20 ago, 2017 - 00:09
A Federação Nacional de Caçadores e Proprietários (FNCP) e o Movimento de Caçadores "Mais Caça" criticaram que seja possível caçar em Mértola e Almodôvar (Beja), no domingo, e revelaram que vão protestar junto do Governo.
"Vamos pedir um esclarecimento ao primeiro-ministro" sobre "como é que foi possível isto acontecer, a falta de respeito sobre os seus despachos e a falta de respeito destas autarquias perante os cidadãos dos outros concelhos", afirmou à agência Lusa Eduardo Biscaia, secretário-geral da FNCP.
O Movimento de Caçadores "Mais Caça" também se insurgiu, em declarações à Lusa, por a caça ser possível nestes concelhos alentejanos, abrangidos pela declaração de calamidade pública decretada pelo Governo e que vigora até segunda-feira.
"Estamos revoltados por numas zonas se poder caçar e noutras não. Na segunda-feira, vamos apresentar a nossa repulsa perante o primeiro-ministro, a ministra da Administração Interna, o Presidente da República e a Assembleia da República", argumentou José Batista, do Movimento de Caçadores "Mais Caça".
Os autarcas de Mértola e de Almodôvar, Jorge Rosa e António Bota, respectivamente, disseram à Lusa que se vai poder caçar nas zonas florestais locais, no domingo, por indicação da GNR e por ausência de planos municipais de defesa da floresta contra incêndios.
Almodôvar e Mértola são dois dos três concelhos do distrito de Beja - o outro é Odemira - abrangidos pela declaração de calamidade pública com efeitos preventivos, em vigor em 155 concelhos do país.
O diploma do Governo proíbe o acesso, circulação e permanência no interior dos espaços florestais, previamente definidos no Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios, bem como nos caminhos florestais, caminhos rurais e outras vias que os atravessam.
Na sexta-feira, a GNR anunciou que esta declaração inclui a proibição da prática de caça, cuja época abre no domingo, assim como pesca desportiva e outras actividades.
Contactado pela Lusa, o Comando Territorial de Beja da GNR indicou que, em Mértola, Almodôvar e Odemira, vai ser "permitido que as pessoas tenham acesso aos espaços florestais", no domingo, e que "não há matéria para proibir a caça", porque os planos municipais de defesa da floresta contra incêndios "não estão em vigor" nestes concelhos.
Em Odemira, o presidente da Câmara, José Alberto Guerreiro, disse à Lusa que, apesar de aguardar aprovação pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) da revisão do seu plano municipal, o município "recomendou que não se deve caçar", no domingo, mas esse não é o entendimento dos autarcas de Mértola e de Almodôvar, que afirmaram que vai ser possível caçar.
O secretário-geral da FNCP considerou "lamentável que os comandantes locais da GNR e os autarcas desses dois concelhos não tenham noção do que está a acontecer no país", em matéria de incêndios e dos prejuízos que estes provocaram "na maior parte dos caçadores deste país e nas espécies".
"É uma discriminação em relação a outros concelhos do país e aos caçadores que ficaram com as suas propriedades e casas ardidas. E é uma situação discriminatória em relação às próprias espécies cinegéticas, estão acantonadas e fora do seu habitat", alegou Eduardo Biscaia.
A GNR, continuou, "deveria ter tomado uma atitude diferente e, se tinha dúvidas sobre a aplicação do despacho do Governo, deveria ter pedido esclarecimentos ao gabinete do primeiro-ministro".
"O despacho é para cumprir e a GNR e as câmaras não se podem sobrepor a um despacho governamental", criticou, igualmente, José Batista, do movimento de caçadores.