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Mário Centeno eleito presidente do Eurogrupo

04 dez, 2017 - 15:55 • Dina Soares

Ministro das Finanças português eleito à segunda volta. Reforço da transparência e a reforma da zona euro são desafios.

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Presidente Centeno em inglês: "Estou com grandes expectativas em relação a Janeiro de 2018"
Presidente Centeno em inglês: "Estou com grandes expectativas em relação a Janeiro de 2018"

Mário Centeno foi eleito presidente do Eurogrupo, esta segunda-feira, em Bruxelas. O ministro das Finanças português foi eleito à segunda volta porque à primeira não conseguiu alcançar os 10 votos necessários (em 19 possíveis). A informação foi confirmada pela Renascença em Bruxelas.

Centeno foi o mais votado na primeira volta (oito votos), após a qual saíram da “corrida” a letã Dana Reizniece-Ozola e o eslovaco Peter Kazimir. O ministro português derrotou o candidato luxemburguês Pierre Gramegna na segunda volta da eleição.

Centeno torna-se, assim, o terceiro presidente da história do fórum de ministros das Finanças da zona euro, depois do luxemburguês Jean-Claude Juncker e do holandês Jeroen Dijsselbloem. Centeno iniciará a 13 de Janeiro um mandato de dois anos e meio, até meados de 2020.

Marcelo. O "patinho feio" virou "cisne resplandecente"

Horas antes da eleição, o Presidente da República português já dava por adquirida a vitória de Centeno. Para Marcelo Rebelo de Sousa, Portugal vai ter "uma voz mais forte" nas instituições europeias, mas também "um preço de exigência acrescida" em termos financeiros.

"Quando olham agora para Portugal olham para o país que tem o presidente do Eurogrupo. Não é exactamente a mesma coisa. Era um patinho feio, para muitos, muito feio, há dois anos, e agora, de repente, é um cisne resplandecente. Isso faz toda a diferença".

"Agora, tudo tem um preço na vida. E o preço é o seguinte: é que não se brinca em serviço. A execução de 2018 e o Orçamento para 2019 têm de corresponder àquilo que é a exigência de alguém que dá o exemplo no Eurogrupo", acrescentou.

Consensos e críticas

Consensos, consensos, consensos. É esta a receita do sucessor de Jeroen Dijsselbloem para o seu mandato à frente do órgão informal que reúne os ministros das Finanças dos países do euro. Quando apresentou a sua candidatura, o ministro português das Finanças assumiu como seu principal desafio “alcançar os consensos indispensáveis para reforçar o euro".

Numa conferência de imprensa na semana passada, Centeno prometeu também dar um "contributo construtivo, crítico às vezes para encontrar caminhos alternativos", dando como exemplo o sucesso das políticas alternativas nos resultados económicos portugueses como trampolim para este projecto europeu.

Centeno garantiu que Portugal vai ter uma voz activa e nas decisões, afirmando Portugal no contexto europeu.

Receita de Centeno para o Eurogrupo? Consensos, consensos, consensos, consensos, consensos. E consensos
Receita de Centeno para o Eurogrupo? Consensos, consensos, consensos, consensos, consensos. E consensos

"Vivemos num tempo de decisões importantes na zona euro. Portugal deve participar de forma activa neste processo, oferecendo o seu contributo”, disse.

Mais transparência e mais reformas

O reforço da transparência e a reforma da zona euro são os principais desafios que o novo presidente do Eurogrupo enfrenta.

“Desde a crise financeira, há uma pressão popular para aumentar a visibilidade do Eurogrupo em termos de maior transparência e de responsabilização” das decisões tomadas, afirmou ao “Público” Robin Huguenot-Noël, do "think tank" Centro de Política Europeia, em Bruxelas.

Também o comissário dos Assuntos Económicos e Financeiros, Pierre Moscovici, criticou, num texto citado pelo “Público”, as decisões tomadas pelo Eurogrupo, “à porta fechada, muitas vezes depois de discussões muito limitadas, sem regras formais”.

Mário Centeno nunca escondeu as suas divergências em relação às políticas europeias e à União Económica e Monetária, que ainda recentemente acusava de estar a criar divergência e não convergência. Apoiante de reformas mais profundas, defende, por exemplo, a necessidade de mecanismos comuns de estabilização macroeconómica e a conclusão da união bancária.

Começar pelo topo

Mário José Gomes de Freitas Centeno ocupou o seu primeiro cargo político há apenas dois anos. A 26 de Novembro de 2015, assumia o cargo de ministro das Finanças, entrando assim na vida política pela porta grande. Para trás ficava toda uma carreira técnica no Banco de Portugal, onde entrou no ano 2000 como economista, chegando, quatro ano depois, ao cargo de director-adjunto do Departamento de Estudos Económicos.

O deslize de Dijsselbloem: "Sou presidente até dia 12 de Janeiro e Centeno a 13"
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Nasceu em Olhão, a 9 de Dezembro de 1966. É licenciado em Economia e mestre em Matemática Aplicada pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa, e mestre e doutorado em Economia pela Harvard Business School da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

A par da sua carreira no Banco de Portugal, foi também presidente do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento das Estatísticas Macroeconómicas, no Conselho Superior de Estatística e professor catedrático do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa. Integrou ainda o Comité de Política Económica da União Europeia. Chega agora à presidência do Eurogrupo.

