Tempo
|
A+ / A-

​Pedro Caldeira Cabral: Património da Humanidade "banalizou e desqualificou" o fado

25 mai, 2017 - 20:18

Músico e compositor, que comemora 50 anos de carreira, lamenta que o fado se tenha tornado numa “indústria turística”, o contrário do que deve ser a cultura.

A+ / A-
Pedro Caldeira Cabral. A guitarra é uma rebeldia
Pedro Caldeira Cabral. A guitarra é uma rebeldia

A classificação a Património Cultural e Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, "banalizou e desqualificou" o fado, afirma o músico e compositor Pedro Caldeira Cabral, em entrevista à Renascença.

“O que se passou depois da classificação e da promoção do fado como Património da Humanidade, o efeito acabou por ser exactamente o contrário, foi a banalização. Foi um efeito de desqualificação do instrumento e, por isso, eu acho que hoje estamos na altura de fazer exactamente o mesmo movimento, mas em sentido inverso, que se fez no século XIX”, defende o instrumentista, que comemora 50 anos de carreira.

Pedro Caldeira Cabral lamenta que o fado se tenha tornado numa “indústria turística”, o contrário do que deve ser a cultura.

“O fado está muito padronizado, está muito ligado a uma indústria turística e tornou-se muito uma indústria turística e uma indústria do divertimento, e isso é exactamente aquilo que se opõe à cultura.”

Nesta entrevista à Renascença, o músico e compositor considera que, actualmente, é mais difícil ter uma carreira como solista.

“Eu hoje não toco guitarra portuguesa, eu hoje toco citara portuguesa, porque a subtileza, a procura da qualidade sonora, das capacidades expressivas do instrumento que eu utilizo, com uma música com um repertório que é muito alargado, vem desde o século XVI até ao século XXI, com as minhas mais recentes composições, exigem que eu destaque o instrumento de outra maneira. E, ao contrário do que se possa pensar, hoje é muitíssimo mais difícil em Portugal fazer-se uma carreira solística do que foi para a minha geração”, sublinha.

Pedro Caldeira Cabral comemora meio século de carreira com um concerto, já esgotado, no São Luiz Teatro Municipal, em Lisboa, esta quinta-feira.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vai condecorar o músico Pedro Caldeira Cabral, com o grau de grande oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • couto machado
    29 mai, 2017 porto 18:45
    Então não é mais bonito e melodioso, toda a cantoria sem nexo em inglês e até em francês. aos Guinchos e Grunhidos sem ninguém perceber patavina do que os e as artistas a grunhir e a guinchar ?
  • Antonio Matias.
    27 mai, 2017 Maiorga Alcobaça 15:27
    Como fadista amador, e alguns conhecimentos musicais, estou completamente de acordo com o conteúdo da entrevista do grande Mestre Pedro Caldeira Cabral. Um grande abraço e vivam todos os que tem coragem de dizer a verdade. Viva o bom Fado
  • José Maria Oliveira
    26 mai, 2017 Cascais 18:04
    Sou descendente de uma família que sempre cultivou o fado, tenho 78 anos de idade e além de fadista sou guitarrista profissional. Convivi com a maioria dos grandes nomes do fado e venho agradecer ao Pedro Caldeira Cabral, por expressar os meus sentimentos em relação ao que se está a passar com o fado. Obrigado Pedro.

Destaques V+