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Opinião

​A única eleição que importa

25 set, 2017 - 09:11 • Luís Aguiar-Conraria, economista e professor da Universidade do Minho

Imagino que muitos achem que as eleições decisivas ocorrem em Lisboa e no Porto. Não me parece.

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A 1 de Outubro haverá uma votação que é decisiva para o futuro do nosso país. Essa votação não decorre em Braga, onde voto. O actual presidente da câmara tem a vitória praticamente assegurada, pelo que o interesse nesta eleição é tão reduzido que não investi tempo algum nela. Para a câmara, vou, simplesmente, votar no partido indicado por Pedro Morgado, um amigo de em quem confio. Para a Junta, votarei no candidato que é pai de um colega a minha filha.

Imagino que muitos achem que as eleições decisivas ocorrem em Lisboa e no Porto. Não me parece. Mais vereador menos vereador, são decisivas apenas para os próprios candidatos e, talvez, para o líder do PSD, que poderá ver aumentar a contestação interna face a dois resultados desastrosos, que algumas sondagens deixam antever. Mas, mesmo que o PSD fique em terceiro nas duas maiores cidades do país, nas hostes sociais-democratas, ainda vinga o discurso de que ganharam as últimas eleições legislativas. E, sendo assim, custa-me a crer que Passos não chegue às próximas eleições legislativas como líder do PSD.

Mas há uma votação decisiva para o nosso futuro. É em Loures, que serve de palco para discurso verdadeiramente populista que está a ser testado. Do candidato do PSD a Loures, já ouvimos todas as tiradas típicas do populismo mais rasteiro — desde ataques a minorias étnica a defesas de reintrodução da pena de morte. A forma como o PSD não se desvinculou desta candidatura, assumindo o discurso como seu, com Passos Coelho a chamar demagogo populista a quem ataca André Ventura, sugere que, de facto este discurso não seja um acidente de percurso. É antes um balão de ensaio.

Quer queira quer não, quer tenha consciência disso ou não, Loures vai ser um laboratório a este discurso. O principal problema do populismo é que puxa pelo que de pior há dentro de cada um de nós. Caso o PSD obtenha uma boa votação em Loures, esse discurso populista contaminará o resto da política nacional. Se isso acontecer, seguramente passaremos a ser uma sociedade mais polarizada, mais agressiva, enfim, mais odiosa. As comunidades ciganas serão, provavelmente, as primeiras a ser atingidas. Mas estas dinâmicas político-sociais raramente se estancam nas primeiras vítimas.

A sondagem que conhecemos para Loures sugere que esta estratégia pode estar votada ao fracasso. Se assim for, óptimo. Mas quando há candidatos odiosos as sondagens podem ser pouco fiáveis. Muitas vezes, os entrevistados, sentindo-se pressionados por uma certa censura social, têm vergonha de revelar as suas verdadeiras preferências.

Vergonha que desaparece nas urnas, porque, como sabemos, o voto é secreto.

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  • João Lopes
    25 set, 2017 Viseu 11:13
    O PSD fez bem em não se desvincular desta candidatura, assumindo o discurso como seu, e Passos Coelho fez bem em chamar demagogo populista a quem ataca André Ventura (que, aos 34 anos, é um pai de família, tem um doutoramento, leciona em várias áreas do Direito em duas universidades, sendo também professor convidado na Universidade Nova de Lisboa). Luís Aguiar-Conraria, economista e professor da Universidade do Minho alinha no despersonalizado politicamente correto, fazendo censura à legítima liberdade de opinião. No próximo dia 1 de outubro a população de Loures pronunciar-se-á! Viva a liberdade!

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