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​Literatura. Há “revoluções, revoltas e rebeldias” no Folio

19 out, 2017 - 13:50 • Maria João Costa

A espanhola Dolores Redondo, vencedora do Prémio Planeta 2016 com “Tudo Isto te Darei”, vai passar pelo festival literário. Antes, falou com a Renascença.

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“Revoluções, revoltas e rebeldias” é o tema da edição deste ano do Folio, o Festival Literário Internacional de Óbidos que começa esta quinta-feira e decorre até 29 de Outubro. Na vila literária de Óbidos vão estar escritores de 14 países.

Ao longo de 11 dias, é possível ver dez exposições, ouvir 30 conversas que juntam os autores ou tirar um curso de literatura, artes e cultura contemporânea com o escritor Gonçalo M. Tavares.

Pelo Folio passará este ano o vencedor do Prémio José Saramago, que será anunciado para a semana, e o ensaísta Eduardo Lourenço e Guilherme d’Oliveira Martins, administrador da Fundação Gulbenkian, que vão protagonizar uma conversa de tema livre na Praça da Criatividade.

Com uma vocação internacional, o Folio arranca este ano com uma presença espanhola. A autora Dolores Redondo, que venceu em 2016 o Prémio Planeta, está em Portugal a apresentar o livro “Tudo Isto te Darei”. É um romance policial que, diz Dolores Redondo à Renascença, “é diferente porque não se centra tanto no crime e em quem o cometeu, mas antes numa espécie de onda expansiva que essa morte misteriosa toca a todos”.

A autora, que se candidatou com um pseudónimo masculino ao Prémio Planeta, descreve a obra como “uma história de inveja, poder e de famílias que sempre ostentaram o poder”.

Dolores Redondo, que vai estar esta quinta-feira às 20h00, na Igreja da Misericórdia, em Óbidos, numa conversa com o escritor português Valério Romão.

“Em Portugal também há famílias poderosas que há anos são senhores da terra e do dinheiro. Quando começaram os primeiros momentos da crise e os primeiros processos por corrupção em Espanha, havia um sentimento de que havia dois pesos e duas medidas: uma para as pessoas normais e outra para a classe política e pessoas endinheiradas”, diz a escritora, que explora a questão no seu livro.

Filha de um pai galego, Dolores Redondo usa a Galiza como cenário para o enredo. “A escolha do cenário nos meus livros nunca é uma casualidade”, explica. Usa a terra dos seus antepassados para criar o ambiente que serve a história. “Era um lugar que me fascinava porque tem paços, palácios e esse tipo de casas detidas por famílias poderosas que continuam a exercer o seu poder.”

É aqui que surge o “choque”, indica Dolores Redondo. O protagonista da história é um escritor que é confrontado com a morte acidental do seu companheiro de quem vem a descobrir um passado que desconhecia. Álvaro Muñiz de Dávila ocultou o facto de ter bens e pertencer a uma família nobre e poderosa. “É uma rede de mentiras e horror”, descreve Dolores Redondo. Pelo meio, a inquietar, surge um polícia à beira da reforma que desconfia da morte acidental de Álvaro e um amigo pessoal do falecido, um padre católico que representa “a luz, lealdade e a bondade”.

Habituada a escrever numa voz feminina na anterior “Trilogia do Baztán”, Dolores Redondo arrisca neste “Tudo Isto te Darei” dar voz a três protagonistas masculinos. “A trilogia é completamente matriarcal e vive da minha própria experiência”, afirma. Quando “todos os críticos em Espanha já diziam que Dolores Redondo era a voz das mulheres”, decidiu inverter essa tendência. Teve de se “esforçar muito para que as vozes masculinas sejam distintas umas das outras”.

Filha de um marinheiro, Dolores Redondo usou um escritor como personagem principal no seu policial. Manuel Ortigosa está a acabar um livro quando se dá a morte acidental. Em “Tudo Isto te Darei”, podemos ler que “a escrita nasce da pura miséria, da dor inconfessável, dos segredos que morrerão connosco, porque a magia consistia em insinuá-los sem jamais os mostrar”.

Dolores Redondo admite que, “quando se escolhe um escritor como protagonista, há uma parte de confissão no que se conta”. Mas a espanhola acrescenta que está igualmente em todos os personagens. “A escrita é uma pele, carne e sangue do autor.”

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