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Entrevista

OSCOT. "Portugal tem de aproveitar este momento para rever plano antiterrorista"

18 ago, 2017 - 18:26 • André Rodrigues

​Ainda não "fizemos tudo o que estava ao nosso alcance" para impedir ataques terroristas, apesar de o risco ser “menor" do que noutros países, diz o presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo.

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Um dia depois do duplo atentado na Catalunha, Espanha, o presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT) diz que as derrotas do Estado Islâmico no Iraque e na Síria aumentam o número de jihadistas que podem querer atacar em solo europeu.

Em Portugal, diz António Nunes, o risco é “menor”, mas é preciso aproveitar essa situação para “fazer uma revisão” do plano de combate ao terrorismo.

Espanha tem demonstrado por diversas vezes uma grande eficácia na contenção do fenómeno jihadista, em comparação, por exemplo, com outros parceiros europeus. Nos últimos anos, Espanha deteve e expulsou até cidadãos estrangeiros suspeitos de ligações terroristas. Este duplo atentado na Catalunha é um sinal de que não existe, de facto, uma estratégia que se revele eficaz para evitar este tipo de ataques?

De facto, as forças e os serviços de segurança em Espanha estão muito habituados a lidar com o terrorismo doméstico e neste caso não é o terrorismo doméstico. Não quero dizer com isto que eles não tenham uma elevadíssima capacidade de lidar com este fenómeno, que têm.

Muitos dos simpatizantes ou militantes do Daesh [Estado Islâmico] ficaram incapacitados de ir para o território do Daesh, por ausência desse mesmo território, que está a ser reconquistado pelas forças de cada um dos países. Hoje temos dois problemas: o problema dos simpatizantes que queriam ir e que ficaram; e, por outro lado, aqueles que lá estão e que vão tentar regressar ou que têm ligação aos diversos países. Temos aqui um problema mais complexo para resolver.

E depois há a radicalização simples: os cidadãos nacionais que seguem estes grupos terroristas através das redes sociais e que juram fidelidade ao autodenominado Estado Islâmico.

Não me parece que sejam só medidas de encerramento de fronteiras, e outras que já ouvi alguns analistas defenderem, a resolver este problema. Espanha pode ser um bom exemplo neste campo das medidas mais duras, mas Portugal tem um sucesso muito elevado no que toca à integração das comunidades islâmicas.

Mas isso não coloca Portugal com risco zero.

Mas tranquiliza-nos dizer que temos excelentes forças e serviços de segurança, que temos uma comunidade islâmica que está integrada e que, por isso, a movimentação de elementos radicais em Portugal torna-se mais difícil. Não estou a dizer que é impossível, estou a dizer que é mais difícil.

O nosso risco é menor. Se podemos afirmar que em Portugal nunca acontecerá um atentado terrorista, não é verdade. Mas temos boas condições para diminuir o risco, isso temos.

A lógica destes terroristas consiste em atacar várias pessoas, de preferência de várias nacionalidades porque acreditam que por cada vítima de determinado país é aquela nação que está a ser atacada. O bom momento do turismo português pode pôr o país no mapa dos jihadistas?

Acho que o que isso determina é uma maior responsabilidade das nossas forças e serviços de segurança e dos nossos políticos. Se Portugal tem hoje uma comunidade que está perfeitamente integrada, se tem serviços de informações e forças e serviços de segurança a trabalharem nessa luta antiterrorista, se sabemos que há dificuldades no estabelecimento de células terroristas em Portugal, por ausência de apoios logísticos e linguísticos, temos de aproveitar este momento para fazer uma revisão do nosso plano de combate ao terrorismo, para incentivar as nossas forças de serviços de segurança a trabalharem ainda mais sobre estes fenómenos, aumentar a troca de informações dos serviços congéneres de todo o mundo e garantir uma maior atenção para que isso não possa vir a ocorrer.

Temos é de aumentar a prevenção. E aumentar a prevenção é olhar para os nossos instrumentos. E temos bons instrumentos, mesmo jurídicos: já podemos condenar alguém que utiliza as redes para a radicalização ou para o fomento da radicalização; temos um plano nacional de combate ao terrorismo – que não se conhece porque é reservado; temos uma Unidade de Combate Antiterrorista, que já funciona há muitos anos. Temos um Sistema de Segurança Interna, temos um Sistema de Informações da República Portuguesa, temos uma unidade da Polícia Judiciária que tem resultados excelentes.

