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Governo no pior estado com economia em estado positivo

12 jul, 2017 - 07:00 • Eunice Lourenço

Parlamento debate esta quarta-feira o Estado da Nação. Oposição vai lembrar Pedrogão e Tancos, parceiros de esquerda salientam conquistas, mas querem mais.

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Uma nação, vários estados
Uma nação, vários estados

Há um mês, António Costa acharia que ia chegar ao debate do Estado da Nação a desfiar conquistas. Saída do procedimento por défice excessivo, crescimento da economia a superar previsões, desemprego abaixo dos dois dígitos... Mas os acontecimentos do último mês fizeram com que o Governo enfrente o debate desta quarta-feira no seu pior momento de sempre, como reconheceu Pedro Nuno Santos, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares.

"Objectivamente", disse Pedro Nuno Santos em entrevista à Renascença e ao "Público", este é o "momento mais difícil" do Governo. O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares referia-se, sobretudo, ao impacto causado pela morte de 64 pessoas no incêndio que, a 17 de Junho, começou no concelho de Pedrogão Grande. "É uma tragédia que nos atinge a todos e ao Governo também, em particular", dizia Pedro Nuno Santos na entrevista, em que tentava desvalorizar o furto de material militar das instalações do Exército em Tancos.

Ainda não tinha, contudo, acontecido o terceiro episódio deste mês "horribilis" de António Costa: a demissão de três secretários de Estado por causa de um caso já com quase um ano. Fernando Rocha Andrade, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, João Vasconcelos, secretário de Estado da Indústria, e Jorge Oliveira Costa, secretário de Estado da Internacionalização, demitiram-se no domingo por causa das viagens que fizeram a convite da Galp para verem fotos da selecção nacional, no Euro 2016, em França.

Os três governantes pediram para serem constituídos arguidos na investigação em curso. Soube-se, depois, que a decisão de os constituir arguidos já tinha sido tomada, embora ainda não tivessem sido notificados.

Trata-se de três nomes de peso dentro do Governo, apesar de não serem ministros. Muito próximos do próprio primeiro-ministro, eram os homens de António Costa nos respectivos ministérios. Dos três, Rocha Andrade será o mais difícil de substituir, pelas funções que tinha e pelo facto de já estar em curso o processo de preparação para o Orçamento do Estado do próximo ano.

Apesar de uma parte importante – as alterações aos escalões do IRS – estar praticamente fechada (o primeiro-ministro já anunciou o desdobramento do segundo escalão), substituir, nesta altura do processo orçamental, um secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, habituado a lidar com o que os socialistas chamam os "primos" à sua esquerda, não será tarefa fácil.

Pedrogão, Tancos e o caso que ficou conhecido como "Galpgate" tornaram este debate do Estado da Nação bem mais difícil para António Costa do que o desfile de resultados económicos que gostaria de fazer no plenário.

Oposição ataca crise nos serviços e na autoridade do Estado

A oposição vai, certamente, pegar naqueles três casos para atacar o Governo no debate que terá cerca de quatro horas. PSD e CDS consideram que as políticas lideradas por António Costa estão a pôr em causa os serviços públicos, mas também a autoridade do Estado.

O PSD, que tem nas últimas semanas, atacado o Governo pelo uso de cativações como estratégia para cumprir o défice, vai voltar a criticar o que Luís Montenegro chama de "austeridade manhosa".

"Mais listas de espera nos hospitais, cirurgias adiadas, escolas encerradas, transportes públicos com muito menos ofertas e pior serviço. E, agora recentemente, um sistema de Protecção Civil que colapsou no exacto momento em que as pessoas precisavam dele — com perdas humanas como nunca antes tinha acontecido — e uma estrutura de defesa que não cuidou de garantir a própria segurança", antecipou o líder parlamentar do PSD em declarações à Lusa.

Também o CDS quer saber onde o Governo tem fechado os cordões à bolsa. "Que diga onde e quais os programas, quais as obras em concreto na saúde, educação, forças de segurança e Forças Armadas que, por força das cativações, deixaram de ser feitos, até para sabermos qual é o estado real da Nação", diz o líder parlamentar, Nuno Magalhães.

O dirigente do CDS-PP considera que a tragédia dos incêndios e o furto de armamento pesado em Tancos vão inevitavelmente marcar o debate e diz que os dois casos mostram uma crise de confiança nas entidades do Estado.

A presidente do CDS, Assunção Cristas, já pediu a demissão dos ministros da Defesa e da Administração Interna. E, há cerca de um ano, o CDS foi o único partido a pedir a demissão dos secretários de Estado que agora estão de saída.

