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Óleos alimentares: 35 mil toneladas vão para o esgoto mas podiam encher o depósito do carro

17 ago, 2017 - 07:10

Metade das autarquias não cumpre a legislação que obriga a instalar pontos de recolha. “Há aqui muito a fazer para recuperar este resíduo, que no fundo é um recurso”, alerta a Zero.

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Cerca de 60% dos óleos alimentares são despejados nos esgotos domésticos. A associação ambientalista Zero alerta para a reduzida reciclagem, que leva a que todos os anos sejam desperdiçadas 35 mil toneladas, num valor calculado em 28 milhões de euros.

“Há aqui muito a fazer para recuperar este resíduo que, no fundo, é um recurso”, diz à Renascença Rui Berkemeier, da Zero, lembrando que a culpa é essencialmente das famílias, mas também do sector hoteleiro e da restauração.

Esses óleos, que podiam ser valorizados para biodiesel, criando um volume de negócios de 28 milhões de euros, vão para os colectores de esgotos domésticos, “criando problemas nas estações de tratamento de águas residuais ou prejudicando os ecossistemas marinhos”.

Num comunicado, a associação ambientalista, com base em dados de 2015 fornecidos pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), explica que nesse ano foram colocadas no mercado 77 mil toneladas de óleos alimentares, pelo que descontando as diferentes taxas de perda deveriam ser recicladas 58 mil toneladas.

Ao todo, diz a associação, 15 mil toneladas (44% do total) são colocadas nos esgotos pelos cidadãos e 19 mil toneladas são desperdiçadas pelo sector dos hotéis, cafés e restaurantes. É este sector o que gera a maior percentagem de resíduos de óleos alimentares (69%), com o sector doméstico a gerar mais 25% e a indústria (batatas fritas, por exemplo) apenas 6%.

“Ao recolhermos o óleo estamos a dar-lhe uma nova vida: a sua transformação em biodiesel, um combustível substituto do gasóleo e renovável”, alerta este especialista em resíduos, concluindo que é uma medida “dois em um”. “Assim, evitamos a poluição do ambiente e problemas nas ETARS e ao mesmo tempo estamos gerar para o nosso país – que não é produtor de petróleo – uma fonte de energia renovável. Por isso, faz todo sentido que haja uma aposta do Governo e das autarquias, com a participação dos cidadãos na recolha destes resíduos”.

Sistema de recolha não funciona

A taxa de recolha no sector doméstico é de 1,6%. No sector da hotelaria e da restauração, a taxa de 46% parece aceitável mas só revela que a lei não é cumprida, porque a entrega de óleos usados é obrigatória.

De resto, metade das autarquias também não cumpre a legislação que obriga a instalar pontos de recolha em função do número de residentes (com menos de 25.000 habitantes terá de instalar 12 pontos, com mais de 300.000 serão 80).

E assim pelo menos 17 milhões de litros de óleos usados são despejados pelos cidadãos nos esgotos domésticos, diz a associação. São quase dois mil litros por hora, aumentando os custos de tratamento das águas residuais em 25% e afectando o ambiente.

Problemas que podiam ser evitados e ao mesmo tempo gerar recursos, como faz a BRAVAL – sistema multimunicipal que abrange os Municípios de Braga, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Amares, Vila Verde e Terras de Bouro, apontado pela Zero como um bom exemplo.

A associação ambientalista recomenda um esforço para melhorar a recolha de informação e de sensibilização da população, e um reforço da fiscalização do cumprimento da lei, além da criação de incentivos para que a recolha possa ser melhorada nos municípios.

Comentários
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  • Tiago Correia
    17 ago, 2017 Porto 13:34
    Do filme "um Governo bom a legislar é mau a fiscalizar". E preparem se que apartir do próximo ano ainda sera pior. Com o lançamento das eGar e por conseguinte o pagamento de uma taxa por todos os produtores de oleo alimentar usado (restaurantes) ainda vai ser pior. Os restaurantes irão ainda mais deitar os OAU pela banca e vai cair por terra a luta de empresas como a minha em atribuir mais valias pela produção de OAU. O estado é composto por pessoas a legislar sem experiência de matérias e isso só pode dar mau resultado e fugas fraudes. Para terminar, parte dessas "perdas" resultam em biodiesel ilegal. E mais fácil e rentável vender OAU para produtores ilegais que a produtores certificados. Minha gente estamos a falar de produção de um combustível semelhante ao gasoleo. Em usinas caseiras que escoam todo uma matéria prima a margem de impostos e complicações. Acreditem o oleo não acaba nas etar.
  • Andreia
    17 ago, 2017 Forte da casa 09:53
    Quando querem que as famílias reciclem óleos usados nao podem 1 oleao por freguesia que esta instalado numa bomba de gasolina, por diversas vezes coloco o óleo numa garrafa e sou obrigada a deixa-la ao pé do lixo porque nao existe nenhum ponto de recolha .
  • Macela
    17 ago, 2017 Porto 09:20
    O que se verifica é que as pessoas estão dispostas a fazer muito pouco se não tirarem daí um proveito próprio e imediato e se ainda por cima exigir um esforço por mais pequeno que seja. Muito boa gente acha uma "maçada" até a colocação das pilhas no pilhão, quanto mais recolher, armazenar e transportar o óleo usado até ao ponto de recolha, quando é muito mais cómodo deitá-lo pelo cano abaixo...As pessoas têm uma consciência cívica muito levezinha.
  • Artur Silva
    17 ago, 2017 V.N.Gaia 08:48
    É muito bonito falar do ambiente e sensibilizar as populações mas depois o mesmo Estado que tem ecopontos, pilhões, oleões, etc., não tem pessoas para fazer a inspeção do cumprimento das leis por ele criadas, as empresas ignoram as leis ambientais porque são uma despesa avultada e equipamentos, etx, etx. e depois admirem se as pessoas que ha incêndios pois prefere se deixar a biomassa florestal no chão ( em vez de a utilizar em centrais de biomassa como a de Mortágua ) , que morrem pessoas como em vila franca de xira com a ADP e c.ia lda. Que ha praias em qye os niveis de contaminação sao tão elevados que banhar se nessa praia é proibido. Enfim! E preciso criar as condições para que as leis sejam cumpridas. Haver leis sem fiscalização é uma palhaçada! !
  • AM
    17 ago, 2017 Lisboa 08:45
    Pois. Andam na internet a estudar os bons exemplos dos Brasileiros? Tem carro a gasoleo, então filtrem o oleo com papel de filtro, lavem com agua, e sequem ao sol. Usem um garrafão de vidro castanho... A minha fábrica da quimica, e começem com 10%... Aprendam.

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