12 jul, 2017 - 09:09
Os sargentos vão estar esta quarta-feira em vigília à porta da residência oficial do primeiro-ministro para exigir a revisão do estatuto dos militares, que está para discussão há dois meses na comissão parlamentar de Defesa.
Na Manhã da Renascença, Lima Coelho, um dos rostos da Associação Nacional de Sargentos, explicou que o protesto está, sobretudo, relacionado com o “tratamento diferenciado que há demasiadas décadas existe no seio das próprias Forças Armadas”.
“Os sargentos têm tido um tratamento diferenciado para pior. Apenas em 1990 foi estabelecido um estatuto profissional para todas as categorias. Até aí, apenas os oficiais tinham estatuto profissional. Mesmo assim, o desenvolvimento das carreiras tem sido significativamente diferente entre sargentos e outras categorias”, como é o caso do reconhecimento académico.
“É absolutamente escandaloso que se continue, ao fim destes anos todos, a exigir à entrada para o curso de sargento o 12º ano e, depois, independentemente do tempo de formação – um, dois ou mais anos – se lhes atribua o mesmo 12º ano”, exemplifica o actual director do jornal “Sargento”.
Lima Coelho fala, por isso, em “alguma xenofobia classista” e garante que os sargentos “querem ser apenas isso – sargentos – desenvolvendo as suas capacidades, as suas proficiências e querem esse reconhecimento”.
Mas o antigo presidente da Associação Nacional de Sargentos não quer “restringir” as razões da vigília à formação. “Temos a questão da assistência na doença, evolução nas carreiras e o estatuto que está em discussão na Assembleia da República traz um retrocesso histórico para a categoria de sargentos”, acrescenta.
“Queria também dizer que, muito mais do que corporativo, estas manifestações são sobretudo de reconhecimento profissional”, destaca, sublinhando que “os sargentos têm gosto em servir nas Forças Armadas” e “não há militar nenhum que tenha qualquer tipo de motivação ou gosto de vir para a rua fazer sentir as suas dificuldades”.
“Chegar a este limite é, só por si, para aqueles que têm a responsabilidade política, perceberem que algo tem de ser feito”, justifica.
Na opinião de António Lima Coelho, são estes responsáveis que trouxeram o país ao estado em que está, sendo o episódio de Tancos só “veio trazer à evidência aquilo que há anos os militares têm tentado sensibilizar os sucessivos governos”.
“Hoje, temos um efectivo que não chega a preencher meio estádio da Luz”, alerta.
Por tudo isto, e porque o actual ministro não trouxe “significativas mudanças” em relação ao anterior, “que foi extremamente penalizante para os militares”, os sargentos decidiram bater à porta do primeiro-ministro.
“Pode ser que sejamos ouvidos e a sensibilidade possa atingir aqueles que têm de resolver matérias prementes, porque Portugal não pode continuar neste estado de coisas”, sustenta.