24 jul, 2017 - 17:03 • Olímpia Mairos
Ana Filipa e Tiphanie, apesar de ainda muito jovens, albergaram em si, durante anos, o sonho de partir para uma realidade diferente, onde pudessem dar um “bocadinho” de si mesmas e contribuir para melhorar a vida de alguém.
Ana Filipa, formada em comunicação e multimédia, tem 25 anos e já trabalha há dois anos e meio. Partir para a missão, ser voluntária, foi algo que “sempre quis”.
“Foi uma coisa que sempre quis, desde os 18 anos, quando ganhei a liberdade de ser maior de idade. Procurava um projecto que gostasse”, conta à Renascença.
Tiphanie, 25 anos, estudante de arquitectura, prestes a entregar a tese de mestrado, considera a “passagem por este mundo” “muito pequena” e, nesse sentido, acha que “é importante dar um bocadinho” de si, porque, “se todos pensarmos assim, as coisas ficam melhor”, conclui a jovem.
As duas jovens flavienses, depois de algum tempo de procura, conheceram os Missionários da Consolata pelo Facebook e puseram-se em movimento, no sentido de poderem concretizar o projecto que há muito traziam em si.
“Depois de todos estes anos atrás deste projecto, foi o grupo que mais nos incentivou. É um projecto muito bom. E é aquela vontade de fazer a diferença”, conta Ana Filipa.
“Estando em casa não se faz diferença nenhuma”
As duas jovens sabem que vão colaborar “na área da educação”, mas não sabem dizer “exactamente em que vai consistir o projecto” de ajuda em que vão participar. Sabem que vão “trabalhar”, mas não sabem bem o que as espera, além de “apoiar a pintura de uma escola e a reabilitação de alguns edifícios”.
Sabem também que vão “estar com a comunidade” e “com as famílias” e fazer “um bocadinho de tudo”.
Mas, “aquilo que se vai lá fazer, muitas vezes, é ‘manchar’ o coração das pessoas e mudar a mentalidade delas…” - desabafa Ana Filipa - “…Não sei. Por muito que tenhamos um plano, esse plano pode mudar”.
Para as voluntárias, a ajuda que vão prestar “não vai ser muito grande”, mas estão convencidas de que “qualquer coisa se pode fazer”.
E não vão de “mãos a abanar”! Fizeram angariação de fundos e “tem sido vitória atrás de vitória”. “Há muita gente com muito boa vontade, com vontade de ajudar”, conta Ana Filipa.
“Temos uma página de fecebook, que tem chegado a milhares de pessoas, e com o nib disponível, para quem quiser. As paróquias têm sido incríveis. Por todos os sítios por onde passámos, temos tido imenso apoio”.
As jovens confidenciam que já conseguiram “muito dinheiro”, mas também sentem que “é muito pouco” para aquilo que precisam.
“Todo o dinheiro vai ser levado para comprar lá e garantir a alimentação daquelas crianças”, conta Ana Filipa. “Comprar material aqui, depois fica muito caro tirá-lo da alfândega e arriscamo-nos a ter que lá deixar todo o material”, conclui.
“Estando em casa não se faz diferença nenhuma. Daí a vontade de querer ir para o terreno, ver outra realidade e mudar um bocadinho, tanto eu como as pessoas que lá ficam”, comenta Ana Filipa. “Quero dar um bocadinho de mim e, principalmente, trazer muito de lá e aprender”, confessa Thifanie.
“Juntei o meu tempo de férias todo e vou usá-lo para isso. Mesmo sendo um mês de trabalho, vão ser as melhores férias de sempre”, exclama Ana Filipa.
“Momento muito especial” foi a Eucaristia de envio das duas jovens para Moçambique. Foi um momento de “ligação com a Igreja”, porque “muitas vezes andamos na nossa vida e não ligamos tanto a essa parte”, lamenta Ana Filipa.
“Foi um voltar à Igreja. Fiquei muito contente. E quando tiver algum momento difícil, a recordação deste dia vai ajudar-me, vai dar-me muita força”, reforça a jovem.
Voluntariado também custa dinheiro
Este tipo de projectos tem os seus custos, razão pela qual este não foi concretizado há mais tempo. As duas voluntárias pagaram a viagem na totalidade, o passaporte, as vacinas e, “muitas vezes, os voluntários pagam também os vistos”, acrescenta Ana Filipa.
“Tudo o que temos que levar para lá, por exemplo os medicamentos, e os antimaláricos são medicamentos muito caros, é tudo às nossas custas. É uma despesa mesmo muito grande. Se tiver que juntar as despesas de deslocação de Chaves ao Porto, de 15 em 15 dias, para ter formação, eu chego facilmente aos 2,500 euros”, conclui a jovem.
Tiphanie teve a ajuda da mãe que, num primeiro momento, resistiu à ideia da filha e “não queria que fosse”. Mas acabou por se “mentalizar” e até lhe ofereceu a viagem. Tiphanie “já tinha já a totalidade do dinheiro”, mas, confessa, “foi uma boa prenda”.
As jovens partem para Moçambique a 31 de julho, com destino a Nova Mambone, a 400 km de Maputo, e com elas vão mais cinco jovens. Além deste grupo, seguem mais dois, “um de sete elementos e outro com 14”.
Ao longo de um ano tiveram formação específica com os Missionários da Consolata, de 15 em 15 dias, que, segundo Tiphanie, as “ajudou imenso”, mas com a noção do “choque cultural que vai ser”, porque, diz, “uma coisa é viver cá, outra é viver lá”.”
“Não sabemos bem como vai ser, mas pronto... Faz parte" concluem as jovens.
Esta reportagem foi transmitida no espaço das 12h15, em que às segundas-feiras damos destaque aos temas sociais e relacionados com a vida da Igreja.