03 nov, 2017 - 07:17 • Maria João Costa
Como meta pessoal, Nicholas Sparks escreve quatros dias por semana, duas mil palavras em cada dia. Católico assumido, diz que encontra paz na religião que acrescenta “beleza à sua vida”.
O escritor é um dos entrevistados da jornalista Maria João Costa para ouvir no "Ensaio Geral" esta sexta-feira, depois das 23h00, na Renascença.
Dedica o seu novo livro “Só nós dois” aos seus leitores. Eles são a parte mágica da vida de um escritor?
Escrevo porque quero que as pessoas os leiam e aqueles que lêem são quem torna possível continuar a escrever histórias. Aprecio muito, e estou muito grato, não só porque lêem os livros, mas também porque são pessoas que tiram tempo do seu dia para virem ao meu encontro pedir autógrafos e tirar fotografias em eventos que faço. Isso toca-me profundamente. Estou muito grato pela sorte que tenho na minha vida.
Quem são os seus leitores, quem é que encontrou aqui em Lisboa?
São muito semelhantes aos meus leitores em todo o mundo. São maioritariamente mulheres e têm idades entre os 12 e os 80 anos.
Qual é o segredo do seu sucesso?
Gosto de pensar que as pessoas gostam de ler as histórias que crio… agora o que isso significa. Talvez gostem das personagens, do enredo e as voltas que as histórias têm. Gosto de pensar que tem muito a ver com isso, a forma como escrevo a história, o meu estilo de escrita. Gosto de pensar que é isso, mas claro que cada leitor terá as suas razões para gostar ou não do que faço. Mas acho que é melhor perguntar aos meus leitores.
Vinte e um anos de escrita, vinte e um livros publicados. Onde encontra inspiração?
É interessante. Um romance não tem apenas uma inspiração, tem milhares de inspirações. Essas inspirações podem vir de muitas coisas quando se está a imaginar uma história. Pode ser algo que eu li, um tema que queira explorar como o amor e o perigo; pode ser uma ideia. Por exemplo, neste novo livro tenho uma história sobre um pai e uma filha. Mas pode ser uma história da minha família, a ideia original pode ser baseada numa personagem que conheci. Isso é a primeira ideia, mas não chega para escrever e depois precisamos de uma segunda… E quando tenho ideias suficientes começo a escrever e inspiro-me à medida que escrevo. Às vezes, não sei de onde vem. Talvez faça parte da magia da criação.
E sabe sempre qual será o desfecho do livro?
Eu sei sempre o final dos meus livros! Escrevo livros onde quero evocar um largo espectro de emoções humanas. Quero que os leitores sintam a paixão e o amor, mas também a raiva, a frustração ou confusão. Quero genuinamente evocar muitas emoções nos meus livros. Se consigo isso acabo por criar uma história que fique nas memórias.
“Só Nós Dois” é um livro que fala da relação de Russell com a sua filha London. A família para si é um núcleo estruturante da sociedade. Está ameaçada?
Se a história era de um pai e de uma filha, o tema que eu quis explorar foi: a vida é mais fácil quando temos alguém ao nosso lado, especialmente em momentos de provação. Quando o Russell entra num momento difícil da sua vida há aqueles que estão lá para o ajudar no caminho. Por vezes são os pais, a irmã, outras vezes é a filha e às vezes a mulher por quem ele se apaixona. Queria mesmo explorar as dinâmicas familiares, mas também o amor nas suas diferentes formas e como é importante enriquecer a vida com isso.
Este livro terá uma adaptação ao cinema?
Não, este livro não foi adaptado ao cinema por enquanto. Tenho outros ainda na fila.
E envolve-se na escrita dos guiões dos filmes?
Sempre. Estou sempre envolvido na adaptação dos meus livros ao cinema. Às vezes sou o produtor, outras vezes escrevo o guião, às vezes sou o produtor executivo ou por vezes sou apenas o consultor.
Foi educado na religião católica. De que forma isso está presente na sua escrita?
Eu não escrevo sobre adultério, por exemplo. Tento não usar profanidades nos meus romances. Para muitos dos meus personagens, nem todos, mas muitos, a religião é uma parte muito importante das suas vidas. Os personagens principais que eu quero que os leitores recordem seguem os ensinamentos de Cristo. Ou seja, amas a Cristo, aos teus semelhantes e a ti próprio. Eu tento criar personagens reais, são humanos, cometem erros, não são perfeitos, mas tentam fazer as coisas certas.
Precisamos mais da presença de Deus nas nossas vidas, neste mundo cada vez mais marcado por violência e atentados terroristas?
Só posso falar por mim. Encontro grande paz na minha fé. Estou muito confortável para falar disso. Acrescenta beleza à minha vida que não teria de outra forma.
Como vê a América de Donald Trump?
Não sei se é a América de Donald Trump. No meu dia-a-dia, acordo, bebo o meu café, trabalho no meu livro, cuido dos meus filhos, vejo um jogo de futebol. Eu sei que o governo está lá fora, mas não deixo que domine os meus pensamentos diários.
Como é esse dia-a-dia de escrita? É muito metódico?
Levo seis meses a escrever um livro e isso implica trabalhar quatro dias por semana das 9h00 às 14h00. Escrevo umas centenas de palavras. São duas mil palavras. Acho que para mim esse é um bom número. Claro que depois posso trabalhar a minha escrita no processo de edição e faço-o também durante a escrita do livro, dezenas de vezes! Escrevo, edito, escrevo, edito, escrevo, edito a cada capitulo e depois há outras pessoas também a editá-los.