23 jun, 2017 - 01:19
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, enviou condolências à família do economista Miguel Beleza, lembrando um "amigo de há mais de 50 anos, e um dos "mais prestigiados economistas portugueses", dotado de uma "inteligência fulgurante".
Numa nota divulgada no 'site' da presidência, o Chefe de Estado apontou que o antigo ministro das Finanças, que morreu esta quinta-feira aos 67 anos, era "dotado de uma inteligência fulgurante" e "cedo se destacou como um dos mais prestigiados economistas portugueses da sua geração".
Marcelo Rebelo de Sousa considerou que "Portugal perdeu uma voz livre e independente, um académico notável e uma personalidade excepcional, que em todos nós deixará uma indelével recordação".
"Pessoalmente, perdi um grande amigo de há mais de cinquenta anos", referiu o Presidente.
"Ao tomar conhecimento do falecimento do professor doutor Miguel Beleza, envio à família enlutada as minhas mais sentidas condolências", lê-se na página da internet da Presidência da República.
Marcelo Rebelo de Sousa apontou ainda que "a essa inteligência", Miguel Beleza "associava um admirável espírito de independência, e um profundo sentido de dedicação ao seu país".
"No exercício dos mais altos cargos no plano internacional e nacional, designadamente como ministro das finanças e como governador do Banco de Portugal, sempre colocou as suas qualidades intelectuais e humanas ao serviço patriótico de Portugal, sonhando com uma sociedade mais desenvolvida, mais livre e mais justa", acrescentou o antigo líder do PSD.
O chefe de Estado apontou que "a sua morte prematura deixa mágoa e tristeza nos que tiveram o privilégio de o conhecer e de com ele privar de perto, admirando a sua sagacidade, o seu sentido de humor e o seu apreço pelo convívio com os outros".
Cavaco Siva: “Momento de profunda tristeza”
O ex-Presidente da República Cavaco Silva lembrou Miguel Beleza como "um dos mais brilhantes economistas formados pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras", considerando que a morte do antigo ministro é "um momento de profunda tristeza".
"Como economista, tinha grande respeito pelo saber de Miguel Beleza. Como pessoa, tinha por ele uma sincera amizade. Custa-me acreditar que tenha partido tão cedo", lê-se numa declaração escrita do antigo chefe de Estado.
Na nota, Cavaco Silva confessa que "a notícia inesperada da morte de Miguel Beleza foi um choque, um momento de profunda tristeza" e recorda o economista como "um homem de grande inteligência e de fino humor", que serviu Portugal com "grande competência", ajudando o país a vencer as crises financeiras por que passou nos anos 70 e 80 e "a dar passos decisivos para que acompanhasse o aprofundamento da integração europeia".
"Um dos mais brilhantes economistas formados pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras e pelo MIT em Boston. Tinha uma formação analítica superior", refere o antigo Presidente da República.
Cavaco Silva lembra ainda os anos em que Miguel Beleza trabalhou consigo no Gabinete de Estudos do Banco de Portugal, admitindo que tinha "grande confiança na sua sensibilidade na área da macroeconomia".
"Foi meu colega na Faculdade de Economia da Universidade Nova e na Universidade Católica. Em 1989, era eu primeiro-ministro, convidei-o para ministro das Finanças. Dirigiu com grande competência os trabalhos de preparação de Portugal para a União Económica e Monetária, os quais foram muito importantes para a definição da posição portuguesa sobre o Tratado de Maastricht. Nomeei-o mais tarde Governador do Banco de Portugal", recorda.
Silva Peneda lembrou o “amigo”
O antigo ministro da Segurança Social Silva Peneda lembrou o "amigo" Miguel Beleza enaltecendo o "homem inteligente" e a estima mútua que tinham um pelo outro, apesar de algumas divergências quando foram ministros do mesmo Governo.
"Foi para mim uma grande surpresa a desagradável notícia da morte do amigo Miguel Beleza. Fomos colegas de Governo, presidido pelo professor Cavaco Silva. Ele foi ministro durante dois anos, ele saiu depois, eu continuei, e durante esses dois anos tivemos momentos de maior tensão e de menor tensão", afirmou.
