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​Entrevista

IAPMEI admite plano de emergência para empresas vítimas da seca

30 nov, 2017 - 22:31 • Sandra Afonso

Entrevista à Renascença, Jorge Marques dos Santos rejeita críticas sobre dificuldades de acesso aos fundos comunitários e diz às pequenas e médias empresas que é preciso pensar grande.

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IAPMEI admite plano de emergência para empresas vítimas da seca

O presidente do IAPMEI - Agência para a Competitividade e Inovação admite avançar com apoios às empresas atingidas pela seca se a situação se agravar.

Entrevista à Renascença, Jorge Marques dos Santos diz que ainda não chegaram pedidos de ajuda, mas se for preciso serão accionados os mecanismos de resposta utilizados para os incêndios deste Verão.

O presidente do IAPMEI faz ainda o balanço das medidas no terreno, de apoio às empresas afectadas pelos fogos, e dos apoios disponíveis nesta altura para empresários e empreendedores, em geral. Rejeita críticas sobre dificuldades de acesso aos fundos comunitários, admite apenas atrasos no passado, já ultrapassados.

Às pequenas e médias empresas (PME) deixa um conselho: nem tudo se resume ao financiamento, é preciso pensar grande, em fusões e parcerias.

Um relatório da Comissão Europeia diz que as PME portuguesas estão a recuperar, mas ainda não conseguiram chegar ao pico de crescimento registado em 2008, antes do início da crise.

É natural, o abaixamento foi muito grande e este esforço de recuperação é muito mais difícil para os países que estão em situação negativa, que estão a crescer e a desenvolver-se, do que para os outros. Mas as taxas de crescimento apontam para que, realmente, se vai recuperando cada vez mais a posição inicial. É um pouco como as economias que passam o vale da morte, as que resistiram e passaram esta fase saem reforçadas, ganharam novas capacidades, voltaram-se para o mercado externo, à procura de novos mercados, e isso dá-lhes potencial.

As empresas muitas vezes pensam que só precisam de financiamento e não é verdade, precisam de capacidade para procurarem novos mercados, para gerirem melhor, conquistarem parceiros, ganharem dimensão, o que em Portugal acontece ainda a um nível baixo. Este campeonato não se compadece com empresas pequenas, é preciso que ganhem músculo, seja por agregação de empresas, seja porque trabalham em conjunto, nomeadamente, para mercados de exportação.

Há uma proposta do PS para que 100 milhões de euros de reembolsos de incentivos comunitários do IAPMEI transitem para 2018 e passem para as empresas atingidas pelos fogos. esta proposta é viável?

Claro que é. Os fundos dos reembolsos do QREN [Quadro de Referência Estratégica Nacional] só podem ser aplicados com autorização de uma portaria que saiu e que tem que ter autorização conjunta da Secretaria de Estado do Desenvolvimento e Coesão e Ministério da Economia. Esses fundos, têm duas aplicações: são 100 milhões para investimento e 14 milhões para a criação de uma linha de crédito, também de 100 milhões, que vai permitir financiar a tesouraria, portanto, liquidez.

Que outras medidas estão a ser tomadas, no âmbito do IAPMEI, para dar resposta às empresas atingidas por esta catástrofe?

O IAPMEI está a actuar no terreno de forma activa. Identificámos todas as empresas com danos, à volta de 330 na zona Centro e Norte, e criámos uma “task force”, que está a visitar as empresas, além de receberem os contactos. Na primeira semana já visitaram 25%. Estão também a analisar os projectos financiados, são empresas duplamente afectadas, uma vez que tinham projectos em execução. O que nós queremos dizer aos empresários é que sintam no IAPMEI a casa das empresas, onde se podem dirigir, podem colocar as suas questões, onde têm alguém que os ajuda e acompanha.

Além dos incêndios, agora temos também a seca, que está a afectar várias zonas do país. Já há iniciativas pensadas e ou no terreno?

Neste momento, as grandes medidas têm a ver com o cidadão, têm a ver com as autarquias. É natural que, se se prolongar, comece a haver problemas ao nível das próprias empresas. Em concreto ainda não temos medidas no terreno, mas se for caso disso, iremos estar em condições. A legislação que apoia os incêndios não é específica para fogos, é para catástrofes naturais, por isso, estão criadas as condições de resposta. Mas por enquanto não temos sido contactados por empresas manifestando dificuldades em relação à água, mas se a seca se prolongar, as que sofrem mais são as da área da agricultura, que têm um tratamento próprio, a indústria muitas vezes tem fontes de abastecimento próprio, não estão dependentes das redes públicas.

Qual é o orçamento do IAPMEI para 2018?

O Orçamento total do IAPMEI são 635 milhões de euros. Mas tem uma fortíssima componente de fundos para apoiar projectos de inovação, de qualificação, não se destinam ao funcionamento, não é para a estrutura do IAPMEI. Só para o funcionamento do IAPMEI são 25 milhões de euros.

Está confortável com este valor?

A responsabilidade de uma gestão é, primeiro, nunca estar confortável com os valores, não porque seja muito ou pouco, mas pela necessidade de questionar, ver se estamos a fazer o melhor, tirar partido das estruturas sem faltar no apoio aos empresários e à actividade económica. Obviamente, com uma preocupação muito grande de custos reduzidos, de eficácia, produtividade, eficiência nos serviços. As nossas direcções não funcionam como silos, funcionam em rede e cooperação umas com as outras, para fazer o máximo com recursos escassos e, acima de tudo, que o empresário não sinta no terreno a falta de apoio que temos de dar.