Apoiado, mas…

A nível interno, a escolha de Mário Centeno merece o aplauso de todos os partidos, mas com reservas. À direita, causa embaraço porque permite sustentar que é possível políticas alternativas. À esquerda, provoca desconforto nos partidos que apoiam o Governo, mas não apoiam a união monetária.

Assunção Cristas, a líder do CDS, apressou-se a dizer que quando um português está num lugar relevante de decisão numa instituição internacional é um aspecto positivo, mas que não considera que "o ministro das Finanças em Portugal tenha desenvolvido, ou esteja a desenvolver um trabalho efectivamente relevante do ponto de vista da transparência, do ponto de vista da forma como actua, daquilo que diz aos portugueses". Por isso, Cristas mantém todas as críticas a Mário Centeno.

Da parte do PSD, o presidente do partido e os seus principais dirigentes têm preferido o silêncio, mas os dois candidatos à sucessão de Pedro Passos Coelho revelaram-se satisfeitos. “Parece-me bem para Portugal. Sempre que um português se candidata a um cargo de relevo nas instâncias internacionais, isso deve ser motivo de satisfação. Neste caso há uma preocupação conexa que é o modo como irá funcionar o Ministério das Finanças”, afirmou Pedro Santana Lopes.

Mário Centeno. Um português num órgão "poderosíssimo"
A directora de Informação da Renascença considera que ter um presidente do Eurogrupo português é positivo para o país. Graça Franco diz que o ministro das Finanças português foi o "homem certo no lugar certo", mas teve também mérito próprio.

Embora considere que o cargo de líder do Eurogrupo não é absolutamente determinante, Rui Rio reconhece que “pode ter alguma influência sobre aquilo que podem ser as políticas europeias.”

Para o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, a escolha de Centeno para a presidência do Eurogrupo não vai determinar as políticas da União Europeia nem significa melhorias para o país, como, disse, demonstraram experiências anteriores.

Já para Catarina Martins, a coordenadora do Bloco de Esquerda, “ter ou não ter um responsável português à frente de uma instituição europeia não significa nada em concreto para Portugal. Não é condição de melhoria para o país, até porque o problema não é quem preside ao Eurogrupo, mas sim o Eurogrupo”.

Finalmente, o Presidente da República avisa que Centeno não se pode “esquecer que começou por ser ministro das Finanças português e que só chega lá por se ministro das Finanças português. Não caiu do céu”. Por isso, considera fundamental que o ministro não perca o pé dentro de fronteiras com a eventual nova tarefa, até porque ainda faltam dois anos para 2019.

Comentários
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  • optimista
    05 dez, 2017 Santarém 22:49
    Agora é que vai ser a Europa da solidariedade e justiça, o malvado ministro alemão vai aprender a lição de como se governa um continente e um país e nem sequer os europeus irão aumentar o seu voto nas extremas-direitas indignados com tanta incompetência que por aí tem havido, acabarão as contestações e a Europa voltará a brilhar.
  • 05 dez, 2017 palmela 02:52
    vai ser pior qual melhor!
  • 05 dez, 2017 palmela 02:47
    oscar eu tenho andado mal informada pensava que este dava a sola e tinha que se arranjar outro ministro das finanças! afinal e para andar ca e la ! Quem muitos burros toca alguns deixa pra tras!
  • Manuel da Costa
    05 dez, 2017 Sydney - Austrália 00:37
    Se foi eleito por Competência e Honestidade, à parte dos "Partidos", merece os meus Parabéns. Caso tivesse sido escolhido para apenas ser submisso ao "Poder", e a outros tipos de interesses e oportunismos, traindo assim o seu País, Portugal, então...
  • david
    04 dez, 2017 lisboa 21:09
    Juntamente com o macron e merkel vai tentar aprisionar a europa tal como fez com Portugal nos últimos dois anos. Felizmente não estarei por cá para viver nesse inferno sem liberdade de escolha, mundo perfeito para a cambada de idiotas e tontos dos tugas...
  • JC
    04 dez, 2017 Almada 21:02
    O homem só foi nomeado porque os seus pares ouviram recentemente a credível Drª Teodora comparar Centeno a Salazar !!!!!
  • JoSotnas
    04 dez, 2017 Vila Nova de Gaia 20:21
    A direita esqueceu o "salto" de Durão Barroso que culminou com a extinção do Governo Santana Lopes. A extrema esquerda (PCP e BE), igual a ela própria: Anti Seja O Que For. Parabéns Professor Centeno, parabéns Portugal.
  • xico
    04 dez, 2017 algures 20:07
    O que "muda" e deve ser muito são as remunerações,ajudas de custo,viagens,hoteis e todas as mordomias,Bruxelas não é a pobreza de de um país plantado á beira do atlantico.
  • Fausto
    04 dez, 2017 Lisboa 19:16
    Ena pá...a Europa decidiu...experimentar a austeridade...de esquerda...um remédio...com sabor...extra doce...agora quem achava...que não era assim...deve estar cá com uma carola...
  • JR
    04 dez, 2017 Lisboa 17:48
    Que azia para os lados da Lapa.

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