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O bombeiro que mostrou o fogo a engolir o Pinhal de Leiria esteve "completamente isolado"

17 out, 2017 - 19:52 • Inês Rocha

Só agora Hélio Madeiras começa a perceber que a foto que tirou, no domingo, está a correr o mundo.

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Só agora, quando o fogo começa a dar tréguas àqueles que o combateram quase incessantemente nos últimos dias, é que Hélio Madeiras se começou a dar conta da dimensão que ganhou a “simples” foto que tirou este domingo.

O bombeiro de 36 anos passou os últimos dias “no meio do pinhal, completamente isolado”. Devido às falhas de rede, não se apercebeu que a fotografia que tirou, do topo da torre do quartel dos Bombeiros Voluntários de Vieira de Leiria, ao início da tarde de domingo, estava a correr o mundo. Quando conseguiu voltar a ligar-se à internet, foi inundado de mensagens de jornalistas, nacionais e internacionais, com pedidos de entrevistas.

A foto que está a despertar o interesse de tantos em todo o mundo mostra uma parede de fumo denso a cobrir o horizonte, à medida que o Pinhal de Leiria é engolido pelo fogo. Por mostrar a dimensão do incêndio, que àquela hora se aproximava perigosamente da cidade, foi utilizada por vários órgãos de informação nacionais e internacionais como um “símbolo” da dimensão da tragédia. A imagem foi reproduzida em páginas italianas, espanholas, gregas, romenas e até sul-coreanas. Foi ainda partilhada pela página da ONU dedicada às alterações climáticas.

Hélio Madeiras estava no quartel dos Bombeiros Voluntários de Vieira de Leiria quando o incêndio começou, este domingo, ao início da tarde. No entanto, não foi destacado para o combater naquela zona, já que horas mais tarde entraria ao serviço na Força Especial de Bombeiros, onde é bombeiro profissional, para combater os incêndios mais a norte.

“Desloquei-me à torre dos bombeiros, quando o incêndio se estava a aproximar. Não podendo fazer nada, tirei uma foto para ver o panorama, para guardar como recordação, porque incêndios desta natureza naquela zona não são normais. Aliás, penso que foi o primeiro com esta violência”, explica à Renascença.

Bombeiro voluntário há 19 anos e profissional há 12, Hélio tem uma vasta experiência no combate a incêndios. Todos os verões, ajuda a apagar fogos um pouco por todo o país, com os restantes “canarinhos” que constituem a Força Especial de Bombeiros, da Protecção Civil. No resto do ano, é recuperador salvador. Trabalha no resgate em naufrágios, através de meios aéreos.

Depois de tirar a fotografia, foi para norte. Nos últimos dias, esteve em Viseu, nalgumas das zonas mais fustigadas pelos incêndios deste fim-de-semana: em Cinfães; na A25, em Vouzela, onde uma colisão frontal provocou quatro feridos graves, quando as pessoas tentavam fugir às chamas; em Oliveira de Frades, onde pelo menos uma pessoa morreu. É aí que está esta terça-feira, ainda a lutar contra as chamas.

Foi aí que celebrou o seu 36.º aniversário, esta segunda-feira. Não conseguiu falar com a família nem com os amigos, devido às falhas de rede. Foi um 16 de Outubro para recordar, pelas piores razões.

O que falta? Não depender da solidariedade dos portugueses

Hélio confessa que o trabalho tem sido cansativo. A tão esperada chuva acabou por chega, mas não foi suficiente para apagar o fogo.

Apesar de considerar que a força especial que integra está bem equipada, admite que as equipas de bombeiros voluntários têm falhas a nível de recursos humanos e materiais. O maior problema, diz, é o facto de estas corporações dependerem dos donativos de associações humanitárias.

Na opinião deste bombeiro, o financiamento devia ser uma responsabilidade das autarquias. “É um problema que tenhamos de depender de donativos para responder a este problema”, diz.