Que ferramentas tem neste momento o IAPMEI à disposição dos empresários?

Há muitas. Desde apoios aos sistemas de incentivos, no âmbito do Portugal 2020, e outros programas que vieram de trás, essa é talvez a área mais conhecida externamente do IAPMEI, mas temos outras áreas muito importantes e cada vez mais vão assumir um papel relevante.

Na área da capacitação empresarial temos uma Academia, que ajuda a formar empresários, os empreendedores dos empresários. Não fazemos formação profissional concorrencial, essa existe no mercado, estamos muito preocupados com aspectos de gestão, conhecimento de projectos e a envolvente económica.

No empreendedorismo e inovação, temos uma intervenção fortíssima no apoio às “startup”, fazemos a ligação ao Cosme, programa europeu de apoio às PME, ligação aos financiamentos directos pela União Europeia. Nas áreas que implicam os apoios ao Startup Voucher, os vales incubação e, mais recentemente, estamos a preparar a introdução dos Startup Visa - auxiliar empresários que se queiram instalar com “startup” em Portugal, vão poder ter visto de residente com incubadora certificada, com o compromisso de atingirem 325 mil euros de criação de valor, em três anos.

Portugal tem sido dado como exemplo em relação às “startup”, mas muitas morrem à nascença. Portugal está a acompanhar o “scale up” destas empresas, existem iniciativas neste sentido?

Sem dúvida. Estamos nas “startup” e a apoiar o “scale up”, para se desenvolverem e crescerem, quer utilizando a rede de mentores, quer com informação sobre todos os canais de financiamento alternativos, dinamizando os contactos com a rede Business Angels. O nosso objectivo é que Portugal seja conhecido pelas “startup” mas, fundamentalmente, pelas empresas que elas venham a criar, que essas é que vão ter um grande papel no desenvolvimento da economia. Nós temos feito muito trabalho de contacto com as grandes empresas, porque este ecossistema de contacto entre as “startup” e as grandes empresas é que tem de ser desenvolvido. A “startup” por si própria é fantástica, são boas ideias, mas devem agregar-se a grandes empresas, que geralmente têm dificuldade em inovar, são mais estáticas, e podem tirar enorme partido da flexibilidade, da agilidade das novas tecnologias e do entusiasmo das “startup”. Portanto, isto aqui é uma simbiose, “win-win”, ganham os dois. Se a “startup” crescer à custa desse desenvolvimento vamos ter “scale ups” e, se calhar, a curto prazo PME, para não recorrermos sempre aos mesmos três ou quatro exemplos.

Continuam a surgir críticas sobre o acesso aos fundos do Portugal 2020, sobretudo de associações empresariais. Estas críticas têm fundamento?

Só poderão ter dificuldade se tiverem dificuldade em informar os seus projectos. Uma empresa quando se candidata não é porque precisa dos fundos, mas porque tem um bom projecto. Se tem um bom projecto, apresenta-o. Não temos razão nenhuma, aliás os números falam por si, o objectivo dos mil milhões de fundos atribuídos, no âmbito do Portugal 2020 este ano, já foram ultrapassados. Foi fixado pelo governo um novo objectivo, de 1.250 milhões, e vai ser seguramente atingido. Dentro deste montante o IAPMEI tem uma parte muito significativa, cerca de 60% passam por nós e não temos tido nenhuma dificuldade. Aliás, até é interessante notar, o recente aviso para os Vales Indústria 4.0, o número de candidaturas foi quatro vezes o orçamento estabelecido, portanto não foi por dificuldade de acesso.

Não vejo razão nenhuma e os processos não têm burocracia especial, são cada vez mais simplificados. Claro, estou a falar na área que conheço melhor, inovação, inovação de produto e empresarial, qualificação. Houve uma queixa recorrente há uns meses, sobre atrasos na análise dos projectos. Mas, eu estou à frente do IAPMEI apenas desde Abril e foi quase que um compromisso de honra por os projectos todos em dia e a partir de Julho podemos dizer que temos todos os nossos projectos completamente em dia. Estão a ser analisados e decididos dentro dos prazos. Foi necessário criar uma “task force” para fazer esta recuperação.

Qual é o principal objectivo para o próximo ano?

O IAPMEI não pode ter só um objectivo. O objectivo global é sermos cada vez mais o parceiro das empresas. Nós queremos que as pequenas e médias empresas sintam que têm sempre alguém. Foi feito um piloto este ano, criar o "Espaço Empresa", em Leiria, Abrantes e Ancião, que agora vamos alargar: uma medida Simplex, em que vamos trabalhar em parceria com todas as câmaras, para que sejam uma extensão da ligação do IAPMEI aos empresários.

Criámos uma rede com organismos da administração pública, de forma que, quando o empresário se dirige ao IAPMEI, este pode não o mandar falar com o Ambiente, a autoridade tributária, o SEF ou qualquer outra entidade, vai o Iapmei contactar com a rede, vamos pegar na questão, esclarecê-la e voltamos com a solução. Procuramos trabalhar com eles, de braço dado. O objectivo é que se se perguntar a um empresário em Portugal, "Quando tens um problema a quem te diriges?", ele, de uma forma espontânea, diga: "Ao Iapmei".

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