21 set, 2017 - 15:09 • Isabel Pacheco
Em Barcelos, nestas eleições autárquicas, há candidaturas socialistas em dose dupla.
Pelo PS nacional recandidata-se o autarca Miguel Costa Gomes, como independente, e depois de ter batido com a porta ao partido socialista, Domingos Pereira, que, até Maio, assumia o cargo de deputado na assembleia e de vice-presidente na autarquia.
O caso dividiu o partido e com a cisão chegou a esperança numa mudança no xadrez politico com o renovar das esperanças da direita e com movimentações à esquerda.
Ambos os lados, esquerda e direita, vêem no “momento sensível” do PS de Barcelos a oportunidade para uma reviravolta na autarquia que, há dois mandatos consecutivos, veste de rosa.
Enquanto os monovolumes das campanhas eleitorais percorrem as ruas do centro de Barcelos, o BE aposta em bicicletas. É junto aos veículos de duas rodas, colocados numa das praças da cidade, que encontramos o candidato bloquista à Câmara de Barcelos. Quer chamar atenção para a mobilidade no concelho, que está tão “estática como as bicicletas”, ironiza José Ilídio Torres.
A questão é uma das bandeiras da candidatura bloquista, que ainda não chegou ao fim da corrida e já pensa num eventual casamento após 1 de Outubro, seja com o socialista Miguel Costa Gomes ou com o ex-socialista Domingos Pereira.
“Não fazemos distinção entre um e outro”, esclarece o candidato do partido liderado por Catarina Martins que diz-se “disponível” para avançar com a relação “mediante um contrato”.
A estratégia é justificada por José Torres pelo “momento muito sensível da vida política de Barcelos”. É que o município vê-se a braços, pela primeira vez, com duas candidaturas da área socialista: a do autarca Miguel Costa Gomes pelo PS e a do dissidente socialista Domingos Pereira, agora independente.
Bloco teme avanço da direita
Um cenário que leva o bloquista a prever o avanço da direita, reconhecendo que com a cisão no PS, o PDS conquistou terreno e “condições para ganhar estas eleições”, considera o candidato do Bloco.
As mesmas razões levam Vasco Santos, do Movimento Alternativo Socialista, a defender uma só candidatura com o PCP e o BE. A proposta não chegou avançar e “perdeu-se a oportunidade”. “É pena que isso não tivesse acontecido”, lamenta o candidato.
Estas são as estratégias da esquerda perante a cisão no PS em Barcelos. Uma divisão negada por Miguel Costa Gomes que garante que a “união do partido não foi tocada” pelo “pequeno acidente de percurso”. Pelo contrário, acrescenta o candidato socialista, que acredita que as eleições vão mostrar “claramente” que “o PS vai se reafirmar”.
Domingos Pereira, ex-deputado socialista e candidato independente à câmara onde chegou a ser vice-presidente, vê as coisas de forma diferente. “Fui literalmente corrido da câmara municipal sem, até hoje, me terem dito porque que saí”, queixa-se Domingos Pereira, que, depois de ter abdicado de todos os cargos políticos, parte em “pé de igualdade” com os outros candidatos.
Uma situação que parece incomodar o candidato social-democrata Mário Constantino que exige explicações do “PS formal e do PS informal” sobre as razões que levaram à divisão do partido em “nome da transparência”.
“Desavenças” que não são mais do que “ruído de fundo” da campanha, diz o candidato da CDU, que “pouco ou nada esclarecem” os eleitores.
Mário Figueiredo reconhece que a divisão no PS é uma oportunidade para o PCP conquistar o seu primeiro lugar na vereação da autarquia. No entanto, Mário Figueiredo lamenta que o episódio da divisão no PS em Barcelos seja mais uma razão para o “descontentamento dos eleitores” e para o “descrédito da política e dos partidos”. “É uma novela”, remata.