Esquerda não ataca, mas tem críticas

À esquerda, as criticas também hão-de aparecer, apesar da aliança parlamentar que sustenta o Governo de António Costa. Mas o tom geral deve ser de congratulação pelas conquistas alcançadas ao longo do último ano político, sobretudo no que toca à reposição de rendimentos. PCP e Bloco devem, cada qual, salientar o que consideram ser as suas conquistas, mas também insistir que é possível fazer mais. Alterações no IRS, na legislação laboral, aumento do salário mínimo, melhoria nos serviços de saúde e educação fazem parte do caderno de encargos dos partidos à esquerda do PS.

"Em 2016, o défice ficou abaixo do previsto pelo Governo, mas a margem orçamental não foi utilizada para reforçar os serviços públicos", lamenta o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, à Lusa. E o mesmo tom é usado por João Oliveira, o presidente da bancada comunista. A governação do PS, diz João Oliveira, "confirmou a derrota da ideia que não havia alternativa aos cortes de rendimento", mas "é preciso ir mais longe".

"Não deixamos de sublinhar que a incapacidade e falta de vontade do Governo em romper com a política de direita deixa o país sujeito a fragilidades e vulnerabilidades, algumas delas estruturais", afirmou João Oliveira à Lusa, reconhecendo, tal com os outros partidos da esquerda, que os casos de Pedrogão e de Tancos vão entrar no debate.

"Há um antes e um depois de Pedrógão na reflexão política porque estes incidentes penosos chamam-nos a atenção para os aspectos mais frágeis da nossa organização social e da capacidade operativa do Estado", reconhece Carlos César, presidente e líder parlamentar do PS,

César, no entanto, adianta que o seu partido vai destacar, neste debate a conjugação da consolidação orçamental com a política de "progresso social e económico".

A maioria dos indicadores económicos teve uma evolução positiva no último ano. O défice ficou abaixo dos 3%, permitindo a saída do procedimento por défice excessivo, o Banco de Portugal e FMI reviram em alta as previsões de crescimento da economia para este ano e a confirmar-se os 2,5 de crescimento será o maior do século em curso e o desemprego desceu abaixo dos 10%.

Mas a dívida não para de crescer, os juros estão mais altos do que o previsto e a venda do Novo Banco continua por fechar (o Governo já adiou para Novembro o negócio que devia estar fechado no início de Julho). Até a aprovação de Bruxelas a este negócio, que poderia ser outra das conquistas que o primeiro-ministro levaria ao Parlamento, passou despercebida numa semana em que António Costa voltou de férias, que acabaram também elas por ser um caso e um motivo de crítica a um Governo que contava chegar a este debate em estado de graça.

