Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

​Ministro lamenta que "revolução" na floresta seja criticada por quem não contribuiu

13 ago, 2017 - 14:38

Capoulas Santos lamenta que tenha sido preciso a tragédia de Pedrógão Grande para aparecerem entendidos que apenas criticam mas que em nada contribuíram.

A+ / A-

O Governo fez o que poderá ser "a maior revolução que a floresta conheceu desde os tempos de D. Dinis" mas todos os que agora criticam "foram incapazes de dedicar 60 segundos" ao tema quando esteve em discussão pública.

A acusação é de Luís Capoulas Santos, ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, que em entrevista à Lusa lamenta que tenha sido preciso a tragédia de Pedrógão Grande (64 mortes num incêndio em Junho) para aparecerem entendidos que apenas criticam mas que em nada contribuíram.

"Todos os que estiveram distraídos durante um ano, todos os que passaram depois de Pedrógão a comentar a floresta todos os dias, foram incapazes de dedicar 60 segundos à discussão do tema quando ele esteve em discussão pública. Foram nessa altura incapazes de avançar com qualquer crítica, qualquer sugestão. Ocorreu a tragédia e de todos os lados surgiram entendidos sobre a matéria e ainda por cima acusando o Governo de não ter trabalhado sobre o assunto, quando esse trabalho estava em marcha e era visível, estava até publicado no Diário da Republica", disse.

Agastado, Capoulas Santos responde aos que o criticam que o programa do Governo foi aprovado em 2015 e que contemplava as medidas sobre a floresta. O trabalho para a sua preparação decorreu da criação de um grupo interministerial decidido em agosto do ano passado, o Governo aprovou todo o pacote sobre a floresta em Março último, "depois de um longo período de discussão pública", enviando de seguida os diplomas para o Parlamento. Tudo antes, recordou o ministro, da tragédia de Pedrógão, em Junho.

Apesar das dificuldades, apesar de ter sido "penoso" ouvir criticas dos que não apresentaram propostas, estão aprovados 10 dos 12 diplomas sobre a floresta, resultado de dois conselhos de ministros, debate parlamentar e acompanhamento do Presidente da República. Se foram aprovadas portanto terão certamente "algum mérito" disse o ministro.

Lembrando que quando da anterior passagem pelo Governo (de António Guterres) criou as equipas de sapadores florestais (projecto que não avançou depois), e que já nessa altura a floresta era uma prioridade, Capoulas Santos é peremptório a afirmar que "este Governo chegou à conclusão de que era a hora da floresta".

Tal, afirmou na entrevista à Lusa, ficou desde logo simbolizado na designação do Ministério da Agricultura e Florestas. E depois acrescentou: "Estou muito satisfeito por um ano depois termos conseguido fazê-lo, contra tudo e contra todos, contra lóbis, comentadores, cientistas, e ninguém teve coragem de destroçar esta reforma".

Por aprovar estão apenas duas leis, uma sobre incentivos fiscais e outra, que ficou adiada por um ano, da criação de um banco de terras. O ministro adiantou ainda que queria ir mais longe também no cadastro florestal, para avançar de imediato, algo que o Parlamento não permitiu.

"Estamos empenhados para fazer em pouco tempo o que há décadas está para fazer, o cadastro da propriedade rustica. O Governo tinha a intenção de imediato avançar com esse processo à escala nacional, o Parlamento decidiu que devemos apenas faze-lo, no primeiro ano, em 10 municípios a título experimental. Tenho pena, ainda que respeite essa decisão, mas acho que poderíamos desde já ir mais longe", disse à Lusa.

Capoulas Santos afirma saber que não é fácil concretizar a reforma que foi aprovada e também que não terá resultados no seu mandato.

"Estamos a trabalhar para o futuro", diz, esperando resultados do que agora se faz dentro de uma geração. Mas diz também ter a certeza de que "não são necessários 20 anos para convencer os críticos de hoje" da reforma que está a começar.

É certo, afirmou, que parte dos resultados dependerão da sociedade, porque 98% da floresta é privada. E por isso, e na actual situação da floresta, e do seu abandono, pergunta Capoulas Santos como é possível responsabilizar proprietários quando muitos deles não conhecem os limites das suas propriedades.

"Como é possível exercer um poder coercivo sobre algo que não se conhece?", pergunta, quando questionado pela Lusa sobre o não cumprimento das leis.

Por isso, justifica, o cadastro é "um dos pilares fundamentais da reforma que acabou de ser aprovada", porque é necessário identificar a propriedade "para exigir àqueles que são proprietários os seus deveres e para que o Estado possa fazer alguma coisa daquilo que não tem dono".

Capoulas Santos admite que hoje não se cumprem integralmente as leis da floresta, diz que falta fiscalização, diz que não está satisfeito com os resultados da actuação quer dos serviços centrais (do seu próprio Ministério), quer das autarquias locais, quer das autoridades policiais.

Mas volta às leis, à floresta e aos incêndios que a têm destruído este verão: "Se tivermos entidades gestoras, se conhecermos o património, se tivermos regras de ordenamento, naturalmente que o risco de incêndio é minimizado".

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Bela
    13 ago, 2017 Coimbra 22:30
    Se os privados desconhecem os limites dos seus terrenos é porque não se interessam por eles. Para não penalizar quem, realmente sabe onde são e cuida dos seus, todos os terrenos deveriam ser confiscados e entregues a quem os quisesse. A desculpa que herdou não se justifica! Há anos herdei alguns de um familiar e porque não vivo na região, preferi vendê-los (mesmo ao desbarato) a quem os deseja que deixá-los ao abandono. E se toda a gente pensasse assim, evitavam-se tantas terras "ao Deus dará" e suas nefastas consequências.
  • como é que podiam
    13 ago, 2017 lx 19:19
    contribuir se não percebem nada de horta? Como em tudo, só sabem criticar como treinadores de bancada! É este o grande problema de Portugal! Cada macaco fora do seu galho! É ter grandes "mentes brilhantes", convencidas que sabem tudo, mas nada percebem dos assuntos! Debitam para se auto convencerem da sua importância!
  • Pedro Barbosa
    13 ago, 2017 Portugal 16:27
    O que percebe de agricultura ou gestão florestal um sociólogo? Cada macaco no seu galho em relação a cargos públicos.

Destaques V+