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Sente-se no banco do jardim e volte ao desconhecido do "eu" (quem convida é Tolentino Mendonça)

22 set, 2017 - 18:59 • Filipe d'Avillez

O convite está no “Pequeno Caminho das Grandes Perguntas”, apresentado esta sexta-feira na Renascença. Diz Tolentino: "A fé é uma atitude de confiança fundamental que colocamos na vida."

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O novo livro do padre José Tolentino Mendonça, “Pequeno Caminho das Grandes Perguntas”, começa com um convite. Sente-se no banco de jardim. Seguem-se uma série de curtos textos, não mais do que uma página cada um, com interrogações e reflexões que pretendem ajudar o leitor a encarar as grandes perguntas de que toda a humanidade é herdeira, as perguntas “que nos precedem, que vêm de muito longe”. Não há respostas. As respostas são o que menos interessa nesta viagem.

Na conversa que manteve com Guilherme d’Oliveira Martins esta sexta-feira no auditório da Renascença, no lançamento do seu mais recente livro, o poeta, filósofo, teólogo, biblista e sacerdote José Tolentino Mendonça recordou a tradição asiática de os intelectuais cultivarem jardins.

“Descer ao jardim é entrar em contacto com a natureza. É a oportunidade que damos ao silêncio e ao espanto. Não é por acaso que o livro começa com um convite ao leitor que se sente num banco de jardim”, explica.

Este não é um livro religioso, mas procura elencar algumas das grandes interrogações da humanidade e é, por isso, atravessado pela teologia. “A fé é uma atitude de confiança fundamental que colocamos na vida, que nos ajuda a conciliar os opostos. Noite e dia; lágrimas e sorriso; perda e encontro. Nesse caminho que parece impossível, se arriscarmos vamos encontrar-nos”, diz Tolentino Mendonça.

Porque é este, no fundo, o propósito de toda a grande literatura, considera o poeta. “Toda a literatura, a Bíblia, Ulisses, fala de um regresso a si mesmo. Toda a literatura é um mapa de regresso a esse grande desconhecido que é o nosso coração”, diz.

Para Guilherme d’Oliveira Martins também a oração é essencialmente uma pergunta. Por mais que as pessoas costumem encará-la como uma petição, ou até uma espécie de troca comercial, “a oração tem a forma de uma pergunta. Essa pergunta muitas vezes é: ‘Estás aí?’”.

Quem conhece o padre Tolentino sabe que se trata de uma pessoa com uma agenda muitíssimo preenchida, entre a actividade pastoral, o trabalho na Universidade Católica e as muitas solicitações que tem. Foi neste sentido que lhe foi dirigida uma pergunta da assembleia: afinal de contas, para quem advoga a necessidade de parar e de “descer ao jardim”, como é que ele mesmo faz para cumprir estas recomendações?

A pergunta motiva risos do resto da plateia e do próprio. A resposta vem pronta: “Escrevo livros não porque encontrei mas porque procuro”, diz. “Se não fosse a oração, muitas vezes frágil e imperfeita de todos os dias, não seria eu, não conseguiria.”

O ““Pequeno Caminho das Grandes Perguntas”” não contém “lições para o leitor”, garante. “Caminhamos juntos”.

A apresentação desta obra contou com a participação do músico luso-iraniano Mazgani, amigo de José Tolentino Mendonça. A dias de lançar um novo álbum, Mazgani interpretou dois temas do seu reportório e, antes de cantar a música com que se fechou a sessão, contou uma história.

“Há vários anos eu tive um concerto que era muito importante para mim. Liguei ao meu amigo Tolentino e disse-lhe: ‘Meu grande amigo, este concerto é muito importante, vem viver este momento comigo, meu grande amigo’, ao que ele respondeu: ‘Não posso meu amigo, pediram-me para ir dar uma conferência sobre a amizade’”.

"Pequeno Caminho das Grandes Perguntas”” tem chancela da Quetzal e está já nas livrarias.

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