19 jun, 2017 - 10:38
O director da licenciatura em Engenharia Florestal da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Luís Lopes, diz que "é preciso envolver os proprietários nas soluções" porque Portugal é "o país do mundo com maior área privada de floresta".
"Em Portugal, 97% da área florestal é privada e 3% é do Estado", disse Luís Lopes, esta segunda-feira, em entrevista ao programa Carla Rocha - Manhã da Renascença.
"É preciso envolver os proprietários nas soluções, ligar os proprietários aos técnicos, à engenharia florestal. A maioria dos proprietários vive na cidade, não tem ligação à terra, há um abandono, um absentismo e a engenharia tem de encontrar respostas, tem de identificar os problemas e resolvê-los."
Luís Lopes não tem dúvidas de que "no plano político, estamos a criar dispositivos estatais que não respondem". "Numa primeira fase, até respondem, são musculados, mas com, os anos, os dispositivos também perdem vitalidade" e, assim, "o dispositivo montado para defender a floresta e as pessoas não está a responder".
"Políticas diferentes poderiam ter resultados diferentes", diz o especialista, lembrando que, neste campo, "não há intervenção divina, não há o mal e o bem, mas apenas boas decisões e outras que o não são".
"Estamos a verificar a existência de um padrão. Todos os anos, umas vezes de forma mais severa noutras vezes menos, há uma repetição" das ocorrências, pelo que é "evidente que "a sociedade, em geral, e o dispositivo montado para defender a floresta e as pessoas, não estão a responder".
O director da licenciatura em Engenharia Florestal da UTAD diz acreditar que Pedrógão Grande poderá ser "um ponto de viragem", porque há o risco de "se não percebemos isso, estarmos em causa, até como nação.
"Já não vamos lá com reformazinhas e ideia para polir a realidade. Com toda a humildade, digo que não vamos lá com medidas legislativas Se fosse pela qualidade das leis, punha-se em Diário da República e a República ficava livre de incdendios florestais"
Nesta entrevista, Luís Lopes faz um apelo á sociedade portuguesa, em geral: "Há que ser mais modesto e ter atitudes mais profundas. A sociedade portuguesa tem de definir o que pretende da floresta e o que quer dar, porque os políticos respondem mail aos académicos, mas até respondem à sociedade. Se a sociedade disser que não pode haver este nível de incêndios, estão, terá que dar mais."