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Jornadas da Comunicação Social

Redes sociais: agora, é passar da teoria à prática

29 set, 2017 - 16:47 • Ângela Roque

Participantes nas Jornadas Nacionais de Comunicação social elogiam vertente formativa do encontro, mas não escondem receios.

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“A questão que eu coloco sempre é esta ‘e agora, o que fazemos?’. Temos de ser consequentes, isso é que é fundamental”, diz à Renascença o director do Departamento de Comunicação da Arquidiocese de Braga. Paulo Terroso reconhece que as Jornadas de Comunicação Social, que aconteceram esta quinta e sexta-feira, em Lisboa, alargaram o horizonte em relação ao "admirável mundo novo" dos meios digitais. São muitos e cada vez mais ao dispor, mas é preciso saber usá-los.

“Ontem vimos aqui partilhada a experiência da Renascença, que é extraordinária. Mas, claro que nenhuma diocese em Portugal pode replicar essa experiência. Por uma questão de recursos, mas não só. Em tudo tem de haver um projecto, tem de haver alguém que diga o que é que nós queremos fazer, qual é o caminho que devemos seguir?”, afirma o sacerdote de Braga, que considera fundamental haver mais formação, porque a Igreja já está no mundo digital, mas ainda há “muito amadorismo, e a linguagem nem sempre é adequada. Por exemplo, falamos em ‘pastoral’, mas nem todos entendem o que isso é”.

Como padre preocupa-o, ainda, “a questão de evangelizar. Como é que ensinamos, transmitimos ou suscitamos a fé nas crianças que vivem no mundo totalmente digital, num modo analógico? Temos de produzir conteúdos para eles, e isso é urgente”.

Estas foram as Jornadas Nacionais de Comunicação Social mais participadas até hoje, com mais de 120 inscritos, entre jornalistas, responsáveis por departamentos de comunicação e jornais das várias dioceses, e também de outras instituições ligadas à Igreja. Todos gostaram de saber mais sobre as redes sociais que são hoje plataformas fundamentais para, em termos de comunicação, se chegar a mais público e a novos públicos.

Para Ricardo Perna, jornalista da revista “Família Cristã”, este foi um encontro muito útil: “ter acesso a ferramentas que nos podem ajudar no dia-a-dia acaba por ser um incentivo e um estímulo”. Mas também aumenta a responsabilidade: “se antes podíamos dizer que não conhecíamos, e portanto não fazíamos, agora já conhecemos, portanto não há como não fazer. Mas acho que foi muito útil podermos ouvir, partilhar ideias, e podermos descobrir coisas novas, que agora temos de conseguir adaptar, temos de procurar, trabalhar e fazer caminho. Mas, foi muito útil”.

Esta é uma opinião partilhada por Lídia Barata, do “Reconquista”, o jornal da paróquia de São Miguel da Sé, de Castelo Branco. “Apesar de estarmos na província somos cada vez menos provincianos, como se costuma dizer. Só faz quem sabe, e é preciso aprender e estarmos abertos à mudança, e estas Jornadas abriram portas para isso”. O jornal continua a ser feito em papel, porque “esse será sempre o nosso ponto forte”, explica a jornalista, mas já usam os novos meios digitais e depois deste encontro formativo até vão alargar a presença a mais redes sociais: “já estamos no Facebook, no YouTube, no Meo Canal e no Sapo, mas fruto destas Jornadas o meu colega já abriu conta no Instagram”.

Redes sociais: uma “loucura global”

Mais de metade da população mundial usa a internet. Nas redes sociais, só o Facebook tem mais de dois mil milhões de utilizadores em todo o mundo, mas o Instagram é a rede que mais tem crescido, com mais de 800 milhões de utilizadores. Em Portugal mais de sete milhões de pessoas utilizam a internet, e mais de seis milhões usam as redes sociais. Desses, 5.2 milhões fazem-no através de dispositivos móveis.

A “Partilha nas redes sociais” foi o tema do "workshop" desta sexta-feira de manhã, com Eduardo André, do jornal "online" Observador, a falar das várias redes sociais em que aquele jornal digital está presente e que de forma, já que todas são diferentes e exigem que se adequem os conteúdos a cada uma delas. E exemplifica: “No Instagram um utilizador de 25 ou 26 anos interessa-se mais em saber que lojas novas abriram em Lisboa ou no Porto, se for rapariga quer saber quais são os batons da moda, não o que é que disse determinado candidato autárquico. Já no Facebook há público que quer saber o que é que se passa na Venezuela ou nas eleições autárquicas".

Para o jornalista Ricardo Perna, “o mais importante é percebermos quem somos e o que podemos fazer, ou seja, percebermos o que podemos fazer bem, sem tendências megalómanas, não irmos pela lógica do ter de fazer tudo, porque os recursos são reduzidos. É o principal desafio e preocupação”.

Sobre a presença da Igreja nos meios digitais, Ricardo Perna entende que “há muito trabalho a ser feito e muita gente com vontade de fazer esse trabalho, mas há restrições. Que não são só orçamentais, são de estrutura e de pensamento, que é preciso trabalhar e renovar. Mas, penso que o caminho está a ser feito, e considerando até outras áreas da sociedade, e outras organizações, se calhar a Igreja até está a fazer um caminho melhor do que pensa”.

Media devem dar “voz aos excluídos”

Também o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais sublinhou que a Igreja “não tem de se sentir inferiorizada com o que já faz a este nível, embora haja ainda muito caminho para fazer”, e defendeu a importância de todos os órgãos de comunicação ligados à Igreja – sejam nacionais, diocesanos ou mais locais, nas paróquias ou instituições - caminharem cada vez mais em conjunto, rumo a “uma proposta comunicativa comum”.

Ao intervir na sessão de encerramento das Jornadas, D. João Lavrador afirmou que a Igreja deve olhar para as redes sociais como forma de fomentar a comunhão e inclusão social, dando “prioridade aos excluídos, aos que não têm voz”.

Por seu lado, D. Nuno Brás considerou que a nova realidade multimédia veio para ficar. “Estamos noutra galáxia” que deve levar a Igreja a interrogar-se sobre a sua presença nas redes sociais. “Não estar presente é um tiro no pé. Temos de estar, até por missão. Mas, que presença devemos ter? Que conteúdos? Como podemos estar nesta nova galáxia?”, foram as perguntas deixadas pelo bispo auxiliar de Lisboa, que também integra a Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.

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