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Iraque. Curdos fogem de Kirkuk com medo de represálias

19 out, 2017 - 16:05 • Filipe d'Avillez

A situação no Norte do Iraque confirma os piores receios da comunidade internacional em relação ao referendo sobre a independência do Curdistão. Patriarca católico apela às autoridades para colocarem as pessoas acima dos poços de petróleo.

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Até 100 mil curdos terão fugido da cidade de Kirkuk nos últimos dias, procurando refúgio em Erbil e outras cidades do Curdistão Iraquiano, segundo o Governo daquela região.

De acordo com o governador de Erbil, citado pela Reuters, os curdos que fugiram de Kirkuk temem represálias por parte das Forças Armadas do Iraque e das milícias a elas associadas, que no fim-de-semana ocuparam aquela cidade disputada entre Bagdad e o Curdistão.

A situação de tensão que se vive actualmente entre curdos e Bagdad vem confirmar os piores receios da comunidade internacional, que alertou para o perigo do referendo sobre a independência que foi realizado no Curdistão no passado mês de Setembro.

Os curdos pretendiam incluir no seu novo Estado território disputado com o Iraque, incluindo a Planície de Nínive (terra ancestral dos cristãos iraquianos e dos yazidis, outra minoria religiosa que sofreu de forma particularmente dura às mãos do Estado Islâmico) e Kirkuk, uma cidade multiétnica e de grande importância económica pelos seus poços de petróleo.

A ocupação por parte de brigadas de elite das forças armadas iraquianas, treinadas pelos Estados Unidos, pôs fim ao sonho curdo de forma muito mais rápida do que seria expectável. Os militares curdos, conhecidos como peshmergas, retiraram sem opor qualquer resistência e os soldados iraquianos já começaram a reocupar a Planície de Nínive também.

Os americanos, que apoiam tanto curdos como iraquianos no combate ao Estado Islâmico, disseram que não vão intervir nesta disputa interna, mas já pediram repetidamente que as partes não deixem que este conflito os distraia do objectivo principal de derrotar o grupo terrorista. A Turquia, enfurecida pela realização do referendo no Curdistão, tem apoiado Bagdad e o Irão também.

Mas a situação não está isenta de sinais de esperança. Depois de ter dito que não estava disposto a dialogar com os curdos por estes terem levado a cabo o referendo, considerado ilegal por Bagdad, o primeiro-ministro do Iraque mostrou-se finalmente disposto a conversar, numa atitude que já foi saudada pelo governo autónomo do Curdistão.

Apelos da ONU e do Patriarca

Esta quinta-feira, a fundação Ajuda à Igreja que Sofre, que se tem empenhado em ajudar os cristãos a regressar às suas terras, promovendo iniciativas de reconstrução que poderão ser ameaçadas em caso de conflito armado entre curdos e soldados fiéis a Bagdad, divulgou um apelo do patriarca Louis Sako, da Igreja Caldeia – a maior igreja cristã do Iraque, para que os líderes dialoguem e evitem expor o povo do país a mais guerra e sofrimento.

Pedindo que as autoridades “ponham as pessoas à frente dos poços de petróleo”, Sako diz que o que é preciso para ultrapassar a actual situação é a adopção “de um espírito de cidadania e de direito, clemencia e perdão, e não o espírito de vingança, suspeição, represálias ou gritos”.

O patriarca desta igreja católica de rito oriental recorda que em todos os conflitos que têm grassado no Iraque ao longo das últimas décadas, “as primeiras vítimas foram sempre os civis inocentes”.

As Nações Unidas manifestaram, esta quinta-feira, a sua preocupação pela expulsão de cidadãos curdos, bem como a pilhagem e destruição das suas casas, pedindo ao Governo do Iraque que faça tudo ao seu alcance para proteger os civis.

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