Comentários
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  • Inez Deborah Emilia Altar
    18 jul, 2018 04:16
    RESISTENCIA ANTIGENOCIDIO REVOLUCIONARIO VERMELHO E DOURADO INVENCIVEL EM ESPIRITO GYOYO E CHAHAR COREANO E KOK TURCO DE FRANCA IMORTAL CORAGEM SUPERIOR EM TODA A TERRA CEU E MAR LHES SAUDAM!
  • Maria silva
    20 out, 2017 Leiria 15:00
    Obrigada a esse homem que em conjunto com outros tentou salvar o lendário pinhal do rei, pulmão verde que miseráveis destruíram. Esperamos que se faça justiça . Foi uma destruição tremenda. Só foi possível chorar pela maldade sem precedentes naquela área lindíssima, pelos bravos bombeiros e pelas polícias de todos os ramos. Defendem-nos arriscando as suas vidas. No entanto, "eles acabam livres"
  • Manuela L
    18 out, 2017 Porto 20:57
    Se calhar o sr. Guilherme M devia estar no local para ver se era ou não photoshop ver o inferno que aquilo era.
  • Maria Manuela Nunes
    18 out, 2017 Queluz 18:38
    Este Governo bem pode meter a mão na consciência, se é que a tem, e ajudar toda esta gente por todos os meios possíveis e rapidamente. Que não tenhamos outro Pedrógão onde se espera ainda pela ajuda que todos nós demos.
  • jesus martins
    18 out, 2017 loures 17:32
    Lamento profundamente todo este cenário. Choro com as famílias que ficaram sem um ou mais membros, com as que ficaram sem nada . Choro, principalmente a perda! Não vale a pena acusarmos "o estado" porque o estado é os nossos descontos! Para onde vão? Onde estão quando é necessário? Isso sim vale a pena acusar, perguntar e obrigar a respostas. Honro e dou um abraço a todos quanto estiveram envolvidos na defessa desta calamidade PRINCIPALMENTE aos BOMBEIROS voluntários ou não. OBRIGADO e que as lágrimas que deito neste momento em que escrevo deem para apagar qualquer coisa que ainda arda. mais uma vez OBRIGADA
  • Helio Madeiras
    18 out, 2017 vieira de Leiria 17:14
    Prezado vitor Resumo as suas palavras a uma só. Ignorancia
  • jocas
    18 out, 2017 setúbal 15:57
    e destes senhores BOMBEIROS nada se fala, nem um muito obrigado. os partidos só se censuram e atiram mais paus na fogueira. a culpa é deste e da aquele..etc..etc... não oiço nada como: muito obrigado srs Bombeiros, pela vossa força, pela determinação, pela exaustão e ajuda que deram ao apagar todos os incêndios que haviam nesse dia e em outro tantos que já passaram. Um Bem haja aos Soldados da Paz Portugueses
  • Marco Dias
    18 out, 2017 Marinha Grande 08:48
    Sr. Guilherme, sem o querer insultar à primeira vista até parece uma fotomontagem, mas infelizmente não é... eu moro na Marinha Grande e a Vieira de Leiria fica a sensivelmente a 15 km e eu próprio testemunhei aquele cenário de onde estava... acredite que era mesmo assim e mesmo assim, na minha opinião, a fotografia não transparece tudo. Só quem esteve no local sabe o que se viu e sentiu. O factor vento e as correntes de convecção encaminhavam o fumo em forma de turbilhão horizontal... era medonho! Se não tivesse visto com os meus olhos, teria a sua percepção... mas acredite foi real e sem filtros!
  • Maria Jorgelina Estr
    18 out, 2017 Faro 07:51
    Parabéns meu jovem! Abrace mais um ano de vida com a mesma força com que abraça a profissão que escolheu. Bem Haja!
  • ester pedro
    18 out, 2017 Leiria 06:16
    So mesmo quem nao conhece a zona e quem nao viveu o inferno que foi o incendio do pinhal de leiria é que acha que sera Photoshop. Santa paciencia

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