Comentários
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  • vaca voadora
    12 jul, 2017 Setúbal 23:06
    Farinha do mesmo saco!.
  • leonel
    12 jul, 2017 lisboa 17:32
    O sr. luís b., decididamente, não sabe aritmética. Some os votos do ps, be e pcp e depois os do ppd e do cds. Quem teve mais? Quem tem mais deputados? Afinal quem ganhou as eleições? Isso é domo as suas contas. Ganha menos do que no tempo de passos e portas? Deve ser caso único. Devia mostrar os seus recibos para não passar por aldrabão. Também pode acontecer que tenha deixado de receber os dividendos das ações do bpn ou de alguma comissão por vassalagem a algum boy do coelho e companhia..
  • João
    12 jul, 2017 Lisboa 17:31
    Ó P/joão deve estar a pensar que está a falar aí no seu comité! Quais comentários discriminatórios quais tretas! Num país de faz de conta quer falar de "trabalhadores" quem os que fingem que trabalham os que mentem e metem baixas fraudulentas? Os que arranjam tacho à pala dos outros? O que você quer todos o sabemos mas os factos estão aí desmascaram-no todos os dias! Só conheço funcionários públicos de topo que estão contentes os desgraçados nas carreiras mais baixas vivem como sempre viveram só que pior muito pior tantos esses como os trabalhadores da privada não viram nenhum beneficio, bem pelo contrário está tudo mais caro, pagamos mais por tudo e ninguém quer fazer as contas aos custos dos impostos indirectos! O que você e outros da sua laia, querem é calar as pessoas, que aceitem tudo de bom grado desde que lhe sirvam a pança! Engana-se os acéfalos são mesmo os do vosso lado, aqueles a quem agradecemos a vinda da troika da pré-bancarrota tudo feito por um governo dos vossos que ainda por cima tendo perdido as eleições fez uma aliança de trfulhas para render o tacho por mais um tempo, e estão-no a fazer empregando a família e os amigalhaços nos lugares mais desejáveis! Quem aceita isto a falta de autoridade e ordenação do Estado é mesmo acéfalo! O P.R. é que anda a dormir pois as instituições estão mais do que nunca em perigo! Obrigado "bancarroteiro! Fique feliz com a sua esquerdalha que tanta miséria tem dado ao país!
  • José António
    12 jul, 2017 Porto 16:29
    Para o senhor que me insulta: O senhor desculpe, mas o senhor tem uma grande falta de capacidade de interpretar textos. O que eu disse no meu texto é que as condições da função pública melhoraram. E ainda bem que melhoraram! E toda a gente sabe que melhoraram porque toda a gente sabe que os cortes que tiveram nos ordenados e condições de trabalho foram repostos. Mas os trabalhadores do privado mantiveram os mesmos ordenados pois não tiveram cortes. Por isso só faz sentido perguntar a alguém do privado se sentiu alguma mudança para melhor na sua economia porque já se sabe que quem trabalha como funcionário público teve. Pronto, foi isso... Tem algum jeito insultar as pessoas que querem expressar a sua opinião? Eu insultei alguém? discriminei alguém? Vocês conhecem-me de algum lado para dizerem "os da tua laia" "deves ser um deles habituado à mama". Vocês não têm vergonha de agir assim? Se pensarem bem nas responsabilidades que um cidadão deve ter, não acham que estão a proceder mal? Se tivesse um partido seria o pcp porque sempre seria um partido de pessoas educadas e responsáveis. Mas não vale a pena, a educação e a responsabilidade que vem da liberdade está a morrer... E de morte feia. Cumprimentos
  • P/joão
    12 jul, 2017 Do r-q-t-parta 15:13
    "uma certa esquerda trauliteira e acéfala que tenta por todos os meios disfarçar o indisfarçável!" Eu faço os comentários que quiser e dou o meu ponto de vista, independentemente de partidos, ou tu julgas que por seres defensor de um partido fascista és mais verdadeiro que os outros? Há gente que vem para este espaço vomitar baboseiras, pensando que os outros são acéfalos e que têm que engolir todo o seu vómito. Eu não quero saber de partidos a,b ou c, agora ver comentários discriminatórios a trabalhadores, isto é que não aceito de maneira nenhuma. Este governo pode não ser bom, e falando por mim não me sinto melhor, mas pelo menos não tem cortado como o coelho fez, que cortou subsídios e aumentou horas de borla aos trabalhadores para dar mais mama aos comilões, egoístas e exploradores dos patrões, mas os trabalhadores sempre mais precários, eu percebo bem o objetivo dos teus comentários. E outra esta de coitado aplica-se muito bem a ti, porque achas-te um chico esperto mas os outros são acéfalos.
  • Fausto
    12 jul, 2017 Lisboa 14:44
    Cá como lá...o que não falta é esquemas...patéticos...para alimentar classes...já de si igualmente condenadas...tira aí uma bica...que a máquina está bem quente...essa não está geladinha o suficiente...mete mais gelo nisso...
  • P/j.António
    12 jul, 2017 do r-q-t-parta 14:29
    Ah sim, o Fernando é fanático e tu não és fanático para discriminares func. públicos, para dizeres que estes é que são os beneficiados e os outros não, quando na verdade também têm sofrido na pele os cortes e têm os salários congelados e vivem pobres também?! Isto não será preconceito e mania tola de ver sempre para o mesmo lado? Vai às câmara municipais, com certeza que vás ver muitos trabalhadores, mas com contrato temporário e a salário mínimo, tal e qual como os da tua laia fazem, e sabes porque vão parar para o funcionalismo público? Porque os privados já não têm trabalho para todos. Tem mais respeito pelos trabalhadores, mesmo que sejam f.públicos, porque também são estes que vão comprar aos privados e lhes encher a mula muitas vezes, idiota! Não são comentários fanáticos, o teu é discriminatório!
  • João
    12 jul, 2017 Lisboa 14:29
    Eu não disse? Aí andam o cães de fila da geringonça a tentar tapar o sol com uma peneira! Mas dia a dia, vamos-nos apercebendo das mentiras e da manha que usam! Acabam sempre por insultar, curioso não é? Já não têm argumentos para mais! Coitados.
  • rosinda
    12 jul, 2017 palmela 12:56
    Enquanto o ministro da defesa e a ministra da administracao interna nao forem demitidos recuso-me a escutar qualquer debate sobre a nacao!
  • rosinda
    12 jul, 2017 palmela 12:35
    Sera que o turismo vai ser sustentavel para o futuro?

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