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Dois mil tweets depois. O que diz @realdonaltrump sobre o Presidente dos Estados Unidos

08 nov, 2017 - 11:49 • Rui Barros

Das "Fake News" aos factos alternativos, a conta de Donald Trump no Twitter já é presença habitual nas notícias sobre o Presidente.

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Um ano depois da eleição do 45º Presidente dos Estados Unidos da América, a conta @realdonaldtrump no Twitter tornou-se centro de atualidade noticiosa - quer seja porque Trump escreveu uma palavra que ninguém entendeu ou porque o Presidente comentou a atualidade internacional. Mas o que realmente diz a conta de Donald Trump sobre o presidente norte-americano?

Desde que foi eleito, a 8 de Novembro de 2016, Donald Trump “tweetou” 2 131 vezes - uma média de quase seis "tweets" por dia. A insistência no meio que a administração Trump já definiu com difusor de “declarações oficiais” mostra um presidente imparável na arte de "tweetar", mas também um homem que, de acordo com Brian Ott, coordenador do departamento de estudos de comunicação da Texas Tech University, aprendeu a usar esta rede social como forma de marcar a actualidade.

“O Twitter faz duas coisas por Donald Trump: para além de lhe permitir ter acesso, de forma não mediada, à sua audiência, este político usa o Twitter para também definir a agenda dos média”, considera o investigador, que analisou as marcas discursivas de Trump nesta rede.

“Acho que nunca tivemos um líder tão hábil a manipular o ciclo noticioso”, acredita o coordenador do departamento de comunicação da Texas Tech University, apontando a experiência de Donald Trump como estrela de "reallity show" como de grande utilidade para o Presidente entender e dominar os mecanismos dos média.

Os dados da conta oficial do presidente dos EUA, recolhidos e analisados pela Renascença, mostram que nos 365 dias que se passaram desde a sua eleição, Trump raramente parou de "tweetar": foram só oito os dias do ano em que o Presidente nada escreveu na sua conta pessoal. Os outros 357 evidenciam uma estratégia "de ruído" que, segundo Brian Ott, está em linha com a forma de pensar de Trump.

“Com uma publicação completamente ultrajante ele consegue mudar o que os média 'mainstream' estão a falar. É uma estratégia, uma técnica de distracção que ele domina, talvez melhor do que qualquer presidente que os Estados Unidos alguma vez já tiveram”.

Ott admira a estratégia, mas sem deixar de a avaliar como nociva para a qualidade do debate público. Por isso, deixa uma mensagem, em jeito de apelo, aos jornalistas: “Se eu pudesse dar um conselho aos jornalistas, seria: 'parem de cobrir o feed de Twitter dele'. Isso iria obrigar a um diálogo mais sério do que aquele que conseguimos ter hoje e tiraria o poder que ele tem ao usar esta rede”.

"Fake news. Fake news everywhere"

Prosseguindo a análise à conta do Presidente, ela soma uma total de 41 milhões de "retweets" - uma forma de partilha de informação nesta rede - em todas as publicações feitas, com o seu "tweet" mais popular a ser aquele que mostra o Presidente dos Estados Unidos da América a bater no logótipo da estação televisiva CNN, que acusa de dar notícias falsas.

“Os retweets vêm dos seguidores. E os seguidores de Donald Trump… Eles compram o argumento que os média nacionais o estão a perseguir. Não me surpreende que esse seja a publicação mais popular, porque corporiza todos os princípios da rede dele”, avalia Ott, que no seu estudo, feito ainda antes de Donald Trump ter sido eleito como Presidente dos Estados Unidos, concluiu que Donald Trump "fala como 'tweeta'", ou seja, de forma simples, impulsiva e indelicada.

“Ele conseguiu - com sucesso, diga-se de passagem - redefinir completamente aquilo que se queria dizer por “fake news”. Alguns órgãos de comunicação social tradicionais podem estar inclinados para um ou outro lado do espectro político, mas não são aquilo que tradicionalmente designamos de ‘fake news’”, diz o investigador, que classifica como “fascinante”, ainda que “uma ameaça para a democracia”, o facto de Donald Trump ter conseguido convencer uma porção do público norte-americano que os meios de comunicação davam notícias falsas, tendo deturpado o conceito inicial de “notícia falsa”.

Para o professor do Texas, todas as marcas discursivas, a capacidade de manipulação da agenda mediática e a forma acrítica como muitos dos seguidores de Trump recebem a sua mensagem são "uma grande ameaça à democracia". E, por isso considera que o legado de Trump "não vai ficar bem na história".

"A minha esperança é que, no futuro, as pessoas olhem para estes 'tweets' e percebam que foi um momento particularmente negro para o debate público saudável e para a liberdade de expressão", remata Brian Ott.

Cenas de um ano de Trump na Casa Branca
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