30 nov, 2017 - 12:57
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O ministro das Finanças português diz que é candidato à presidência do Eurogrupo para alcançar os “consensos indispensáveis” para reforçar o euro. Numa declaração em que disse por seis vezes a palavra "consensos", Mário Centeno prometeu também dar um "contributo construtivo, crítico às vezes", para "encontrar caminhos alternativos".
Na apresentação da sua candidatura, em conferência de imprensa, esta quinta-feira, Mário Centeno lembrou os resultados económicos portugueses, que demonstram o sucesso de uma "alternativa", como trampolim para este projecto europeu.
Para o ministro português, o país "tem ganhos óbvios" com a sua eventual eleição para o órgão informal que reúne os ministros das Finanças da Zona Euro porque permite "afirmar Portugal", um dos países "mais europeístas", no contexto europeu, e "mostrar os resultados de uma determinada alternativa de políticas económicas".
Apontado como um dos favoritos ao lugar do holandês Jeroen Dijsselbloem, Centeno promete que Portugal vai ter uma voz activa e nas decisões, "afirmando Portugal no contexto europeu".
"Vivemos num tempo de decisões importantes na zona euro. Portugal deve participar de forma activa neste processo, oferecendo o seu contributo”, declarou em conferência de imprensa.
Questionado sobre as posições críticas que já assumiu sobre aspectos da política europeia, Centeno disse que não abdicará das suas opiniões. "Vamos ter esse contributo construtivo, crítico às vezes, que permita encontrar caminhos alternativos, mas num contexto de agregação de vontades (e já demonstrámos que sabemos como o fazer)", disse, no que pode ser lido como uma referência implícita ao trabalho conjunto entre PS, Bloco de Esquerda, PCP e Os Verdes.
“Enquanto ministro das Finanças continuarei a trabalhar para prosseguir este caminho de fortalecimento da nossa economia”, afirmou Centeno. O ministro português acredita que este trajecto é “comum” aos Estados-membros da moeda única.
Para Centeno, “Portugal soube ultrapassar desafios importantes”, da dívida à “recuperação de empregos” – “desafios” que são “comuns a muitos países europeus”.
“Alguns dos sucessos mais relevantes da política financeira e económica deste Governo foram alcançados em colaboração com as instituições europeias”, frisou. Como exemplo, deu o fim do processo de sanções a Portugal e a recapitalização da Caixa Geral de Depósitos.
Defendendo “consensos indispensáveis” para avançar com “medidas de reforço da moeda única, que deve ser vista como uma moeda comum”, Centeno diz que tem como programa “reforçar a confiança mútua entre os Estados do euro”.
“O euro é o maior projecto económico da Zona Euro nas últimas décadas”, reforçou Centeno.
Consensos, consensos e mais consensos
A candidatura portuguesa à presidência do Eurogrupo procura estabelecer consensos e "reunir todos" à volta dos desafios que a moeda única europeia enfrenta e das reformas de que precisa, defende o primeiro-ministro.
"A nossa lógica é de ajudar a contribuir para o consenso, reunir todos", disse António Costa aos jornalistas, à margem da cimeira entre a União Europeia e a União Africana, que termina esta quinta-feira em Abidjan, na Costa do Marfim.
"A zona euro sofreu muitas divisões nos últimos anos, entre famílias políticas e de diferentes regiões, e precisamos de uma Europa mais unida e mais forte, e estamos numa posição privilegiada de contribuir para isso", disse António Costa.
Corrida a quatro?
Centeno, 50 anos, ministro das Finanças de Portugal desde 26 de Novembro de 2015, é candidato ao lugar do holandês Jeroen Dijsselbloem, no cargo desde 2013.
A eleição terá lugar na próxima reunião do Eurogrupo, agendada para segunda-feira, 4 de Dezembro.
O prazo para apresentação de candidatos ao cargo de presidente do Eurogrupo terminava às 11h00 desta quinta-feira.
O Governo português confirmou, em comunicado, que Centeno “apresentou esta manhã a candidatura” à presidência do Eurogrupo, órgão informal da União Europeia que reúne mensalmente ministros dos Estados-membros pertencentes à área do euro.
Centeno não deverá ficar sozinho na corrida. A ministra das Finanças da Letónia, Dana Reizniece-Ozola, já formalizou a sua candidatura e espera-se que o Luxemburgo e a Eslováquia também o venham a fazer.
Mário Centeno deverá contar com o apoio da Alemanha, França e Itália. De acordo com o “Financial Times”, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, reuniram-se na quarta-feira com os primeiros-ministros de Portugal e de Itália, Paolo Gentiloni, para decidir quem deveria avançar (entre Centeno e o ministro italiano Pier Carlo Padoan). A escolha recaiu sobre o ministro português.
Esta quinta-feira, a imprensa italiana adianta que o Governo de Itália irá apoiar o ministro português – isto, depois de, na última reunião do Eurogrupo, também o ministro espanhol, Luis de Guindos, ter anunciado o seu apoio ao ministro socialista português caso este avançasse, apesar das diferenças partidárias (o Governo espanhol pertence ao Partido Popular Europeu, PPE).
A família socialista europeia é, neste momento, a que tem mais possibilidades de garantir o posto até agora ocupado pelo holandês Jeroen Dijsselbloem.
Permanece agora a incógnita em torno da candidatura do ministro eslovaco, Peter Kazimir, que há muito admite interesse em ocupar a presidência do fórum de ministros das Finanças da Zona Euro, mas que reunirá poucos apoios dentro da família socialista, à qual pertence.
O ministro luxemburguês, Pierre Gramegna, que pertence à família políticas dos Liberais, também poderá avançar, tendo contra si o facto de a presidência da Comissão Europeia já ser ocupada por um seu compatriota, Jean-Claude Juncker.