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Da Capa à Contracapa

Vitor Bento. "A Alemanha vai ter que mudar o seu quadro mental sobre o Euro"

24 set, 2017 - 20:44

O economista Vitor Bento acredita que a "elite alemã" vai perceber que tem que aceitar maior integração política na União Europeia. As eleições alemãs podem dar lugar a uma mudança na zona euro, admite o professor universitário.

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O que pode mudar na Alemanha com um novo mandato de Merkel ? " Se for verdade que este pode ser o ultimo mandato da chanceler Merkel, ela quererá deixar um legado para história. E não quererá terminar a sua carreira política com uma Europa desmantelada ou em crise", responde Vitor bento no programa "Da Capa à Contracapa" da Renascença em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos.

O economista, que debateu o tema com a ex-Secretária de Estado dos Assuntos Europeu Margarida Marques, vislumbra sinais de uma possível mudança na União Europeia e em particular na zona euro. Vitor Bento diz que os decisores alemães vão ser forçados a uma alteração de posicionamento político que, na tese deste economista, parte também da necessidade de um reforço da defesa europeia face à instabilidade causada pela Administração Trump e pela saída do reino Unido da União Europeia.

"Julgo que o entendimento da elite alemã é que a única forma de a Europa conseguir o reforço da sua capacidade de defesa tem que ser à escala europeia, tem que ser um mecanismo de defesa europeu e não de base nacional. Para ser um mecanismo de defesa europeu, implica uma maior integração política. Para que essa integração politica possa ser aceitável é necessário desenvolver mecanismos que assegurem uma maior coesão económica e social dentro da zona euro. Isto vai levar a que a Alemanha mude uma parte do seu quadro mental face à forma como tem olhado para a União Monetária", argumenta Vitor Bento no "Da Capa à Contracapa".

Manter a liberdade de não estar no Euro

No plano europeu, o economista acredita que os desequilíbrios na zona euro devem ser resolvidos pela via de um orçamento federal na zona euro.Vitor Bento anota ainda que os países fora da zona euro têm tido capacidade acrescida de melhorar o seu crescimento económico no contexto de crise, discordando da proposta de tornar o Euro a moeda quase obrigatória da União Europeia.

"A Europa poderia funcionar de forma integrada deixando liberdade aos países para fazerem ou não parte da moeda única e terem liberdade cambial se quiserem. Mais uma vez esta crise mostrou que a liberdade cambial deu mais mecanismos de defesa aos países do que a rigidez cambial, tendo em conta a forma como foi gerida", explica Vitor Bento.

Alemanha vai acabar por mudar por si

No plano doméstico alemão há que resolver a questão dos excedentes que desequilibram também a economia europeia.

" Os preços da Alemanha estão 20% abaixo daquilo que seria o seu nível de equilíbrio. O que isto significa, esticando muito o meu argumento, é o equivalente à Alemanha estar a fazer dumping no mercado internacional , vendendo os seus produtos 20% abaixo do seu preço de mercado", exemplifica o especialista em assuntos económicos.

Vitor Bento acredita que a Alemanha saberá fazer a sua própria reforma económica que passa por "revalorizar internamente as suas condições de custos, fazendo o simétrico do que foi imposto aos países com défice externo pelas respectivas troikas. Ou então tem que se institucionalizar um mecanismo de transferencias sem dívida que permita reciclar os excedentes de um lado para o outro evitando que se crie um défice de procura dentro da zona euro".

O programa "Da Capa à Contracapa" é um programa da Renascença em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos para ouvir ao sábado às 9h30 ou em podcast em rr.sapo.pt

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