Temos os instrumentos, precisamos é de não abrandar a nossa atenção sobre este fenómeno e, por outro lado, fazer uma revisão de tudo isto e fazermos uma pergunta que por vezes nos esquecemos de fazer: será que tudo aquilo que concebemos na teoria tem uma aplicação prática? Se não tem, precisamos de reforçá-la. E se corrigirmos eventuais desvios e faltas de recursos humanos ou materiais, criamos todas as condições para diminuir esse risco até ao limite inferior que seja possível.

E depois, se ocorrer [um ataque], podemos fazer um balanço e dizer que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance e não escapámos. Como não escaparam os espanhóis, franceses, alemães ou ingleses.

Este combate passa muito por acções visíveis de dissuasão, por exemplo. Não seria tempo de artérias como a Avenida da Liberdade, em Lisboa, e a Rua de Santa Catarina, no Porto, terem barreiras de betão para impedir atropelamentos em massa?

Não sou apologista de correr atrás do prejuízo.

Falo de prevenção.

Mas o terrorismo não se baseia nessas situações. Porque vamos pôr as barreiras e eles vão utilizar explosivos. Não estou a dizer que não se deve fazer. Estou a dizer é que devemos reduzir a situação. Mais do que as barreiras, tem que ser a presença policial visível. Por vezes, em Portugal, descuidamos essa presença policial.

Uma aposta que Portugal terá de fazer é nos sistemas de videovigilância públicos. Temos poucos.

Comentários
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  • Filipe
    19 ago, 2017 évora 13:14
    Por aqui se vê que um cartão partidário é uma espécie de Universidade que abre todas as portas em Portugal , neste caso bem visível : A Incompetência material e moral deste senhor . Esteve na ASAE , agora fala ... fala ... como os papagaios no Zoo e amanhã estará noutro sítio a pregar aos peixes. Nem os padres faziam melhor para convencer as pessoas que tem sabedoria , mas é muito triste que Portugal do tamanho populacional de uma média cidade Europeia , tenha uma quantidade de terroristas partidários a governar gente inocente .
  • luis santos
    18 ago, 2017 coimbra 19:50
    Nós cá não tememos o daesh. 11 mortos em Barcelona? 65 em Pedrogao Grande, 5 mortos na Belgica? 11 na Madeira ! terroristas? politicos,proteçao civil, patroes do siresp, etc etc etc..........
  • Raul Barros
    18 ago, 2017 Vidago 19:39
    Como podemos acreditar que estamos preparados para situações como esta em Barcelona. 1 - Temos os casos dos paióis de Tancos.O que nos prova isto:Que estamos entregues ao destino.E pior que o roubo em si foi o que se disse depois pelos mais altos responsáveis do Pais e Forças Armadas.O ridículo sobressaiu.2 - Já agora o Pres. Observatorio já teve um episódio quando foi chefe da"polícia" e digo isto porque nesse tempo não podia ter outro nome, hoje tem o mesmo nome mas actua de maneira diferente.Este chefe a lei era para os outros ele tinha exclusão de deveres.Tempos de Sócrates.O que estranho é que pessoas assim estejam sempre na onda da crista.Por isso prova que aqui quem entrar nestes esquesitos tipos de vida"tipo máfias"estão sempre integrados seja onde for e nunca perdem lugares importantes e bem renumerados.Sócrates não estar no poder, mas a sua entourage está toda incluído primeiro ministro.Algum País pode mudar assim.Jamais.Podia apontar outras circunstâncias que não me leva a crer que estamos seguros.Essa gente sem classificação ainda não descobriram Portugal. No dia que isso acontecer nem quero pensar o que acontecerá.Uma coisa antecipo já que estarei na primeira linha da frente para enfrentar a sua acção incompreensivel.Estive já em diversos conflitos Africa e depois de abril travar a fúria comunista que queria o poder.
  • marko
    18 ago, 2017 porto 19:30
    Não sei porquê, não consigo explicar! Mas incomoda-me ouvir este senhor, já desde o tempo da ASAE. Talvez por incoerência... por protagonismo... sei lá. Não foi este senhor que fumou dentro de um avião? E depois, entendo que em vez de se vir aqui lembrar pecado,s a quem supostamente tem intenções de fazer mal, era mais útil a todos nós cidadão, que este tipo de entrevistas nem sequer fossem permitidas a este senhor. Entendo que estes assuntos deviam ser tratados no maior dos secretismos, pois caso este senhor não saiba, pode muito bem estar a entregar o ouro ao bandido. Ou a espantar a caça, será que ele tem noção disso? Porque razão se hão-de propagandear estas coisas? Isto é irritante!
  • Mario
    18 ago, 2017 Portugal 18:43
    Mas rever o que??? algo que nunca teve???
  • J
    18 ago, 2017 AL 18:41
    o problema só se resolve à semelhança do que fez a Hungria.

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