"Muitas vezes tivemos pontos de vista que não eram totalmente convergentes, mas sempre soubemos ultrapassar essas dificuldades sempre soubemos encontrar um ponto de compromisso e guardo do Doutor Miguel Beleza uma grande estima", acrescentou.
Campos e Cunha: “Uma das pessoas mais inteligentes”
O ex-ministro das Finanças Luís Campos e Cunha recordou Miguel Beleza como "um bom amigo" e "uma das pessoas mais inteligentes" que conheceu.
"Miguel Beleza era um bom amigo, um pouco mais velho do que eu, era das pessoas mais inteligentes que conheci", afirmou à Lusa o antigo ministro das Finanças do primeiro Governo de José Sócrates.
Recordando o "sentido de humor fantástico" de Miguel Beleza, Luís Campos e Cunha disse ter sido "com imensa pena" que soube da notícia da morte do economista.
Passos Coelho: “Serviu o país de forma exemplar”
O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, recebeu com "profunda consternação" a notícia da morte de Miguel Beleza e recordou a "figura notabilíssima" do economista, na Academia e em funções públicas.
"Foi com profunda consternação que recebi a notícia do falecimento do Professor Miguel Beleza. Ele foi uma figura notabilíssima, tanto na Academia, como no exercício de funções públicas", escreve o ex-primeiro-ministro num comunicado enviado à Renascença.
Como economista, recordou que se formou "com brilho e distinção nas escolas americanas mais ilustres e na companhia de alguns dos grandes mestres mundiais". "Esse raro reconhecimento internacional pelo seu saber acompanhá-lo-ia sempre ao longo da sua vida", acrescentou.
"Serviu o país de forma exemplar, primeiro enquanto ministro das Finanças, no XI Governo Constitucional, liderado pelo então primeiro-Ministro Aníbal Cavaco Silva; e depois como Governador do Banco de Portugal", cargos desempenhados "num período decisivo" da história democrática portuguesa, o de preparação da entrada no Sistema Monetário Europeu até à adesão e integração na União Económica e Monetária.
Mário
Centeno:
“Precursor
da economia moderna”
“O professor Miguel beleza foi um economista brilhante e precursor da aplicação do que hoje se pode chamar de economia moderna, quer na academia, quer no processo de tomada de decisão política nos cargos que ocupou enquanto ministro das Finanças e governador do Banco de Portugal”, disse o ministro das Finanças em declarações à agência Lusa.
O governante considerou ainda que Miguel Beleza desafiava os seus interlocutores “com inteligência e profundo sentido de humor”, sublinhando o “conhecimento ímpar sobre ciência económica” do ministro das Finanças do XI Governo Constitucional, liderado por Cavaco Silva (PSD).
“Todos hoje recordamos com certeza como, com inteligência, o professor Miguel Beleza desafiava os seus interlocutores e, quando o fazia, utilizava simultaneamente um profundo sentido de humor, mas um conhecimento impar da ciência económica e uma inteligência que a todos deixava de certa forma envolvidos pela forma como ele a utilizava”, afirmou.
Centeno disse ainda que a morte de Miguel Beleza é uma perda “difícil de preencher”: “É uma perda que seguramente vamos ter dificuldade em preencher, mas para isso existe a memória que todos guardamos do professor Miguel Beleza e do seu brilhantismo”.
Carlos Costa: “Um dos mais notáveis economistas do Séc. XX”
O governador do Banco de Portugal recorda o passado do ex-ministro das Finanças e também antigo governador. Em nota enviada às redacções, sublinha que desempenhou um papel fundamental na adesão de Portugal à União Económica e Monetária e na adopção do euro.
Lembra ainda que Miguel Beleza foi governador num momento crítico para a economia portuguesa, na altura da desvalorização do escudo num contexto de profunda instabilidade macroeconómica. Actualmente, integrava o Conselho Consultivo do Banco de Portugal.
“Além de brilhante, Miguel Beleza será lembrado pela sua clarividência, humildade, despojamento, franqueza e apurado sentido de humor”, segundo a nota do Banco de Portugal.