Perguntas e respostas sobre as eleições no Reino Unido

Os britânicos vão a votos esta quinta-feira para decidir a formação do próximo Governo, que terá entre mãos as negociações com a Europa para a saída do Reino Unido da União Europeia (UE): o Brexit.

São, por isso, eleições de grande importância em que, inesperadamente, reina a incerteza sobre o resultado final. As sondagens apontam para uma maioria conservadora, mas isso não basta para que Theresa May, que convocou o acto eleitoral, possa cantar vitória.

Porque foram convocadas eleições apenas dois anos depois das últimas legislativas?

Foi a primeira-ministra, Theresa May, que a 18 de Abril convocou o acto eleitoral, justificando-o com a necessidade de o país ter "uma liderança forte" para as negociações com a União Europeia. O mecanismo é conhecido como uma "snap election" - um termo que significa uma eleição "imediata" - e serve principalmente o propósito de reforçar o poder de quem a convoca, desde que haja bastante optimismo no sentido de se obter resultados favoráveis.

No caso dos Conservadores, partido da primeira-ministra, havia uma enorme confiança na obtenção da maioria, o que "refrescaria" a autoridade de Theresa May perante o eleitorado e Bruxelas. As promessas de May vão no sentido de conseguir um acordo vantajoso para o Reino Unido na saída da UE.

Que partidos vão a votos?

Os dois principais partidos são o Partido Conservador, liderado por Theresa May, e o Partido Trabalhista, liderado pelo socialista Jeremy Corbyn. Os Democratas Liberais são tradicionalmente o terceiro partido a nível nacional.

Para além destes, há uma série de partidos que são mais fortes nos outros países que compõem o Reino Unido. O Partido Nacional Escocês, que reivindica a independência da Escócia, tende a vencer naquele país e na Irlanda do Norte os votos costumam dividir-se entre o nacionalista irlandês Sinn Fein, cujos deputados não se fazem representar na Câmara dos Comuns, e os unionistas do Partido Democrático Unionista e do Partido Unionista de Ulster.

O Plaid Cymru é o partido nacionalista do País de Gales. Há ainda outros partidos que costumam marginalmente eleger deputados.

O que dizem as sondagens?

As sondagens apontam para uma vitória dos conservadores de Theresa May. Quando dissolveu o Parlamento, a primeira-ministra tinha uma maioria de 17 deputados. A vitória nas urnas só será verdadeiramente expressiva se essa margem for aumentada. Caso contrário, contará efectivamente como uma derrota para os "Tories". Na altura em que as eleições foram convocadas, May parecia destinada a uma vitória esmagadora.

Entretanto, os conservadores têm descido nas sondagens enquanto os trabalhistas de Corbyn tendem a subir. Uma vitória trabalhista é improvável, mas, caso a diferença entre os dois partidos diminua, May poderá sair enfraquecida, em vez de fortalecida, desta eleição que ela própria convocou.

Depois do desastre das sondagens no referendo do Brexit, as empresas responsáveis estão agora a tentar afinar os seus métodos, o que pode explicar a grande discrepância de projecções.

De que forma o terrorismo está a marcar a campanha?

A campanha ficou marcada por dois ataques terroristas: um em Manchester, à saída de um concerto da norte-americana Ariana Grande, que fez 22 mortos, e outro em Londres (oito mortos).

May pede a revisão da legislação – quer aumentar o poder das autoridades para responder às ameaças terroristas, nem que para isso tenha de mudar as leis sobre direitos humanos. Já Corbyn pediu a demissão da primeira-ministra, acusando-a de ter cortado no número de polícias.

Quando é que haverá resultados?

As urnas estão abertas entre as 7h00 e as 22h00. A eleição realiza-se num dia normal de trabalho, pelo que a flexibilidade de horário é importante para que todos possam ter a oportunidade de votar. As primeiras projecções serão anunciadas logo às 22h00, mas os resultados oficiais levarão ainda várias horas a serem confirmados. É provável que as primeiras contagens de lugares parlamentares sejam somadas pelas 3h00, e que às 4h00 haja uma clara projecção de resultados. Às 6h00 de sexta-feira, saber-se-há o resultado final.

Como funciona o sistema eleitoral no Reino Unido?

As eleições são para a Câmara dos Comuns e o partido que eleger o maior número de deputados será convidado a formar Governo. Caso nenhum partido tenha maioria absoluta poderá ser necessário chegar a um acordo com outro partido, ou outras forças políticas, para poder formar Governo.

Ao contrário do sistema português, o Reino Unido não tem um sistema proporcional. Enquanto em Portugal cada círculo eleitoral elege vários deputados, segundo a proporção de votos que cada partido recebe, no Reino Unido cada círculo eleitoral elege apenas um representante, o que recebe mais votos, num sistema conhecido por "first past the post" (o primeiro a passar a meta, em tradução livre).

Por um lado, isto significa que, em teoria, cada deputado se sente mais ligado aos interesses dos residentes do seu círculo eleitoral (e, tradicionalmente, existe uma grande ligação entre os eleitores e o seu representante). Por outro, um partido pode, em teoria, receber 40% dos votos a nível nacional, mas não ter maioria em qualquer círculo eleitoral e, por isso, não eleger nenhum deputado.

Quantos deputados são necessários para formar maioria?

Na teoria, são necessários 326 deputados, de um total de 650 lugares. Na prática, porém, o número é menor, uma vez que os deputados do Sinn Fein, da Irlanda do Norte, não tomam os lugares para os quais são eleitos na Câmara dos Comuns. Isto deve-se ao facto de ser necessário jurar fidelidade à Rainha, o que os nacionalistas irlandeses se recusam a fazer.

[Notícia actualizada às 16h15]