23 ago, 2017 - 16:39
A Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) pede a retirada de um bloco de actividades com versão para menino e menina, destinado a crianças entre os quatro e os seis anos.
A recomendação é feita "por orientação do ministro Adjunto", Eduardo Cabrita, diz a CIG em comunicado divulgado esta quarta-feira.
Ao optar por lançar duas publicações com actividades
que diferenciam cores, temas e grau de dificuldade para rapazes e raparigas, a editora "acentua estereótipos de género que estão na base de desigualdades profundas dos
papéis sociais das mulheres e dos homens", argumenta o organismo público responsável pela promoção e defesa da igualdade de género.
A CIG aponta como exemplo uma actividade para os rapazes que promove o "contacto com o exterior", com um campo, árvore, ancinho e uma águia, "enquanto para as raparigas a actividade apresenta cinco objectos, todos eles ligados a actividades domésticas (leite, manteiga, iogurte, alface e maçã).
Ainda num outro exemplo, a proposta para os rapazes é a
de ajudar um cientista construir um robô, enquanto para as raparigas é a de ajudar
a mãe a preparar o lanche.
"As publicações apresentam, ainda, diferentes graus de
dificuldade em algumas das actividades propostas para rapazes e raparigas", conclui a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.
Por estes motivos, a CIG recomenda à Porto Editora a retirada dos pontos de venda dos dois blocos de actividades.
O organismo público disponibiliza-se "para colaborar na revisão dos conteúdos" dos manuais, "no sentido de eliminar as mensagens que possam ser promotoras de uma diferenciação e desvalorização do papel das raparigas no espaço público e dos rapazes no espaço privado".
O bloco de actividades no centro da polémica tem uma versão azul para menino e cor de rosa para menina. As diferenças começam na capa e prosseguem nos conteúdos apresentados.
De acordo com a edição desta quarta-feira do jornal "Público", nas 62 actividades propostas, seis são mais difíceis no manual dos rapazes e três no manual das raparigas.
Um dos exemplos apontados é um labirinto, que no bloco de actividades dos meninos é muito mais complicado de resolver, em comparação com o das meninas.
Em declarações à Renascença, a presidente da CIG, Teresa Fragoso, considera que este manual “não defende aquilo que a própria Constituição defende, que é a promoção da igualdade”.
Teresa Fragoso explica que os livros foram alvo de uma análise minuciosa antes da recomendação de retirada dos postos de venda e que a CIG está disponível para ajudar a Porto Editora a rever o bloco de actividades.
Porto Editora suspende venda de manuais polémicos
Após a recomendação do ministro adjunto e da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, a Porto Editora anunciou que a suspensão da venda dos blocos de actividades.
"A Porto Editora já suspendeu a venda destes livros e vai transmitir às livrarias e demais pontos de venda essa indicação", refere em comunicado.
A editora diz ainda estar disponível para trabalhar com CIG no sentido de rever os exercícios que possam ser considerados discriminatórios ou desadequados nos blocos de exercícios diferentes para meninos e meninas.
Porém, a editora "reafirma que as edições em causa não foram trabalhadas sob qualquer perspectiva discriminatória ou preconceituosa, a qual é absolutamente contrária aos valores que norteiam a sua actividade editorial desde sempre".
A Porto Editora vai sugerir o agendamento de uma reunião de trabalho com a CIG com a brevidade possível.
Numa mensagem publicada terça-feira no Facebook, a Porto Editora já tinha rejeitado "discriminação e preconceito" nas suas publicações.
"Em ambas as edições são trabalhadas as mesmas competências, na mesma sequência e com exercícios semelhantes. A diferença está na ilustração e na abordagem artística que as diferentes ilustradoras fizeram", garante a editora.
Em declarações à Renascença, o presidente da Confederação Nacional das Associações e Pais (Confap), Jorge Ascensão, afirma que o conteúdo diferenciado dos livros não “faz sentido”.
“Havia alguns exercícios mais complicados para meninos, havia outros mais complicados para meninas. Não faz sentido o próprio material utilizado para o desenvolver o raciocínio. Hoje as meninas também gostam de futebol, de carros e os rapazes também gostam de outras actividades que, noutros tempos, tínhamos muito a ideia e a cultura de as discriminar conforme o género”, diz Jorge Ascensão.
“Hoje faz sentido é fazer igual, nem as cores das capas têm de ser diferentes. Acho que com toda a tranquilidade a editora reconheceu que, provavelmente, isso não faria muito sentido e resolveu esta situação”, sublinha.
[notícia actualizada às 20h08]