornar Papa, e que praticamente encerra a sua primeira encíclica, voltará  esta semana a ser recordado aos milhões de rapazes e raparigas de todo o mundo que, já a partir de amanhã, no Rio de Janeiro, irão juntar-se ao novo bispo de Roma e levar a cabo essa gigantesca celebração da fé em que se foram tornando, ao longo das últimas décadas, as Jornadas Mundiais da Juventude.

Vale a pena seguir de perto este acontecimento. A primeira grande viagem catequética de um pontificado que, sendo ainda tão curto, é já dos mais ricos na sua simbologia. Quem consegue imaginar a força transformadora de milhões de jovens não apenas dispostos a ouvir mas decididos a pôr em prática este conselho desafiador e contagiante de não deixar de acreditar em Deus ou seja, de não deixar de acreditar no verdadeiro Amor (Deus Caritas Est).

Impossível não se questionar sobre o porquê de milhões de jovens correrem a ouvir um avô vestido de branco que lhes recorda coisas tão velhas e tão novas como “ a importância da família fundada no matrimónio, entendido como união estável de um homem e uma mulher” que nasce do reconhecimento e da aceitação da bondade “da diferenciação sexual” (num discurso que fala de compromissos “para sempre”, ao arrepio dos pretensos modernismos paternalistas formatadores do pensamento único da sociedade individualista- hedonista e da civilização do descartável). Mas um “avô” que ao mesmo tempo que apresenta essa proposta radical denuncia e recusa a hipocrisia, o farisaísmo, os “narizes empinados” dos senhores que em vez de anunciarem o Deus da misericórdia o transformam numa caricatura de polícia de costumes. 

Um dos mais preciosos dons do pontificado de Bento XVI foi provavelmente o do seu próprio sucessor, antecipadamente concedido à Igreja na sequência da sua inesperada renúncia. Muito dificilmente alguém poderia encarnar melhor do que Francisco, pelo próprio exemplo, o repto lançado à juventude ainda há poucos dias na encíclica escrita a duas mãos, pelos dois Papas. “Não deixemos que nos roubem a esperança, nem permitamos que esta seja anulada por soluções e propostas imediatas que nos bloqueiam o caminho”.

Um repto que passa por experimentar a busca da Verdade, fruindo a alegria do seu encontro na força transformadora do anúncio e da partilha em comunhão com todos os membros da grande família humana formada, a cada momento, por crentes e não crentes. Porque a fé católica não é algo que se possa viver individualmente numa relação de tu a tu no mais recôndito da consciência. Ela exige ser vivida em comunhão, com os outros, em Igreja. Nesse sentido terá sempre de transbordar para o espaço público por mais que a Sociedade pretenda enclausurá-la ou confiná-la comodamente às sacristias.

Esta semana, no Rio, vive-se uma ocasião única para milhões de jovens tornarem bem viva a Luz da fé mostrando como ela é capaz de enformar a leitura das realidades do mundo contemporâneo. Provando à evidência e ao ritmo do samba que essa luz contribui positivamente para a Sociedade e, ao contrário do que muitos se empenham em proclamar, não se traduz numa força retrógrada e castradora do progresso da humanidade mas antes radica no impulso Criador, fonte primeira do genuíno progresso.