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Papa apela ao diálogo europeu e à integração de refugiados

28 out, 2017 - 19:51 • Susana Madureira Martins

Francisco discursou, este sábado, no Vaticano num encontro sobre o contributo dos cristãos para o futuro do projecto europeu.

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"Não há migrantes, há quotas." Papa critica a falta de integração de refugiados na Europa
"Não há migrantes, há quotas." Papa critica a falta de integração de refugiados na Europa

Perante várias delegações europeias e na presença do presidente do Parlamento Europeu, o Papa fez vários apelos aos cristãos e aos dirigentes da União.

Com discurso escrito, Francisco apelou ao diálogo como "responsabilidade fundamental da politica", considerando que "infelizmente" se vê "com frequência, como o diálogo se transforma em lugar de confronto entre forças adversárias", reforçando mesmo que "a voz do diálogo é substituída por gritos e reivindicações".

No ponto destinado ao diálogo, o Papa alertou ainda para o facto de o bem comum não ser o objectivo primeiro da Europa e que "este desinteresse é percepcionado pelos cidadãos", fazendo com que assim se encontre "um terreno fértil em muito países para as formações extremistas e populistas que fazem do protesto o coração da sua mensagem politica, sem contudo oferecer a alternativa de um projecto politico construtivo".

Aos cristãos, Francisco diz que "são chamados a favorecer o diálogo político e dar de novo dignidade à política”, entendida como o "maior serviço ao bem comum" e não como uma forma de poder”.

Um domínio inclusivo

Neste discurso às delegações europeias recebidas no Vaticano, o Sumo Pontífice deixou outros avisos aos dirigentes da comunidade. Uma das responsabilidades das lideranças é favorecer uma Europa inclusiva, regressando assim ao tema dos refugiados, deslocados e migrantes.

Assim, diz Francisco, somos autenticamente inclusivos "quando sabemos valorizar as diferenças, assumindo-as como património comum e enriquecedor", referindo-se aos migrantes como "um recurso" e não "um peso".

Ainda sobre o fenómeno dos deslocados e refugiados, o Papa avisa que não se pode pensar que se trata de um processo indiscriminado e sem regras", mas sublinha que não se podem "erguer muros de indiferença ou de medo".

Quanto aos migrantes, estes não devem, segundo Francisco, "negligenciar o dever de conhecer, respeitar e assimilar quer a cultura, quer as tradições da Nação que os acolhe".

Aos cristãos é deixado o apelo de "meditar seriamente" sobre na afirmação de Jesus: "Eu era um estrangeiro e vocês acolheram-me", com o Papa a referir que "sobretudo perante o drama dos deslocados e dos refugiados", não é possível esquecer que se está "perante pessoas que não podem ser escolhidas ou rejeitadas segundo a nossa vontade, seguindo lógicas políticas, económicas ou até religiosas".

Pessoa e Comunidade

Foi por aqui que Francisco começou este discurso sobre o futuro da Europa. Falando directamente aos cristãos, o Papa explicou que o grande contributo que podem dar à Europa de hoje é lembrar que o continente não é "um mero conjunto de nomes e de instituições, mas que é feita de pessoas".

Aqui, Francisco foi especialmente duro perante a plateia, referindo que "infelizmente" se nota com frequência que todo o debate se reduz facilmente a uma discussão de números. E deu exemplos, dizendo que "não há cidadãos, há eleições, não há migrantes, há quotas, não há trabalhadores, há indicadores económicos, não há pobres, há bolsas de pobreza".

Conclui o Sumo Pontífice que o carácter concreto da pessoa humana é assim reduzido a um princípio abstracto "mais cómodo e tranquilizante" e, para o Papa, percebe-se a razão: "as pessoas têm cara e obrigam-nos a uma responsabilidade real, activa, pessoal".

Trabalho e promessa de paz

As duas notas finais deste discurso de Francisco sobre a Europa são sobre o trabalho, "factor essencial para dignidade e amadurecimento da pessoa" e a paz que exige "pura criatividade”.

Muito directo ao assunto, o Papa diz que o "trabalho é necessário e são precisas condições adequadas de trabalho" e mais uma vez dirigindo-se aos cristãos, Francisco lembra-lhes que no século passado não faltaram exemplos de empresários cristãos que compreenderam como o sucesso das suas iniciativas dependia sobretudo da possibilidade de oferecerem oportunidades de emprego e condições dignas de trabalho.

Sendo assim, "é necessário regressarmos ao espírito dessas iniciativas que são o melhor antídoto contra os desequilíbrios provocados por uma globalização sem alma", que o Bispo de Roma considera que está "mais atenta ao lucro do que às pessoas e que criou bolsas difusas de pobreza, desemprego, exploração e mal-estar social".

E daqui para o compromisso dos cristãos na Europa - a promessa de paz. Foi esse o espírito do Tratado de Roma. Francisco explica que a "paz exige pura criatividade" e que "não é este o tempo de construir trincheiras", é o tempo de "perseguir plenamente o sonho dos pais fundadores de uma Europa unida e unânime, uma comunidade de povos desejosos de partilhar um destino de desenvolvimento e de paz".

A ouvir este discurso estava o presidente do Parlamento Europeu que também discursou face a face ao Papa durante cinco minutos. Antonio Tajani diz que "uma Europa sem valores é uma Europa sem consciência", sublinhando que a via do "diálogo deve ser a nossa via contra os extremismos". Tajani falou ainda do problema dos deslocados e refugiados em diversas partes do mundo, da Birmânia à Turquia ou ainda da crise política económica e social da Venezuela.

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  • Mario
    28 out, 2017 Portugal 21:45
    Este papa e actual igreja sao absolutamente cúmplices da globalização e da nova ordem mundial nada mais. A Igreja católica e o pior cancro do mundo assim como a muçulmana pois teem as mesmas raízes no judaísmo e só os cegos nao veem isso.....

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