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Frei Bento Domingues e Carlos Fiolhais. Religião versus Ciência

02 dez, 2017 - 19:47 • Maria João Costa

O Festival Literário Tinto no Branco, em Viseu juntou Frei Bento Domingues e o físico Carlos Fiolhais num duelo, como lhe chamou o moderador entre a Ciência e a Religião. Não houve mortos, nem feridos.

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Sala cheia, gente em pé para ouvir Carlos Fiolhais e Frei Bento Domingues. O moderador Jorge Sobrado, vereador da Cultura da Câmara de Viseu, falou num “duelo” entre a Ciência e a Religião, duas áreas que, nas suas palavras, são como “dois irmãos gémeos desavindos”.

Mas o duelo não se saldou em mortos e feridos, até porque desde logo o físico Carlos Fiolhais explicou que não se trataria “de um combate de boxe”. O investigador até brincou com a situação ao apresentar Frei Bento Domingues como um membro da “ordem dos pregadores” e ele como um elemento da “ordem dos pecadores”. Plateia a rir, mas o assunto era sério.

No Festival Literário Tinto no Branco, em Viseu, o teólogo e pensador Frei Bento Domingues começou por abrir a Bíblia, “uma biblioteca de vários livros e um dos livros mais violentos que há”. Nas palavras do frade dominicano “essa violência continua até hoje, de diferentes formas na luta entre os povos”. Mas Bento Domingues lembrou que também a ciência “já fez umas bombinhas” e, segundo o seu pensamento, “não vale tudo”. O teólogo trouxe à conversa o exemplo do Papa Francisco que “no dia 18 do mês passado recebeu um grupo que se vai ocupar de rever todas as questões da antropologia, uma das questões que colocou foi um problema ético. Não a um progresso científico e tecnológico em beneficio de poucos e desgraça de muitos.”

O pensamento ecoou do outro lado da “barricada” e Carlos Fiolhais, no que toca à relação entre Ciência e Religião, considerou-as “duas tentativas humanas de acesso aquilo que podemos chamar mistério. Aquilo que não sabemos. Os mistérios serão diferentes. Procurar um sentido, ordenar as coisas. A religião ordena o mundo de uma determinada maneira, a religião de outra”. E concluiu que os cientistas tentam “perceber a harmonia no mundo” e arriscou que a religião tenta “perceber um outro mundo, o transcendente que aparece aos humanos através da revelação”.

Em sintonia, Frei Bento Domingues e Carlos Fiolhais consideram que Ciência e Religião podem trabalhar juntas. Segundo o dominicano, a ideia de “condenação está a mudar, sobretudo desde a chegada do Papa Francisco”. A má convivência no passado é lembrada por Carlos Fiolhais com o caso de Galileu, mas de acordo com o físico de Coimbra há hoje exemplos de padres cientistas.

Num debate que tocou a questão da ética, Frei Bento Domingues destacou o “novo ambiente cultural” de hoje. “A questão já não se coloca se é ou não católico” afirmou, “não há posições oficiais, está tudo em questão e a ser discutido”. Já Carlos Fiolhais destacou que “A ciência tem de dialogar com a arte e a religião para a redenção do Homem” e lembrou sobretudo hoje os desafios ambientais que se colocam ao planeta.

O debate aqueceu a tarde fria no Solar do Vinho do Dão em Viseu onde este domingo termina o Festival Tinto no Branco.

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