04 ago, 2017 - 14:57
O Papa Francisco fez uma escolha inesperada para chefiar o seminário da diocese de Roma.
O padre Gabriele Faraghini tem 51 anos e até fez os seus estudos no Pontifício Seminário Maior de Roma, como é conhecido, mas, depois de ordenado, ingressou na Fraternidade dos Pequenos Irmãos de Jesus.
Os membros da fraternidade vivem vidas inspiradas no exemplo do beato Charles de Foucauld, que, depois de se converter, foi para o deserto da Argélia viver entre os tuaregues, tendo sido assassinado em circunstâncias pouco claras a 1 de Dezembro de 1916.
Tal como Foucauld, os irmãozinhos de Jesus, como são conhecidos informalmente, procuram viver em pequenas comunidades, de dois a quatro membros, no meio de bairros pobres ou socialmente difíceis. Os irmãos trabalham como operários, como forma também de estar próximo da população local, e levam uma vida longe dos holofotes.
Em Portugal existe apenas uma comunidade de dois irmãos, que vivem em Setúbal, na paróquia da Anunciada, para onde foram convidados por D. João Alves, vigário episcopal para o sul do Tejo, numa altura em que Setúbal ainda não era diocese.
Num comunicado publicado no site dos irmãozinhos de Jesus lê-se que a nomeação do padre Faraghini, anunciada a 31 de Julho, foi uma novidade que deixou a todos estupefactos. “O comunicado descreve o sacerdote de forma modesta dizendo que “não é um padre extraordinário, mas alguém que tenta sempre fazer o seu melhor. Não gosta de redes sociais, porque prefere encontros pessoais com as pessoas, grandes ou pequenas, próximas ou distantes da Igreja”.
Surpreendente também é a afirmação de que o padre, que agora irá supervisionar a formação sacerdotal dos padres da diocese de Roma, “não é fã de planos pastorais, porque Charles de Foucauld defendia que nos devíamos ‘deixar guiar pelas circunstâncias e pelo auxílio de Deus’. O Papa Francisco sabe tudo isto, mas nem pestanejou, dizendo que um padre deve saber como viver em fraternidade, orar e amar as pessoas. O resto virá”, diz o comunicado.
Charles de Foucauld é um caso peculiar na história da Igreja, uma vez que o seu ministério terminou sem que tivesse convertido ou baptizado uma única das pessoas que se sentiu chamado a servir, os tuaregues muçulmanos do deserto do Sahara.
Mas o próprio padre Faraghini descreveu este ministério numa apresentação feita recentemente num encontro da fraternidade. “Humanamente falando, foi um desperdício de tempo e pastoralmente, segundo os nossos critérios e avaliação, um fracasso. Mas afinal de contas Jesus também não foi um grande pastor, se tivermos em conta os resultados. Os seus 12 pupilos traíram-no diante da cruz, a multidão que cantara ‘Hossana’ quis que ele fosse condenado à morte. Mas se olharmos pela perspectiva do amor, Jesus foi o pastor que deu a vida pelas suas ovelhas”, explicou o irmão.