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Bagdad ocupa Kirkuk em vitória estratégica contra o Curdistão

16 out, 2017 - 19:49 • Filipe d'Avillez

O Governo do Curdistão diz que Bagdad pagará um “alto preço” por este acto de guerra “contra o povo curdo”, mas com esta demonstração de força dos iraquianos Erbil fica numa posição bastante mais fragilizada.

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As forças armadas do Iraque reocuparam a cidade de Kirkuk, no norte do Iraque, num golpe repentino que é simultaneamente uma mostra de força contra as forças curdas que ocupavam a cidade desde 2014.

Kirkuk é uma das cidades etnicamente mais diversas do Iraque. Em 2014, quando os militares curdos – conhecidos como peshmerga – começaram a avançar contra os jihadistas do Estado Islâmico, que tinham desbaratado as forças armadas regulares do Iraque em Mossul, acabaram por ocupar Kirkuk e asseguraram o controlo dos poços petrolíferos da cidade, que são de enorme importância para a economia local.

Curdos e soldados iraquianos juntaram forças para expulsar o Estado Islâmico de Mossul este verão, mas as tensões entre as duas partes agravaram-se nas últimas semanas, com o Curdistão a realizar um referendo – considerado ilegal por Bagdad – sobre a independência da região. O referendo não se realizou apenas em lugares aceites como parte do Curdistão, mas também nas chamadas “zonas disputadas”, incluindo em Kirkuk, uma cidade com uma importante população curda, mas em que a maioria é de outras etnias, incluindo uma grande comunidade de etnia turcomana que se opõe à presença curda. Os curdos, por sua vez, dizem que Kirkuk é historicamente parte do seu território, mas que sofreu limpeza étnica durante o regime de Saddam Hussein, que fortaleceu a comunidade árabe.

A vitória do “sim” foi esmagadora, mas Barzani, presidente do Curdistão iraquiano, disse que esta apenas lhe conferia legitimidade para encetar negociações com Bagdad e que não estava a declarar independência ainda.

Mas Bagdad recusou qualquer negociação e tomou várias medidas para isolar os curdos, suspendendo voos internacionais para o Curdistão e emitindo mandados de captura para várias figuras políticas ligadas à realização do referendo. Ao mesmo tempo enviou forças armadas para os arredores de Kirkuk mas o Governo insistiu que não tinha qualquer interesse em entrar em conflito com os curdos.

Durante a madrugada, porém, forças de elite iraquianas entraram na cidade e ocuparam rapidamente os pontos mais estratégicos, incluindo a sede do Governo regional, retirando a bandeira curda que estava hasteada.

Houve notícia de confrontos entre elementos das peshmerga e de milícias aliadas a Bagdad, mas as forças armadas regulares dizem que o seu avanço até ao centro de Kirkuk não enfrentou resistência.

Perante a intervenção iraquiana, operacionais curdos interromperam as operações em dois dos principais poços de petróleo, citando preocupações de segurança. Mas Bagdad ordenou a sua reposição, sob ameaça de ocupar os campos.

A reacção de Erbil, capital do Curdistão, foi rápida. O Governo diz que Bagdad pagará um “alto preço” por este “acto de guerra contra o povo curdo”. Mas a mão dos curdos fica bastante enfraquecida com esta demonstração eficaz de força iraquiana e a insistência em avançar com o referendo deixou o Curdistão sem aliados entre os países vizinhos. A Turquia, sobretudo, reagiu com fúria à realização da consulta popular, temendo que as aspirações independentistas passem para o seu lado da fronteira, onde há uma população curda muito superior.

Os Estados Unidos, que têm armado e treinado tanto as forças árabes como as curdas, têm pedido a ambas as partes que ponham as suas diferenças de lado e se concentrem no combate ao Estado Islâmico, que ainda persiste no país, apesar dos revezes militares que tem sofrido tanto no Iraque como na Síria.

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