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Reportagem

Em Alijó, o fogo fez aldeias negras e olhares tristes

18 jul, 2017 - 18:38 • Lusa

O alerta para o fogo foi dado na madrugada de domingo. Incêndio mobilizou centenas de bombeiros e só foi dado como extinto na terça-feira à noite.

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São aldeias de paisagem negra, cheiro a fumo e de tristeza nos olhares de quem perdeu o trabalho de um ano no campo depois da passagem de um incêndio com dimensões de que não há memória no concelho de Alijó, no distrito de Vila Real.

O alerta para o fogo foi dado na madrugada de domingo. Foi dado como dominado e reacendeu-se com proporções tais que foi destruindo, desde então, a paisagem de um território que vive essencialmente da agricultura. Finalmente, ao início da noite de terça-feira, o presidente da Câmara deu a notícia que todos esperavam. O fogo foi extinto, disse Carlos Magalhães.

Chã, Vila Chã, Santa Eugénia, Casas da Serra, Franzilhal e até Porrais, já no concelho de Murça, foram algumas das aldeias que o incêndio assolou, destruindo o trabalho de um ano inteiro na agricultura.

No centro da aldeia de Santa Eugénia, Valentina Areias lava a roupa no tanque público. Ocupa o tempo para não pensar na desgraça que o fogo trouxe, mas que ainda não teve coragem de ir ver.

"Afectou vinhas, olival, pinhal. Ainda não fui ver, nem me apetece ir ver tudo destruído. O meu marido já lá foi e olhe, é o que Deus quer e as pessoas que fazem isto, não é. Alguém teve que pegar o incêndio", diz.

Valentina chama uma amiga para a conversa. "Isto não tem explicação, o fogo esteve aqui controlado perto da aldeia e, de um momento para o outro, foi horrível. Foram oliveiras, videiras, árvores de fruto, hortas, foi tudo, tudo, tudo. Estamos com um prejuízo enorme, não faz ideia", afirma Cecília Henrique.

As oliveiras ficaram, conta, "completamente caídas e a vinha ficou queimada", apesar "de estarem as terras todas lavradas".

Cecília Henrique não encontra explicação para o que aconteceu, mas remata: "não há justiça". "Ou são incendiários ou então um tipo de negócio muito grande", sublinha, recordando a aldeia "rodeada pelo fogo".

António Inocêncio pára na estrada, entre Santa Eugénia e Carlão, para olhar lá para baixo e ver como o fogo deixou o seu olival. "Ardeu-me vinha e olival. Foram para aí 500 videiras e sete ou oito oliveiras e pinheiros. Ainda foi um bocado. Mas, em Carlão, há pessoal que teve bem mais prejuízos do que eu", frisa.

Na segunda-feira foi uma "tarde muito assustadora". "Eram chamas por todo lado, por isso é que não conseguiram apagar em lado nenhum. No meio disto tudo os únicos a que se pode dar valor é aos bombeiros, porque de resto, a organização era péssima", salienta António Inocêncio, seguindo viagem para Santa Eugénia para ver os amigos e ajudar, se assim for preciso.

Já no Franzilhal, Manuel Fernandes, diz que "ardeu tudo à volta da aldeia". "Foram vinhas, amendoais, olivais, lameiros e, vá lá, não chegou às casas. Tinha tudo granjeado com o tractor", sublinha.

Nestas aldeias, foram retiradas algumas pessoas (idosos e doentes) durante a tarde e noite de segunda-feira por precaução, regressando terça de manhã às suas casas.

"Disseram-me que tinha que sair, mas eu não saí porque tive medo de deixar a casa a arder", refere.

Pelas estradas cruzam-se carros de bombeiros provenientes do norte e centro do país. Vêem-se também trabalhos de reposição dos postes e fios de telefone e de electricidade que as chamas destruíram.

Na tarde desta terça-feira ainda se combatia o fogo e, apesar da situação ter acalmado, os operacionais estavam atentos e preparados para intervirem e travarem os reacendimentos.

Durante a noite, com temperaturas mais baixas e níveis de humidade maiores, a situação evoluiu favoravelmente, chegado a envolver mais de 700 operacionais, de vários pontos do país.

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