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"Vergonha" para uns, "tema prioritário" para o Governo. Há carros eléctricos no Museu dos Coches

25 mai, 2017 - 18:00 • com Lusa

Críticas à nova exposição no Museu dos Coches, condenada pelo Conselho Internacional de Museus, começaram na jornalista Paula Moura Pinheiro e já chegaram ao Twitter. A direcção do museu e a Direcção do Património defendem a “sensibilização para a mobilidade sustentada”.

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O Museu dos Coches, em Lisboa, inaugura esta quinta-feira a VExpo 2017 - Salão Internacional do Veículo Eléctrico, Híbrido e da Mobilidade Inteligente, que coloca automóveis lado a lado com os coches na sala de exposição permanente do museu. A exposição suscitou polémica quando foi criticada na rede social Facebook pela jornalista Paula Moura Pinheiro.

Para a jornalista especializada em cultura, pôr "o Seat Leon ao lado do Coche da Coroação de Lisboa, uma das obras-primas encomendadas por D. João V para o triunfal cortejo da Embaixada ao Papa Clemente XI” revela "falta de visão, de critério, de elevação na gestão do nosso património cultural”.

A juntar-se à crítica da apresentadora do programa “Visita Guiada”, da RTP2, veio esta quinta-feira o museólogo Luís Raposo, presidente do Conselho Internacional de Museus (ICOM).

Onde Moura Pinheiro disse ter tido “vergonha” da exposição “como profissional na área da divulgação cultural do património português”, Raposo diz ser “altamente imprópria” apresentação de automóveis junto de “tesouros nacionais”.

Luís Raposo afirma-se totalmente "contra a mistura de marcas comerciais e venda de produtos comerciais no interior de exposições com peças dos museus". "Existe uma lei que autoriza estes eventos em museus e monumentos, mas há limites que não deveriam ser transpostos, pois provoca uma contaminação. Estas misturas agridem a dignidade do património", sustentou o museólogo.

A directora do Museu Nacional dos Coches, Silvana Bessone, já respondeu às críticas, afirmando esta quinta-feira que estão garantidas as condições de segurança dos coches. "Não houve qualquer queixa" dos visitantes acerca da exposição, garante.

“A exposição está muito interessante, e os visitantes, de todas as idades, estão a gostar. Não há nenhuma queixa de visitantes. Antes pelo contrário. De qualquer modo, é temporário", acrescentou a directora do museu,

Bessone defende que a exposição de automóveis eléctricos visa "mostrar o contraste entre as viaturas históricas e as que serão o futuro".

Por seu lado, a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), a quem compete a autorização da iniciativa, considera que a exposição de automóveis eléctricos, "tratando-se de viaturas não poluentes”, "constitui uma forma de sensibilizar o público para a importância de uma mobilidade sustentada", “um tema inscrito na agenda do Governo português e internacionalmente reconhecido como prioritário".

De acordo com o Regulamento de Utilização de Espaços nos serviços dependentes da DGPC, aprovado no despacho n.º 8356/2014, é possível realizar nestes espaços outras actividades, além das visitas habituais, desde que compatíveis com os seus valores histórico-patrimoniais.

O Museu dos Coches funcionou até 2015 no antigo Picadeiro Real, até à inauguração do novo edifício desenhado pelo arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, galardoado em 2006 com Prémio Pritzker, o chamado “Nobel” da arquitectura.

A DGPC argumenta que "a mostra dos carros eléctricos em pleno espaço museográfico tem por objectivo acentuar o contraste entre a contemporaneidade e o passado” e recorda que, no passado, o museu antigo foi pontualmente cedendo o seu espaço à exibição de novos modelos automóveis, "uma prática que sempre colheu enorme interesse por parte dos visitantes".

O Twitter, naturalmente, não perdeu tempo no acolhimento de uma nova polémica. Diz o utilizador @Vega9000 que, “apesar de gostar do edifício do museu dos coches, automóveis eléctricos ficam lá muito melhor que os próprios coches”.

Já o utilizador @buzz8051 comenta, laconicamente, “museu dos coches transformado em stand”.

O realojamento da colecção de coches para o edifício moderno na frente ribeirinha de Belém já nasceu envolto em polémica. Jorge Barreto Xavier, secretário de Estado da Cultura do Governo PSD/CDS-PP, chegou a ser questionado no parlamento por um deputado da coligação governamental que descreveu o edifício como “mamute branco” e “uma obra de regime”.

Os coches brilham ainda mais na nova casa
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Comentários
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  • Jose Simões
    28 mai, 2017 almada 08:13
    O comercio automóvel e paga bem a este tipo de eventos.Deve ser para ajudar apagar os milhões que custou o edifício.
  • Fausto
    27 mai, 2017 Lisboa 12:39
    Tanta gente preocupada...com as carroças dos tangas...
  • Ricardo Cardoso
    27 mai, 2017 GUIMARAES 10:32
    Não é novo apresentar o passado e o presente (não futuro) juntos, num mesmo contexto. Qual o inconveniente disso? Não vejo nenhum! Pelo contrário, vejo a vantagem de apresentar a quem não conhece, o estado mais evoluído dos veículos actuais, mostrando a capacidade que o engenho humano permitiu já alcançar, face aos antigos. Quanto aos comentários da jornalista Paula Moura Pinheiro, só posso dizer que, neste caso concreto, deu uma demonstração de fraco jornalismo. Ao referir ""o Seat Leon ao lado do Coche da Coroação de Lisboa (...)", ela deveria ter feito um prévio trabalho de investigação, antes de comentar, pois não existe um Seat Leon movido a electricidade, que eu saiba, e embora esteja previsto um já para 2019, não creio que já se encontre no Museu dos Coches...
  • SERGIO MACHADO
    26 mai, 2017 Oeiras 16:34
    Os coches num espaço moderno também é "impróprio" . Ficavam muito melhor num ambiente clássico, como no Museu anterior. E o que é que irão fazer do antigo Museu, com um interior maravilhoso e histórico. Vão vendê-lo a estrangeiros?........
  • Paulo
    26 mai, 2017 lisboa 14:00
    São espantosos os argumentos da dona Bessone: os visitantes gostam e acentua o contraste com a atualidade. Se vender bifanas e balões os vistitantes também vão gostar! É por isso que devemos fazê-lo??? E acha mesmo necessario mostrar o contraste (sendo que propicia uma contaminação das marcas/produtos que já invadem tudo o que tem visibilidade)?? Ou basta olhar para aqueles magníficos exemplares para ficarmos assoberbados com o contraste?? Seria muito mais interessante investir em proporcionar uma viagem mais completa ao passado do que ficar pela constatação do óbvio: que hoje é muito diferente já todos percebemos
  • antónio
    26 mai, 2017 lisboa 10:08
    Não vejo mal nenhum. Não tenho vergonha e até acho interessante.
  • adelino
    25 mai, 2017 lisboa 20:38
    Vergonha sim. Deve ter sido uns copinchas amigos dos amigos assim para o lado dos berloques de E. que querem impingir algo e não sabem como. Veronha sim. Faia todo o sentido que estivesse exposto no MAAT. Isto é palhaçada.

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