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Entrevista

Ildefonso Falcones volta a Barcelona em "Os Herdeiros da Terra". "É a História que muda as minhas personagens"

22 jul, 2017 - 11:00 • Maria João Costa

Dez anos depois do sucesso de vendas “A Catedral do Mar”, Ildefonso Falcones regressa à cidade do vinho e do mar.

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É um dos escritores espanhóis mais lidos no mundo. Ildefonso Falcone, autor do “bestseller” “A Catedral do Mar”, que vendeu seis milhões de exemplares em 40 países, está de regresso com um novo livro. “Os Herdeiros da Terra”, editado pela Penguim Randon House, anuncia-se como uma sequela de “A Catedral do Mar”, mas para o autor não se trata de uma segunda parte. Apreciador dos vinhos portugueses, o autor conversou com a Renascença em Lisboa sobre o livro que fala da produção de vinho.

“Os Herdeiros da Terra” anuncia-se como uma sequela do êxito “A Catedral do Mar”. Embora a história se passe tal como no livro que escreveu há 10 anos, em Barcelona, para si não se trata de uma segunda parte?

Efectivamente não é uma segunda parte de “A Catedral do Mar”. É antes a continuação da História de Barcelona. Tem inclusivamente uma sequência cronológica da História da cidade, mas desenrola-se num bairro diferente, não em La Rivera, mas no Raval, que estava a nascer nos arredores e que vai ficando dentro de uma nova muralha. Desenrola-se também numa zona onde constroem edifícios magníficos com um grande hospital, um dos primeiros da Europa que começa a ultrapassar um pouco esse conceito do hospital medieval onde as pessoas iam apenas para morrer. Ali já se começava a curar as pessoas. Neste livro vemos Barcelona a partir de um novo elemento. Já não é a Catedral de Santa Maria do Mar, agora é o vinho e a sua produção.

“Os Herdeiros da terra” conta como era a produção de vinho no século XIV em Barcelona através do olhar de um protagonista órfão de homens do mar. Há essa relação dupla mar e terra?

Não se pode falar de Barcelona sem falar do mar. É gente rude e claro que os pescadores são gente muito sofrida que corria risco de vida naquela época. Mas este livro deriva para a terra. É um contraste que o protagonista vê. Ele vive as duas histórias. É órfão de um marinheiro. Tenta ser um mestre construtor de barcos, mas não consegue e, no final, termina com os vinhos. Ele viverá esse contraste em várias ocasiões.

A cultura do vinho é um ingrediente essencial na trama do livro. Que lugar ocupava então a produção de vinho em Barcelona?

É curioso. Temos de perceber que naquela época era um bem de primeira necessidade. Hoje vemos o vinho como algo acessório, até vemos como um luxo… depende de que vinho tomamos. Mas hoje o vinho pode ser substituído por uma cerveja, água ou qualquer outra bebida.

Naquela época, não. As pessoas bebiam vinho. Os doentes eram tratados com vinho, as crianças eram criadas com vinho, aos soldados era obrigatório dar-lhes vinho. Quem podia tinha uma adega em casa e fazia o seu próprio vinho, por isso o vinho era um bem de primeiríssima necessidade.

E o que pensa do vinho? Gosta dos vinhos portugueses?

Gosto de vinho e hoje bebi um bom vinho português ao almoço. Portugal tem bons vinhos.

Voltemos ao livro “Os Herdeiros da Terra”. Hugo Llor, o protagonista, envolve-se em várias aventuras.

É um livro de aventuras, de paixões, de amores, de vingança e de dinheiro. Tem todos aqueles ingredientes que o tornam atractivo. O Hugo chega a Barcelona e dá-nos a possibilidade de conhecer a História [da cidade]. Por isso, tornei-o um produtor de vinhos e um vendedor, isto numa época em que as pessoas não viajavam e não saíam das muralhas da sua cidade por ser perigoso. Foi preciso criar um Hugo comerciante que atravessa as fronteiras de Barcelona para poder contar a História.

Em Espanha, o seu livro sucesso “A Catedral do Mar” está agora a ser adaptada à televisão. Sei que não quis trabalhar na escrita do guião, prefere continuar dedicado aos livros. O romance histórico é o seu estilo de eleição?

Tento sempre contar a História e introduzir as minhas personagens nos acontecimentos reais. Creio que o leitor tem o direito de quando acaba de ler um romance histórico, saber que aquilo que leu é real. Partindo desse princípio, tento que as personagens participem na História, intervenham na História real, mas não a alterem. É a História que os muda.

É um processo longo que implica investigação?

Sim, depois disto começo a ver se tudo se enquadra. É um quebra-cabeças. À medida que vou vendo que se enquadra, vou desenvolvendo um guião. Quando o termino e vejo efectivamente que é viável, posso ir escrevendo e estudando ao mesmo tempo. É isso que faço habitualmente.

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