20 jul, 2017 - 00:05 • Eunice Lourenço (Renascença) e David Dinis (Público)
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Hugo Soares, que esta quarta-feira foi eleito presidente do grupo parlamentar do PSD, começa o seu mandato com um ataque directo ao presidente do Parlamento. Em entrevista ao programa Hora da Verdade, uma parceria entre a Renascença e o diário “Público”, acusa Ferro Rodrigues de não respeitar a sua condição de segunda figura do Estado.
“Tem tido um conjunto de posições que são claramente partidárias. E creio que um presidente que deve ser de todos os deputados não as pode ter. O doutor Ferro Rodrigues não pode ter opiniões pessoais que coloquem em causa a separação de poderes como fez este fim-de-semana. Ou não pode desdenhar de forma absolutamente inacreditável de uma deliberação da Assembleia da República que visa constituir uma comissão técnica independente para apurar a verdade dos factos do que falhou - e continua a falhar - no combate aos incêndios. E ele desdenhou dessa deliberação. Quem desdenha em causa própria desrespeita o órgão a quem preside. E isso não é um comportamento à altura do segundo representante da nação”, afirma Hugo Soares que, aos 34 anos, substitui Luís Montenegro à frente dos deputados sociais-democratas.
A relação do PSD com Ferro Rodrigues tem sido de crítica e crispação. E uma das razões é a comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos, que terminou esta semana, sem esperar pela resposta judicial para ter acesso à lista de concessão de créditos por parte da CGD. Uma lista que, na opinião de Hugo Soares, pode mostrar que o que se passou no banco público tem semelhanças com a gestão do BES.
“Nós hoje sabemos que o Ministério Público tem fundadas suspeitas sobre a prática de gestão danosa na CGD, seja na concessão de crédito, seja até naquilo que se chama maquilhagem das contas, no facto de terem escondido as imparidades nas contas da CGD, um fenómeno que não é muito diferente do que aconteceu no BES. Sim, esconder as contas, maquilhar as contas, não é diferente do que aconteceu no BES. E portanto era preciso apurar responsabilidades - e o Ministério Público fará esse apuramento”, diz o deputado, que lamenta que o Parlamento não tenha esperado pelos tribunais.
Por isso, Hugo Soares admite que o seu partido venha a propor mais uma comissão de inquérito à Caixa. “Não colocamos de parte essa hipótese [de pedir novo inquérito], como não colocamos de parte - e vamos estudar e preparar uma proposta - uma alteração ao regime do inquérito parlamentar”, adianta o novo líder parlamentar. Quanto a essas alterações avança com uma que lhe parece óbvia: “Se uma comissão de inquérito pede aos tribunais uma determinada decisão, ela tem que ficar suspensa até à decisão desse tribunal. Não podemos fechar uma comissão com total desrespeito por um órgão de soberania.”
Recusa do apelo de Marcelo
Na sua primeira entrevista nas novas funções, Hugo Soares elege como prioridade o combate ao Governo. E não admite dar tréguas por causa dos incêndios, apesar do apelo recentemente feito pelo Presidente da República.
“Não estamos em campanha com os incêndios. Portanto, não há necessidade de fazer nenhuma trégua. Há que denunciar o que está a acontecer. Tivemos um incêndio há um mês onde morreram mais de 60 pessoas. Temos pessoas que perderam as casas, os seus bens e até familiares. Ainda hoje essas pessoas não foram ressarcidas de absolutamente nada - e o Estado ainda não assumiu a sua responsabilidade objectiva perante as pessoas que pereceram. Esta semana voltaram a acontecer incêndios com grande escala. E voltámos a saber que o SIRESP voltou a falhar. O que o país pergunta hoje é o que é que o Governo está a fazer”, critica Hugo Soares que, quanto ao sistema de comunicações de emergência, admite uma gestão pública.
Quanto às eleições autárquicas considera que não vão pôr em causa e liderança de Pedro Passos Coelho no PSD, mas baixa a fasquia do partido para os resultados de Outubro.
“Conto ganhar mais câmaras do que ganhei em 2013. Conto que o PSD tenha representatividade maior na Associação de Municípios e na de Freguesias. O presidente do partido estabeleceu o objectivo que deve ser sempre o do PSD: deve almejar sempre ganhar a Associação de Municípios. Sabemos o nosso ponto de partida, as dificuldades que enfrentamos e vamos ver o resultado”, acredita Hugo Soares, lembrando que, em 2013, o PSD teve uma derrota autárquica e Passos Coelho continuou a liderar o PSD.